O caso de Giovanna Blasi e a discussão sobre saúde mental nas redes sociais
Por Lais Abreu e Maria Eduarda Salgado
O caso de Giovanna Blasi e a discussão sobre saúde mental nas redes sociais
Por Lais Abreu e Maria Eduarda Salgado
Aumento da audiência de casos que envolvem personalidades do mundo do espetáculo pode indicar um ciclo vicioso cujo resultado é a democracia ferida de morte
Por Vitor Faria Silveira
Por Laís Abreu
Caso Larissa Manoela e seus desdobramentos deixam, mais uma vez, clara a necessidade e a urgência de uma educação para a mídia nas escolas
“Gente, o que é isso? Onde é que essa história vai parar? Quando vai parar? E ainda por cima é Dia dos Pais! Se toca, Fantástico! A data é comemorativa, pra celebrar o amor entre pais e filhos, não cabe reportagem sobre uma relação em fase destrutiva como essa da Larissa Manoela”, criticou Sônia.
“Por que não levar ao ar a história linda de Tatá Werneck com os pais, que tanto emocionou no decorrer da semana, quando a atriz completou 40 anos? Sim, a história de Larissa é polêmica, mas não perderia a atualidade se fosse exibida no próximo domingo, mesmo porque, infelizmente, não se sabe quando vai terminar e nem parece que terá um final feliz”.
Por fim a apresentadora completou: “Colocar conflito acima do amor foi um critério muito duvidoso na escolha da matéria! Triste isso”
Por Vitor Faria Silveira
Fenômeno da financeirização de grupos midiáticos, como o caso da Folha de S.Paulo, pode explicar a qualidade cada vez mais deletéria do jornalismo na atualidade
Por: Sarah Faria Santos
Por Maria Eduarda Salgado
No centro do debate sobre os limites do humor e a liberdade de expressão no Brasil, o humorista Léo Lins foi alvo de críticas após ser obrigado por uma juíza a deletar do seu canal um show em que fazia piadas de teor controverso e ofensivo. No entanto, mais do que a atenção voltada para o comediante, é o comportamento de uma plateia conivente que ressalta o problema mais profundo.
O show em questão continha piadas abusivas sobre temas sensíveis como escravidão, perseguição religiosa, minorias, pessoas idosas e com deficiências. A plateia, em sua maioria branca, riu diante de conteúdos que não deveriam ser encarados com humor, revelando, no mínimo, ignorância e insensibilidade diante das graves questões sociais que o país enfrenta. Em uma das falas que mais geraram revolta, Lins tira sarro de “pretos que reclamam por não conseguirem emprego, mas que acham ruim os tempos de escravidão onde eles já nasciam empregados.”
É preocupante que, em pleno século XXI, temas como o desemprego entre a população negra ainda sejam tratados como piada. Em vez de abrir espaço para debates necessários, o conteúdo do show de Léo Lins apenas reforça o apagamento histórico que ocorre no Brasil, permitindo que feridas profundas não sejam devidamente discutidas e superadas.
Ao olharmos para outras nações, como a Alemanha, que enfrentou os seus traumas históricos e fantasmas, e busca ativamente combater, por exemplo, os efeitos do Holocausto, percebemos a diferença gritante. Enquanto lá existe uma lembrança crítica sobre o passado, no Brasil, o genocídio indígena e a escravidão negra ainda são minimizados e tratados como se não fossem causas de injustiças históricas.
A ausência de políticas públicas efetivas e a impunidade dos envolvidos em ditaduras militares também são retratos de um país que falha em reconhecer e enfrentar o seu passado. O apagamento histórico se estende à história preta e nativa do Brasil, onde a população negra e indígena ainda luta por reconhecimento, respeito e indenizações que se fazem necessárias para combater as desigualdades construídas ao longo da história. Mas aqui, na terra do genocídio indígena, a demarcação de terra ainda é visto por muitos como privilégio. Ainda em 2023, as escolas ensinam sobre a catequização dos indígenas como uma interação positiva entre culturas distintas.
Enquanto a Argentina e o Chile, ao longo dos anos fizeram julgamentos históricos e condenaram diversos militares envolvidos nas ditaduras de seus países, e o Uruguai chegou a fazer um ex ditador morrer de velhice na cadeia, a lei que anistia os militares brasileiros fez com que ninguém fosse condenado por nada, que esses processos não só servem para amenizar para o lado de quem deveria pagar, mas também têm como objetivo reescrever a história e, se possível, apagá la. Se na Alemanha negar o Holocausto é um crime que leva a cadeia, por aqui nada acontece com quem homenageia abertamente torturadores. Por vezes, quem o faz é até alçado à presidência.
Discutir indenizações, de fato faz sentido quando se vive em um país onde a sua fortuna foi construída sobre mãos escravizadas durante 2/3 de sua história, seja o trabalho escravo ou o condicionamento de subemprego da população preta de hoje em dia, ambos têm a ver com a geração de riquezas. Portanto, é justo o debate econômico quando até tirar sarro da pobreza preta faz o humorista rico.
Não se trata, portanto, de censurar o humor ou a liberdade de expressão, mas sim de questionar o tipo de humor que perpetua o preconceito e reforça estereótipos, ignorando a realidade de tantas pessoas que ainda sofrem com as consequências de um passado marcado por violência e opressão.
O debate sobre os problemas históricos do Brasil deve ser constante, incômodo e insistente. Quando evitamos enfrentar essas questões, permitimos que elas se perpetuem e, pior ainda, que sejam tratadas com graça. Léo Lins é apenas um exemplo do sintoma de um problema maior que necessita de reflexão e ação da sociedade como um todo.
Portanto, cabe a todos nós, cidadãos e mídia, a responsabilidade de discutir e confrontar os problemas do nosso passado e presente. A liberdade de expressão é importante, mas deve caminhar lado a lado com a responsabilidade social e o respeito pelas vítimas da nossa história.
Neste sentido, é fundamental que a sociedade brasileira se questione sobre como pode contribuir para mudar esse cenário, ampliar a conscientização e construir um país mais justo e igualitário para todos os seus cidadãos.
Por Vitor Faria Silveira
Manifestações foram iniciadas devido a revolta contra o aumento da passagem do transporte público e se transformaram em um movimento que não se via desde as Diretas Já
Os protestos tiveram início após o prefeito de São Paulo na época e atual ministro da Fazenda Fernando Haddad anunciar o aumento na passagem do transporte público na cidade. O movimento era composto, majoritariamente por estudantes e jovens que reivindicavam o retorno do preço da passagem ao preço anterior. O chefe do executivo municipal paulista não se intimidou com a insatisfação dos manifestantes e manteve o novo valor do transporte público.
A insatisfação contra o preço da passagem do transporte público deixou de ser apenas essa insatisfação e ganhou outros contornos, adesão, e repressão, repercutiu no estado e no Brasil. A partir daí, Haddad e outros prefeitos pelo Brasil reduziram as tarifas, mas elas já não eram a única pauta: a insatisfação se virou para os gastos com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a precariedade da educação, saúde, segurança e outros serviços públicos. A política dos governos do Partido dos Trabalhadores causava ali o fim da paciência com a precariedade do serviço público frente às regalias que a FIFA recebia do governo brasileiro para que a entidade pudesse realizar suas competições.
A revolta acontecia no mesmo mês em que a Copa das Confederações, evento teste para a Copa do Mundo que viria a ocorrer no ano seguinte. Durante uma das partidas do torneio, que estava acontecendo no Mineirão, em Belo Horizonte, era possível ouvir o som das bombas que a polícia lançava contra os manifestantes no confronto que ocorria no exterior do estádio. Naquele momento os protestos tomaram conta do país.
Foram intensos combates entre manifestantes, muitos deles, da ala mais radical na esquerda brasileira e militantes do próprio PT, e polícia, por várias capitais e cidades do interior do Brasil. Vários manifestantes foram feridos e presos, com alguns, até hoje, na prisão.
As jornadas de 2013 tornaram motivo para que o público que estava nos estádios acompanhando os jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo de 2014 também saísse às ruas para protestar contra os governos do PT. Todavia as pautas das manifestações que ocorreram a partir de 2014 eram outras: a corrupção e a política do “Toma lá dá cá”.
Os protestos entre 2014 e 2016 ganharam tons de verde e amarelo contra o “vermelho do PT”. As “pedaladas fiscais” foram o mote para a construção de uma narrativa que culminaria, em 2016, a partir da mobilização de forças à direita, com o processo de impedimento de Dilma Rousseff. Esse era o menor dos problemas que gerava revolta da população de classe média, que detinha a corrupção atávica como única pauta de desagrado contra o Partido dos Trabalhadores.
No ano e no mês em que se completam dez anos do início da insurgência contra a política brasileira, a mídia tradicional brasileira deu a sua abordagem sobre os movimentos que ocasionaram tudo que se viu no país na última década.
A Folha de S.Paulo, sob a batuta da jornalista, mestre em Ciência Política e coordenadora do Pacto Pela Democracia, Flávia Pellegrino, explica que as jornadas de 2013 foram uma jornada de contradições e que o movimento foi um desperdício de um momento raro para enfrentar os desafios da democracia. A jornalista aponta que 2013 não gerou uma grande reforma política, apesar da transformação incontestável da estrutura política do país.
O portal G1, por meio das jornalistas Andréia Sadi, Natuza Nery e Júlia Duailibi, pontua como a esquerda brasileira perdeu as ruas como seu espaço às manifestações para cedê-las à direita, ao bolsonarismo e ao culto à operação Lava Jato.
O Estadão mostra como as jornadas de 2013 deram fim à “Nova República” para promover o surgimento da “República Digital” com a guinada do ex-deputado federal e, agora, ex-presidente da República Jair Bolsonaro nas redes sociais, se espelhando no ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O jornal faz uma linha do tempo contando todo o desenrolar dos fatos ocorridos na última década até a terceira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República.
Por sua vez, o jornal O Globo aponta que as jornadas de 2013 marcaram a política brasileira e ainda são um enigma de interpretações diversas devido a disputa contínua por seus sentidos. Os atos daquele movimento são encarados, de acordo com o jornal, como uma encruzilhada de forças políticas, da esquerda à extrema direita, que impulsionaram crises e diversos desdobramentos.
Para nós do Pluris, a despeito de constatar que a mídia corporativa brasileira representa apenas uma porção da sociedade brasileira, entendemos que ela ou qualquer outra que tente cravar o que representou e ainda representa aqueles dias intensos estará fatalmente sob erro. Pois entendemos que as “jornadas”, se foram um rasgo histórico inequívoco, ainda não terminaram - pois, devemos aprender, eventos com tamanho potencial de transformação não podem ser compreendidos e seus desdobramentos observados se não no longo processo histórico.
Por isso, o Pluris não tem dúvida em afirmar: é muito cedo ainda para indicar os perdedores ou os vencedores que saíram das jornadas de junho de 2013, passados apenas 10 anos de sua eclosão. Seguimos observando seus desdobramento no dia-a-dia da midia e dos movimentos civis brasileiros.
Por Vitor Faria Silveira
Apesar da repercussão global do poderoso discurso de Lula para uma multidão na França, o silêncio da mídia corporativa brasileira é ensurdecedor e revela o tamanho desse personagem para a história
A imprensa brasileira, especialmente a corporativa, ligada aos tradicionais e oligopolizados grupos de mídia no Brasil - mas também a mídia identificada como “independente” e “de esquerda” - pouco repercutiram o alcance histórico do discurso de Lula.
O portal Poder 360 citou a falta de informações de Lula sobre o motim provocado pelo Grupo Wagner contra o presidente russo Vladimir Putin. O UOL também abordou o não comentário de Lula sobre o motim. O independente jornal Brasil de Fato seguiu pelo mesmo caminho. O portal G1 repercutiu o cancelamento da reunião do presidente brasileiro com o príncipe da Arábia Saudita. A Jovem Pan publicou que Lula e a Primeira-Dama Janja da Silva receberam 231 presentes desde o início do mandato do governo do petista. A CNN chegou a publicar que jornal francês chamou presidente brasileiro de “decepcionante” e mostrou que é “falso amigo” do ocidente.
A imprensa brasileira não percebeu que o discurso de Lula estabelece ligação entre o combate à pobreza com o combate às mudanças climáticas. O chefe do poder executivo brasileiro destaca que não se pode aceitar promover um clima global agradável à humanidade e permitir que o contingente de pessoas em situação de pobreza extrema continue aumentando.
A fala durante o festival coloca Lula no espaço deixado por Fidel Castro como líder do chamado “Terceiro Mundo”. Espaço esse que era a de um líder da esquerda e centro-esquerda mundial. O posicionamento mostra que Lula deseja promover o desenvolvimento sustentável dos países pobres e emergentes e que o Brasil pode ajudar os mesmos a chegarem nessa meta. O discurso comprova ainda um maior cacife e legitimidade ao brasileiro devido a sua vitória democrática nas eleições de 2022.
No final do século XX, a academia brasileira esperava que esse espaço fosse ocupado por Fernando Henrique Cardoso. Todavia o que houve foi exatamente o contrário. FHC baixou a cabeça para o neoliberalismo que estava se instaurando no Brasil ao promover uma onda de privatizações que diminuiu a capacidade do estado de dar assistência aos necessitados e aumentar o capital da elite econômica brasileira.
A displicência da imprensa brasileira quanto a esse marco histórico comprova a futilidade da imprensa em se concentrar em temas que não são do interesse público. Tal fato mostra que o jornalismo brasileiro não alcança a tarefa ética de organizar os acontecimentos em conformidade a sua relevância social. Seja por razões ideológicas ou com incapacidade técnica, a displicência da mídia brasileira neste momento não deixará de ser cobrada pela história.
Por Laís Abreu
A desigualdade grita. A vida é injusta. O jornalismo também tem sido. E a conclusão que temos é que morrer no mar é sempre aterrorizante e frio.
A relação umbilical entre capitalismo financeiro internacional e mídia corporativa, inclusive a brasileira, é um processo que acontece há mais de 40 anos, mas somente nos últimos 20 anos se intensificou
Por Vitor Faria Silveira
A imprensa brasileira passou por muitas mazelas durante o regime militar, que perdurou entre 1964 e 1985. Após o estabelecimento do AI-5 em 1968, a ditadura militar restringiu ainda mais o que a imprensa brasileira poderia produzir. o Jornalista Vladimir Herzog, preso e morto por agentes da ditadura militar em 1975, é um caso bastante emblemático do que o período militar foi capaz de fazer com os profissionais de mídia daquela época.
Após 21 anos de regime militar e com os movimentos sociais ocupando as ruas do país para reivindicar a volta da democracia, a ditadura se encerrou com as Diretas Já, reestabelecendo o processo democrático eleitoral no país. O problema é que o legado da truculência autoritária do período não foi apenas político. Ao final da ditadura, o Brasil tinha sua economia completamente estraçalhada.
O Brasil começou o processo de desindustrialização do país no início dos anos 1980, com a introdução do neoliberalismo na política econômica brasileira. O mercado financeiro foi introduzido no país para redefinir o novo modo de produção que se tornaria o predominantemente adotado pela elite nacional. O modelo fordista de produção estava ficando para trás para dar lugar ao processo de produção por demanda. Nessa transição, os grandes conglomerados de mídia migraram para esse modelo.
A elite industrial, que produzia seu lucro a partir da produção de mercadoria de suas fábricas, colocou suas empresas no mercado financeiro e passaram a expropriar o lucro a partir da especulação da bolsa de valores. Com os conglomerados de mídia o processo não foi diferente. Esses grupos, que hoje detêm empresas de produção de produtos financeiros em suas composições e que são ações negociadas e vendidas no mercado financeiro, também detêm a expropriação da mais valia através da especulação da bolsa de valores ou da compra de títulos da dívida pública.
O mercado financeiro, do qual alguns conglomerados de mídia fazem parte, principalmente Grupos Globo e Folha e seus braços financistas, possui uma agenda que costuma estar alinhada com a de políticos de direita e não raro de extrema direita. Esses grupos endossam uma ideia liberal para poderem obterem lucro com através de serviços que deveriam ser promovidos pelo Estado através da arrecadação de impostos.
Além do pensamento liberal, o mercado financeiro detém grande parte do financiamento da dívida pública com o Tesouro Nacional. É através da compra de títulos da dívida que advém boa parte da renda dos aplicadores do mercado financeiro. Aplicar capital em títulos da dívida pública é um investimento de segurança em renda fixa que muitos investidores apostam para obter seus lucros. A imprensa tradicional é um meio de grande utilidade para economistas do mercado financeiro e jornalistas econômicos que atuam em favor do mercado financeiro.
A mídia tradicional ou corporativa (leia-se Grupos Estadão, Folha, Globo e entre outros) é parte do mercado financeiro e dá voz aos porta-vozes do mercado. Por isso e por serem grupos compostos, em parte, por empresas que produzem produtos financeiros, que vemos cada vez mais economistas, analistas e outros profissionais do mercado financeiro tem participação cada vez maior nas colunas e editorias dos maiores jornais do país e nos telejornais diários das emissoras (Globo).
O jornalismo, que deveria ser a escola do cidadão e escola de cidadania para os indivíduos da sociedade, com a financeirização da economia e da mídia tradicional, tornou-se uma atividade de defesa do capitalismo financeiro e improdutivo. Faz-se necessário, através de um entendimento maior, através do estudo, da politização e de uma democracia mais participativa, que o país possa promover uma reindustrialização para puxar a educação a uma melhor qualidade para produzir melhores profissionais, cidadãos e sociedade politizada.
Mas, ainda mais urgente, é instrumentalizar a sociedade para essa reeducação - e isso é papel da mídia e muito especialmente do jornalismo. Em outras palavras: se desejamos vislumbrar algum traço de democracia no futuro, precisamos, atores de mídia, incluindo jornalistas, excluídos dos grandes grupos corporativos, nos movimentarmos para fazermos cumprir o desígnio da comunicação como direito e do jornalismo como um pilar para a democracia.