segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Jornalismo sitiado

 Por Vitor Faria Silveira

Fenômeno da financeirização de grupos midiáticos, como o caso da Folha de S.Paulo, pode explicar a qualidade cada vez mais deletéria do jornalismo na atualidade


Não é de hoje que o jornalismo brasileiro está em um processo de decadência. A financeirização do capital, a principal face do neoliberalismo, que veio como uma “onda” arrasadora sobre a economia brasileira nos anos 1980 e que perdura até hoje devido ao próprio neoliberalismo, é um fenômeno que pode explicar como o jornalismo praticado no Brasil deixou de ser uma atividade feita em boa qualidade, com privilégio do interesse público para se tornar uma atividade voltada para a geração de lucro.

Para alcançar esse objetivo, a Folha de S.Paulo recorre a sua transformação em “panfleto” do mercado financeiro, pregação do pessimismo e espraiamento do identitarismo. Jornalistas experientes e qualificados saíram de cena do jornal para dar lugar a profissionais medíocres que produzem matérias e colunas deploráveis para o veículo.

Figura 1: texto da coluna do filósofo Luiz Felipe Pondé/Folha de São Paulo


Jornalistas qualificados e experientes, com longos anos de trabalho dedicado a um dos maiores e por muitos anos o mais importante veículo de mídia do Brasil, foram demitidos ou deixaram o jornal devido à decadência - moral e técnica - da Folha. Os últimos bons profissionais, sejam eles jornalistas ou não, que ainda permanecem no jornal, ficam “escondidos” no seu caderno diário. Boas matérias e outros conteúdos que realmente valem a pena serem consumidos ficam ofuscados pelo conteúdo de quem realmente possui maior espaço dentro do jornal – os produtores de conteúdo para o público que vive na bolha da Folha de S.Paulo.


Figura 2: Matéria sobre Lula no Dia dos Pais/Instagram Folha de SP

Há dois meses atrás, o jornal fez uma publicidade em que dizia: “Assine a Folha e saia da bolha”. Foi um ledo engano. Quando o leitor lê o jornal se depara com identitarismo, neoliberalismo, pessimismo e erros. Um conteúdo feito para um nicho específico – identitários, mercado financeiro, classe média que não tem esperança em nada e um monte de “profissionais” que cometem equívocos e conteúdos pífios, com o único objetivo de vender conteúdo para esse nicho.

O jornal também protagonizou episódios de grande desrespeito - e igual constrangimento - com figuras que acabaram de falecer, em 2023, Palmirinha e Rita Lee. Em ambas as oportunidades, o veículo publicou sobre momentos traumáticos sobre ambas, desrespeitando o passado das artistas e expondo o identitarismo do jornal e os problemas pessoais delas, mesmo após seus falecimentos.


Figura 3: Folha de São Paulo noticia passado com drogas da cantora Rita Lee/Poder 360


Figura 4: Folha de São Paulo noticia passado de agressões da apresentadora Palmirinha



O identitarismo, a financeirização e o neoliberalismo são produtos da plataformização do jornalismo, caracterizado pela produção massiva de conteúdo para determinado tipo de público para obter o número necessário de acessos para aumentar o capital do veículo para remunerar seus acionistas. Esse processo não demanda que o veículo produza um material de boa qualidade para alcançar a quantidade de acessos.

Para “salvar” o público que consome esse tipo de conteúdo jornalístico, faz-se necessário municiá-lo de instrumentos que permita-o fazer uma análise crítica para que esse consumo diminua e interrompa esse ciclo vicioso, cujo resultado - e talvez única finalidade - e a indecente acumulação de capital por meio do que agora se convencionou chamar de plataformização - mas que não passa da última fronteira, despida de qualquer ilusão de moralidade ou espírito público, da religião do dinheiro.
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segunda-feira, 21 de agosto de 2023

O crescente e contínuo ataque à liberdade de imprensa: o portal Vocativo e o autoritarismo por meio de ações judiciais

 Por: Sarah Faria Santos

O portal Vocativo , criado em 2008 com a finalidade de publicar notícias e reportagens sobre a conjuntura política e ciência com base de atuação em Manaus, no Amazonas, e comandado pelo jornalista Fred Santana, está sendo alvo de uma ação judicial movida pela deputada estadual Joana Darc dos Santos Cordeiro, do partido União Brasil.

Joana Darc, cumpre seu segundo mandato como deputada estadual do Amazonas. Nas eleições de 2022, Joana foi reeleita como a mulher mais votada na história do Estado. Seguindo seus princípios e pilares, o portal publicou notícias sobre a parlamentar as quais eram de interesse público e relataram o apoio da deputada Joana Darc ao influenciador Agenor Tupinambá o qual estava atrelado a uma série de polêmicas e crimes ambientais cometidos pelo seu avô.

A deputada entrou em contato com o jornalista pedindo que sua imagem não fosse veiculada em uma reportagem e foi atendida. Mesmo com a alteração da imagem e sua retirada de todas as redes sociais, a deputada decidiu processar o jornalista e o veículo, pedindo a exclusão da reportagem, uma indenização por danos morais e a proibição de novas publicações.

No centro do debate sobre os limites da liberdade de expressão, o uso do poder judiciário para reprimi-la está cada vez maior Entretanto, essa repressão está respingando na liberdade de imprensa e seus direitos constitucionais, fazendo com que os jornalistas tenham crescentemente nos últimos anos seus espaços silenciados e atacados.

Todo jornalista tem deveres a cumprir para com a sociedade assim como direitos respaldados juridicamente, segundo o código de ética dos jornalistas: no capítulo 1, artigo 2, o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse. Isso se dá pela razão da informação precisa e correta, a qual é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica - se pública, estatal ou privada - e da linha política de seus proprietários e/ou diretores.

Já no capítulo 2, artigo 6, é dever do jornalista: opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos; divulgar os fatos e as informações de interesse público; defender o livre exercício da profissão; combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com o objetivo de controlar a informação. A ação movida pela parlamentar é muito mais do que um simples processo, é uma tentativa de infringir a liberdade de imprensa, de impor autoritarismo e controlar a informação.

Mesmo que o profissional e o veículo de imprensa estejam cumprindo com os deveres de cuidado do jornalismo e se retratando quando necessário, pessoas influentes utilizam de processos judiciais buscando a censura e a intimidação. Como uma deputada, uma servidora pública, é de interesse social saber sobre seu mandato. O que ela está se propondo a fazer e como está gastando o seu tempo, seu nome/espaço dado e o dinheiro público. O jornalista não extrapolou o limite legal, não a assediou moralmente ou a amputou a falsas notícias. Ele estava em seu espaço propagando notícias precisas e de importante precedência para a população e é nosso dever como jornalistas lutar não só pela voz do povo como pela nossa própria voz e pelo nosso próprio espaço.

Em nome do interesse público, o jornalista quase sempre contraria interesses privados de poderosos. Se o poder judiciário não encontrar um termo justo para aplicação da lei e continuar a censurar inclusive notícias apuradas, não é apenas o jornalismo que está a perigo: é a própria democracia.
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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Humor, liberdade de expressão e o apagamento histórico no Brasil: Léo Lins e a banalização do preconceito

 Por Maria Eduarda Salgado 


No centro do debate sobre os limites do humor e a liberdade de expressão no Brasil, o humorista Léo Lins foi alvo de críticas após ser obrigado por uma juíza a deletar do seu canal um show em que fazia piadas de teor controverso e ofensivo. No entanto, mais do que a atenção voltada para o comediante, é o comportamento de uma plateia conivente que ressalta o problema mais profundo.


O show em questão continha piadas abusivas sobre temas sensíveis como escravidão, perseguição religiosa, minorias, pessoas idosas e com deficiências. A plateia, em sua maioria branca, riu diante de conteúdos que não deveriam ser encarados com humor, revelando, no mínimo, ignorância e insensibilidade diante das graves questões sociais que o país enfrenta. Em uma das falas que mais geraram revolta, Lins tira sarro de “pretos que reclamam por não conseguirem emprego, mas que acham ruim os tempos de escravidão onde eles já nasciam empregados.”


É preocupante que, em pleno século XXI, temas como o desemprego entre a população negra ainda sejam tratados como piada. Em vez de abrir espaço para debates necessários, o conteúdo do show de Léo Lins apenas reforça o apagamento histórico que ocorre no Brasil, permitindo que feridas profundas não sejam devidamente discutidas e superadas.


Ao olharmos para outras nações, como a Alemanha, que enfrentou os seus traumas históricos e fantasmas, e busca ativamente combater, por exemplo, os efeitos do Holocausto, percebemos a diferença gritante. Enquanto lá existe uma lembrança crítica sobre o passado, no Brasil, o genocídio indígena e a escravidão negra ainda são minimizados e tratados como se não fossem causas de injustiças históricas.


A ausência de políticas públicas efetivas e a impunidade dos envolvidos em ditaduras militares também são retratos de um país que falha em reconhecer e enfrentar o seu passado. O apagamento histórico se estende à história preta e nativa do Brasil, onde a população negra e indígena ainda luta por reconhecimento, respeito e indenizações que se fazem necessárias para combater as desigualdades construídas ao longo da história. Mas aqui, na terra do genocídio indígena, a demarcação de terra ainda é visto por muitos como privilégio. Ainda em 2023, as escolas ensinam sobre a catequização dos indígenas como uma interação positiva entre culturas distintas.


Enquanto a Argentina e o Chile, ao longo dos anos fizeram julgamentos históricos e condenaram diversos militares envolvidos nas ditaduras de seus países, e o Uruguai chegou a fazer um ex ditador morrer de velhice na cadeia, a lei que anistia os militares brasileiros fez com que ninguém fosse condenado por nada, que esses processos não só servem para amenizar para o lado de quem deveria pagar, mas também têm como objetivo reescrever a história e, se possível, apagá la. Se na Alemanha negar o Holocausto é um crime que leva a cadeia, por aqui nada acontece com quem homenageia abertamente torturadores. Por vezes, quem o faz é até alçado à presidência.


Discutir indenizações, de fato faz sentido quando se vive em um país onde a sua fortuna foi construída sobre mãos escravizadas durante 2/3 de sua história, seja o trabalho escravo ou o condicionamento de subemprego da população preta de hoje em dia, ambos têm a ver com a geração de riquezas. Portanto, é justo o debate econômico quando até tirar sarro da pobreza preta faz o humorista rico.


Não se trata, portanto, de censurar o humor ou a liberdade de expressão, mas sim de questionar o tipo de humor que perpetua o preconceito e reforça estereótipos, ignorando a realidade de tantas pessoas que ainda sofrem com as consequências de um passado marcado por violência e opressão.


O debate sobre os problemas históricos do Brasil deve ser constante, incômodo e insistente. Quando evitamos enfrentar essas questões, permitimos que elas se perpetuem e, pior ainda, que sejam tratadas com graça. Léo Lins é apenas um exemplo do sintoma de um problema maior que necessita de reflexão e ação da sociedade como um todo.


Portanto, cabe a todos nós, cidadãos e mídia, a responsabilidade de discutir e confrontar os problemas do nosso passado e presente. A liberdade de expressão é importante, mas deve caminhar lado a lado com a responsabilidade social e o respeito pelas vítimas da nossa história.


Neste sentido, é fundamental que a sociedade brasileira se questione sobre como pode contribuir para mudar esse cenário, ampliar a conscientização e construir um país mais justo e igualitário para todos os seus cidadãos.

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segunda-feira, 31 de julho de 2023

Jornadas de junho de 2013: os dez anos do movimento sob a abordagem da mídia tradicional

 Por Vitor Faria Silveira

Manifestações foram iniciadas devido a revolta contra o aumento da passagem do transporte público e se transformaram em um movimento que não se via desde as Diretas Já

As jornadas de junho de 2013 completaram dez anos em 2023. O movimento, que se iniciou como uma insatisfação contra o aumento da passagem do transporte público em São Paulo, se transformou em uma onda de protestos contra a política brasileira que se espraiou pelo Brasil. O movimento tomou proporções que não se via desde as Diretas Já.

Protesto em São Paulo em junho de 2003, em que manifestantes levam faixa onde estão escritas as palavras 'contra a tarifa'

Os protestos tiveram início após o prefeito de São Paulo na época e atual ministro da Fazenda Fernando Haddad anunciar o aumento na passagem do transporte público na cidade. O movimento era composto, majoritariamente por estudantes e jovens que reivindicavam o retorno do preço da passagem ao preço anterior. O chefe do executivo municipal paulista não se intimidou com a insatisfação dos manifestantes e manteve o novo valor do transporte público.

A insatisfação contra o preço da passagem do transporte público deixou de ser apenas essa insatisfação e ganhou outros contornos, adesão, e repressão, repercutiu no estado e no Brasil. A partir daí, Haddad e outros prefeitos pelo Brasil reduziram as tarifas, mas elas já não eram a única pauta: a insatisfação se virou para os gastos com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a precariedade da educação, saúde, segurança e outros serviços públicos. A política dos governos do Partido dos Trabalhadores causava ali o fim da paciência com a precariedade do serviço público frente às regalias que a FIFA recebia do governo brasileiro para que a entidade pudesse realizar suas competições.

A revolta acontecia no mesmo mês em que a Copa das Confederações, evento teste para a Copa do Mundo que viria a ocorrer no ano seguinte. Durante uma das partidas do torneio, que estava acontecendo no Mineirão, em Belo Horizonte, era possível ouvir o som das bombas que a polícia lançava contra os manifestantes no confronto que ocorria no exterior do estádio. Naquele momento os protestos tomaram conta do país.

Foram intensos combates entre manifestantes, muitos deles, da ala mais radical na esquerda brasileira e militantes do próprio PT, e polícia, por várias capitais e cidades do interior do Brasil. Vários manifestantes foram feridos e presos, com alguns, até hoje, na prisão.

As jornadas de 2013 tornaram motivo para que o público que estava nos estádios acompanhando os jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo de 2014 também saísse às ruas para protestar contra os governos do PT. Todavia as pautas das manifestações que ocorreram a partir de 2014 eram outras: a corrupção e a política do “Toma lá dá cá”.

Os protestos entre 2014 e 2016 ganharam tons de verde e amarelo contra o “vermelho do PT”. As “pedaladas fiscais” foram o mote para a construção de uma narrativa que culminaria, em 2016, a partir da mobilização de forças à direita, com o processo de impedimento de Dilma Rousseff.  Esse era o menor dos problemas que gerava revolta da população de classe média, que detinha a corrupção atávica como única pauta de desagrado contra o Partido dos Trabalhadores.

No ano e no mês em que se completam dez anos do início da insurgência contra a política brasileira, a mídia tradicional brasileira deu a sua abordagem sobre os movimentos que ocasionaram tudo que se viu no país na última década.

A Folha de S.Paulo, sob a batuta da jornalista, mestre em Ciência Política e coordenadora do Pacto Pela Democracia, Flávia Pellegrino, explica que as jornadas de 2013 foram uma jornada de contradições e que o movimento foi um desperdício de um momento raro para enfrentar os desafios da democracia. A jornalista aponta que 2013 não gerou uma grande reforma política, apesar da transformação incontestável da estrutura política do país.

O portal G1, por meio das jornalistas Andréia Sadi, Natuza Nery e Júlia Duailibi, pontua como a esquerda brasileira perdeu as ruas como seu espaço às manifestações para cedê-las à direita, ao bolsonarismo e ao culto à operação Lava Jato.

O Estadão mostra como as jornadas de 2013 deram fim à “Nova República” para promover o surgimento da “República Digital” com a guinada do ex-deputado federal e, agora, ex-presidente da República Jair Bolsonaro nas redes sociais, se espelhando no ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O jornal faz uma linha do tempo contando todo o desenrolar dos fatos ocorridos na última década até a terceira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República.

Por sua vez, o jornal O Globo aponta que as jornadas de 2013 marcaram a política brasileira e ainda são um enigma de interpretações diversas devido a disputa contínua por seus sentidos. Os atos daquele movimento são encarados, de acordo com o jornal, como uma encruzilhada de forças políticas, da esquerda à extrema direita, que impulsionaram crises e diversos desdobramentos.

Para nós do Pluris, a despeito de constatar que a mídia corporativa brasileira representa apenas uma porção da sociedade brasileira, entendemos que ela ou qualquer outra que tente cravar o que representou e ainda representa aqueles dias intensos estará fatalmente sob erro. Pois entendemos que as “jornadas”, se foram um rasgo histórico inequívoco, ainda não terminaram - pois, devemos aprender, eventos com tamanho potencial de transformação não podem ser compreendidos e seus desdobramentos observados se não no longo processo histórico.

Por isso, o Pluris não tem dúvida em afirmar: é muito cedo ainda para indicar os perdedores ou os vencedores que saíram das jornadas de junho de 2013, passados apenas 10 anos de sua eclosão. Seguimos observando seus desdobramento no dia-a-dia da midia e dos movimentos civis brasileiros.


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segunda-feira, 3 de julho de 2023

Lula e a esfinge

 Por Vitor Faria Silveira

Apesar da repercussão global do poderoso discurso de Lula para uma multidão na França, o silêncio da mídia corporativa brasileira é ensurdecedor e revela o tamanho desse personagem para a história

Na penúltima semana de junho, o presidente Luís Inácio Lula da Silva esteve em viagem pela Europa para se encontrar com líderes do bloco europeu . Durante sua passagem pela França, o presidente brasileiro esteve presente na cúpula europeia para o financiamento global e discursou em um festival de música que objetiva lembrar a luta pelo combate ao aquecimento global e ao combate à pobreza. O presidente compareceu ao evento após convite feito pela banda britânica Coldplay, que realizou uma turnê pelo Brasil em 2023.

Lula discursa em Festival em Paris/ Foto: Partido dos Trabalhadores

No evento, Lula fez um discurso para quase 100 mil pessoas que compareceram ao evento, na Cham de Mars, aos pés da torre Eiffel. Em sua fala, o presidente brasileiro mencionou o combate ao desmatamento na Amazônia, destacou o combate à pobreza extrema nos continentes africano e América Latina, além de criticar Estados Unidos e Europa por causa das mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global. Lula afirmou que o problema teve origem na revolução industrial e também disse que os países desenvolvidos deveriam financiar o combate ao problema ambiental e a pobreza extrema para reparar os prejuízos ambientais causados pela revolução.

Por fim, o presidente também citou que o mundo não pode combater as mudanças climáticas sem combater a desigualdade social. Lula afirmou que não foram os povos africanos e latino-americanos que provocaram o aquecimento global, mas são eles os principais afetados pelo desequilíbrio do clima. No final de seu discurso, Lula convidou todos os presentes no festival para comparecerem na COP-30, a conferência global que será realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Belém, em 2025 e disse que é hora de haver um protagonismo mundial para assumir essas responsabilidades, criticando os fracassos ocorridos pelos acordos firmados em reuniões passadas para conter o avanço do aquecimento global.

A imprensa brasileira, especialmente a corporativa, ligada aos tradicionais e oligopolizados grupos de mídia no Brasil - mas também  a mídia identificada como “independente” e “de esquerda” - pouco repercutiram o alcance histórico do discurso de Lula. 

O portal Poder 360 citou a falta de informações de Lula sobre o motim provocado pelo Grupo Wagner contra o presidente russo Vladimir Putin. O UOL também abordou o não comentário de Lula sobre o motim. O independente jornal Brasil de Fato seguiu pelo mesmo caminho.  O portal G1 repercutiu o cancelamento da reunião do presidente brasileiro com o príncipe da Arábia Saudita. A Jovem Pan publicou que Lula e a Primeira-Dama Janja da Silva receberam 231 presentes desde o início do mandato do governo do petista. A CNN chegou a publicar que jornal francês chamou presidente brasileiro de “decepcionante” e mostrou que é “falso amigo” do ocidente.

A imprensa brasileira não percebeu que o discurso de Lula estabelece ligação entre o combate à pobreza com o combate às mudanças climáticas. O chefe do poder executivo brasileiro destaca que não se pode aceitar promover um clima global agradável à humanidade e permitir que o contingente de pessoas em situação de pobreza extrema continue aumentando.  

A fala durante o festival coloca Lula no espaço deixado por Fidel Castro como líder do chamado “Terceiro Mundo”. Espaço esse que era a de um líder da esquerda e centro-esquerda mundial. O posicionamento mostra que Lula deseja promover o desenvolvimento sustentável dos países pobres e emergentes e que o Brasil pode ajudar os mesmos a chegarem nessa meta. O discurso comprova ainda um maior cacife e legitimidade ao brasileiro devido a sua vitória democrática nas eleições de 2022. 

No final do século XX, a academia brasileira esperava que esse espaço fosse ocupado por Fernando Henrique Cardoso. Todavia o que houve foi exatamente o contrário. FHC baixou a cabeça para o neoliberalismo que estava se instaurando no Brasil ao promover uma onda de privatizações que diminuiu a capacidade do estado de dar assistência aos necessitados e aumentar o capital da elite econômica brasileira.

A displicência da imprensa brasileira quanto a esse marco histórico comprova a futilidade da imprensa em se concentrar em temas que não são do interesse público. Tal fato mostra que o jornalismo brasileiro não alcança a tarefa ética de organizar os acontecimentos em conformidade a sua relevância social. Seja por razões ideológicas ou com incapacidade técnica, a displicência da mídia brasileira neste momento não deixará de ser cobrada pela história.


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domingo, 2 de julho de 2023

Dois pesos, duas medidas: a cobertura midiática diante do submarino de bilionários e do navio de imigrantes

 Por Laís Abreu 


Por que a imprensa liga mais para a viagem de luxo de ricos do que para os refugiados no mediterrâneo? 


Nos últimos dias, o mundo vivenciou o desaparecimento do submarino Titan, que carregava quatro passageiros e um piloto em uma viagem turística  em direção ao fundo do mar para observar os escombros do Titanic. No entanto, o que nos choca aqui no Pluris é que, uma semana antes, 78 imigrantes oriundos de Afeganistão e Paquistão morreram em um acidente com um pesqueiro no Mediterrâneo. Eles tentavam fugir do Talibã e do Daesh em busca de uma nova vida na Europa. Segundo investigações, foram vítimas de negligência do estado grego, que demorou para agir no resgate. 

É claro que a inusitada história do submarino fez com que o público clicasse com voracidade nas matérias: as condições eram péssimas, a viagem custou uma fortuna (US$ 250 mil ou R$ 1,2 mi por cabeça) e seus passageiros eram bilionários. Na mídia, houve até contagem regressiva em relação a quantidade de oxigênio, que se reduzia conforme os dias iam passando. Para as buscas, foram mobilizados aviões, barcos, satélites e submarinos. Após o tempo esgotado, a Guarda Costeira americana informou que foram encontrados fragmentos do submersível, depois de ocorrer uma implosão. 

É importante observar, contudo, que dias antes os mesmos meios de comunicação que correram para essa divulgação não cumpriram o seu papel de alerta e de pressão sobre o governo, quando centenas de imigrantes desesperados enviavam mensagens SMS como pedido de socorro. Embora fosse possível salvá-los do afogamento, as autoridades deixaram-nos propositalmente findar no mar.

O que nos assusta é a profundidade e relevância dada a momentos como esses, em que a comunicação tende a visibilizar atitudes insanas em detrimento de outras notícias. Desde 2016, essas cenas de refugiados se tornaram cada vez mais comuns na costa do Mediterrâneo. Porém, isso não ganha tanta atenção na imprensa dos EUA e na imprensa brasileira.

Na era dos caça-cliques, os portais de notícia preferiram dar mais informações sobre quem eram os milionários que estavam a bordo do submarino, detalhes sobre como era feita a viagem, além de uma cobertura diária dos esforços de resgate. No caso do barco dos migrantes, não foram feitos perfis dos sobreviventes ou sequer foram divulgadas as nacionalidades daquelas pessoas. 

Os questionamentos são inúmeros: como a morte de imigrantes no fundo do mar se tornou tão corriqueira para o jornalismo? Por que tudo isso merece menos atenção? A vida dos refugiados vale menos que a vida dos turistas bilionários? Essa disparidade de atenção diz muito sobre nossa imprensa e nosso público que a consome.

Não estamos aqui para dizer que não se deveria falar sobre o submarino, mas sim que a atenção aos refugiados deveria ser, no mínimo, a mesma. Como respostas, sabemos que existem diversos fatores que influenciam nessa dinâmica: o racismo, o orientalismo e o próprio discurso anti-imigração que se tornou padrão nos países do primeiro mundo. E, infelizmente, a imprensa brasileira se espelha na imprensa desses mesmos países para fazer sua cobertura. 

É preciso acabar com essa política de dois pesos, duas medidas. É preciso socorrer a todos, noticiar, promover empatia e respeito. Para os imigrantes, apenas condições forçadas. Para os bilionários, escolhas de luxo. No fim, só cabe a nós questionarmos: Quantos refugiados lançados ao mar num navio poderiam ser salvos, com bilhões também lançados ao mesmo mar dentro de um submersível?  

A desigualdade grita. A vida é injusta. O jornalismo também tem sido. E a conclusão que temos é que morrer no mar é sempre aterrorizante e frio. 


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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Financeirização da imprensa brasileira: quando e por que esse fenômeno aconteceu no Brasil

 A relação umbilical entre capitalismo financeiro internacional e mídia corporativa, inclusive a brasileira, é um processo que acontece há mais de 40 anos, mas somente nos últimos 20 anos se intensificou

Por Vitor Faria Silveira

A imprensa brasileira passou por muitas mazelas durante o regime militar, que perdurou entre 1964 e 1985. Após o estabelecimento do AI-5 em 1968, a ditadura militar restringiu ainda mais o que a imprensa brasileira poderia produzir. o Jornalista Vladimir Herzog, preso e morto por agentes da ditadura militar em 1975,  é um caso bastante emblemático do que o período militar foi capaz de fazer com os profissionais de mídia daquela época. 

Após 21 anos de regime militar e com os movimentos sociais ocupando as ruas do país para reivindicar a volta da democracia, a ditadura se encerrou com as Diretas Já, reestabelecendo o processo democrático eleitoral no país. O problema é que o legado da truculência autoritária do período não foi apenas político. Ao final da ditadura, o Brasil tinha sua economia completamente estraçalhada.

O Brasil começou o processo de desindustrialização do país no início dos anos 1980, com a introdução do neoliberalismo na política econômica brasileira. O mercado financeiro foi introduzido no país para redefinir o novo modo de produção que se tornaria o predominantemente adotado pela elite nacional. O modelo fordista de produção estava ficando para trás para dar lugar ao processo de produção por demanda. Nessa transição, os grandes conglomerados de mídia migraram para esse modelo.

A elite industrial, que produzia seu lucro a partir da produção de mercadoria de suas fábricas, colocou suas empresas no mercado financeiro e passaram a expropriar o lucro a partir da especulação da bolsa de valores. Com os conglomerados de mídia o processo não foi diferente. Esses grupos, que hoje detêm empresas de produção de produtos financeiros em suas composições e que são ações negociadas e vendidas no mercado financeiro, também detêm a expropriação da mais valia através da especulação da bolsa de valores ou da compra de títulos da dívida pública.

O mercado financeiro, do qual alguns conglomerados de mídia fazem parte, principalmente Grupos Globo e Folha e seus braços financistas, possui uma agenda que costuma estar alinhada com a de políticos de direita e não raro de extrema direita. Esses grupos endossam uma ideia liberal para poderem obterem lucro com através de serviços que deveriam ser promovidos pelo Estado através da arrecadação de impostos.

Além do pensamento liberal, o mercado financeiro detém grande parte do financiamento da dívida pública com o Tesouro Nacional. É através da compra de títulos da dívida que advém boa parte da renda dos aplicadores do mercado financeiro. Aplicar capital em títulos da dívida pública é um investimento de segurança em renda fixa que muitos investidores apostam para obter seus lucros. A imprensa tradicional é um meio de grande utilidade para economistas do mercado financeiro e jornalistas econômicos que atuam em favor do mercado financeiro.

A mídia tradicional ou corporativa (leia-se Grupos Estadão, Folha, Globo e entre outros) é parte do mercado financeiro e dá voz aos porta-vozes do mercado. Por isso e por serem grupos compostos, em parte, por empresas que produzem produtos financeiros, que vemos cada vez mais economistas, analistas e outros profissionais do mercado financeiro tem participação cada vez maior nas colunas e editorias dos maiores jornais do país e nos telejornais diários das emissoras (Globo).

O jornalismo, que deveria ser a escola do cidadão e escola de cidadania para os indivíduos da sociedade, com a financeirização da economia e da mídia tradicional, tornou-se uma atividade de defesa do capitalismo financeiro e improdutivo. Faz-se necessário, através de um entendimento maior, através do estudo, da politização e de uma democracia mais participativa, que o país possa promover uma reindustrialização para puxar a educação a uma melhor qualidade para produzir melhores profissionais, cidadãos e sociedade politizada.

Mas, ainda mais urgente, é instrumentalizar a sociedade para essa reeducação - e isso é papel da mídia e muito especialmente do jornalismo. Em outras palavras: se desejamos vislumbrar algum traço de democracia no futuro, precisamos, atores de mídia, incluindo jornalistas, excluídos dos grandes grupos corporativos, nos movimentarmos para fazermos cumprir o desígnio da comunicação como direito e do jornalismo como um pilar para a democracia.

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quarta-feira, 28 de junho de 2023

Um Deus do ódio

 O uso perverso da fé cristã como ferramenta de preconceito, intolerância e incentivo à violência contra minorias

Por Paulo Henrique Lima,

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor." - 1 João 4:7-8 (Bíblia Sagrada) 

Assim como nesta passagem, é ensinado na religião cristã a presença de um forte Deus onipresente, onisciente, onipotente, bondoso e misericordioso. Entretanto, a religião se mostra rendida aos dogmas adquiridos como princípios e práticas irrefutáveis dentro da fé. Estes dogmas desempenham um papel importante na definição da identidade e coesão de uma religião ou igreja, fornecendo limites para a crença e a prática. Eles são frequentemente formulados e proclamados por autoridades religiosas com verdades inquestionáveis, destinadas a serem mantidas pelos fiéis.

Recentemente, o pastor André Valadão, líder da Lagoinha Orlando Church, fez publicações de cunho preconceituoso nas redes sociais. No dia 4 de junho, o pastor publicou um post que dizia “Deus odeia o orgulho”, a palavra orgulho em cores da bandeira LGBTQIA+. Não é por coincidência que o pastor escolheu o mês considerado do Orgulho LGBTQIA+ para fazer a publicação de duplo sentido com a palavra “orgulho”. Em um dos trechos deste culto, o pastor diz que junho seria um mês da humilhação, devido ao pecado, e pecado gera humilhação e vergonha. O mesmo diz que os fiéis, presentes no culto, não seriam dominados pelo pecado pois estariam debaixo da graça. Na pregação, é citado o versículo 1 João 1:9Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.

Mas o que seria o pecado para eles? O que realmente agrada ou desagrada a esse Deus que odeia? Como esse discurso baseado na ira de um Deus sob a vida do que alguns julgam como abominação reflete na política do ódio polarizado na sociedade? Esses discursos vão além de uma interpretação. Essas crenças e princípios estabelecidos com base nos textos sagrados e tradicionais são rigidamente mantidos e não há espaços para questionamentos ou interpretações contextualizadas, de que surgem os preconceitos radicais. Embora a religião possa desempenhar um papel positivo na vida das pessoas, fornecendo orientação moral e espiritual, é importante reconhecer que os dogmas, quando mal interpretados ou aplicados de maneira extremista, podem ter consequências negativas.

Como exemplo do pastor André Valadão compartilhando frequentemente postagens homofóbicas, além de incentivar as tags “nopride” e “orgulhonao”, contribuindo para a marginalização de certos grupos sociais. São considerados como “pecadores” ou “inferiores” àqueles que não vivem da maneira estabelecida pela comunidade religiosa. Esses preconceitos baseados nas crenças e tradições contribuem ainda mais para a negação dos direitos e dignidade desses grupos na sociedade. As pregações se tornam ferramentas para a promoção de políticas de ódio. Líderes, que ainda têm a sua parcela significativa de influência na opinião pública, são capazes de moldar as políticas com base em preceitos religiosos inflexíveis para restringir a liberdade individual, promover a exclusão e fomentar divisões sociais.


Em tempos de incertezas, conflitos e desafios, a sociedade frequentemente procura respostas e orientações para encontrar um sentido maior em suas vidas. Nesse contexto, é comum que essas instituições religiosas assumam um papel de destaque, oferecendo direção espiritual e esperança para os seguidores. No entanto, essa influência se torna perigosa quando se reflete sobre a fragilidade inerente à sociedade que leva muitos a se apoiarem exclusivamente na palavra que se encontra dentro das igrejas. 

As questões sociais, econômicas e políticas têm impactos significativos no bem-estar das pessoas, gerando ansiedade, medo e desesperança. Nesse cenário, é compreensível que muitos indivíduos busquem refúgio nos templos e igrejas, esperando encontrar respostas e conforto emocional. Aí encontra-se o perigo do poder de alguns líderes. Enquanto alguns são verdadeiros guias espirituais, comprometidos com os princípios do amor, compaixão e justiça, outros podem abusar de seu poder, manipulando a fé das pessoas em benefício de suas próprias crenças.  

A adoração cega a esses líderes pode resultar em consequências negativas, como a disseminação do ódio e intolerância, em vez de promover a verdadeira paz e harmonia. Afinal, como Deus seria amor se ele odiasse? O amor é capaz de odiar? A dependência excessiva da esperança oferecida pelas igrejas pode limitar a capacidade das pessoas de enfrentarem os desafios da vida de forma independente ou construtiva.

Ao transferir toda a responsabilidade para pastores ou outros guias espirituais, corre-se o risco de negligenciar a importância da ação individual e coletiva na construção de uma sociedade mais justa e empática. Questionar a influência dos líderes dessas instituições não significa negar a importância da fé e da esperança encontradas nas igrejas. No entanto, é fundamental adotar uma abordagem crítica, buscando um equilíbrio saudável entre a confiança em verdadeiros chefes cristãos e o desenvolvimento de uma autonomia pessoal. A sociedade precisa reconhecer sua própria força e capacidade de agir para promover mudanças positivas.  

Líderes como André Valadão reconhecem o seu poder de influência sob os demais fiéis e se aproveitam do espaço público para promover mais ódio a essas classes sociais. Propagando a palavra de um Deus odioso, uma mensagem que foca em presumidos desvios, pecados e que julga os demais cidadãos que não se sustentam em uma crença baseada na ideia de “nós, cristãos, estamos debaixo da graça, santificados, contra eles, pecadores e abominados pelo nosso Deus” - uma mensagem assim não apenas propaga o ódio, não é apenas contra a vida: ela mata!

Vale lembrar que André Valadão já foi acusado outras vezes de propagar informações falsas contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E o mesmo se retratou na internet mentindo, mais uma vez, dizendo que o TSE o havia intimado a negar que Lula seja a favor do aborto e da descriminalização das drogas. Na época, a corte negou a existência da decisão. Entretanto, o pastor usou da narrativa de “perseguido”, com imagens gravadas em um fundo escuro, roupa preta, para transparecer a ideia de que estava sendo silenciado ou forçado a se retratar. O vídeo em questão acumula mais de 15 milhões de reproduções. 

É fundamental compreender que os dogmas religiosos podem e devem ser interpretados de maneira contextualizada, levando em consideração a evolução social, os avanços científicos e a compreensão cada vez mais ampla dos direitos humanos. Uma interpretação aberta, inclusiva e compassiva dos preceitos religiosos pode permitir que eles sejam fonte de inspiração e bem-estar espiritual, ao mesmo tempo em que respeitam a diversidade e promovem a coexistência pacífica. 

É importante destacar que nem todos os fiéis praticantes adotam uma visão dogmática inflexível. Muitos seguidores de diferentes religiões têm uma compreensão mais inclusiva e progressista de suas crenças, buscando conciliar sua fé com o respeito pelos direitos e a valorização da diversidade humana. Para evitar que a doutrina religiosa se transforme em preconceitos e políticas de ódio, é necessário promover o diálogo inter-religioso, a educação para a tolerância e o respeito mútuo. É fundamental encorajar a reflexão crítica, a abertura ao conhecimento e o reconhecimento dos valores fundamentais dos direitos humanos.



 


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