Por Laís Abreu
As eleições deste ano, entre outras lições, colocam em dúvida o formato dos debates e sua utilidade no processo democrático
Com a chegada de Jair Bolsonaro na presidência em 2018, sem ter tido grande tempo de campanha televisiva devido ao fato de ter sido vítima de uma facada, tivemos uma mudança na forma como o Jornalismo Político era realizado no Brasil. A ascensão das mídias digitais nesse processo acabou tomando uma proporção maior, no qual as pessoas se expressam mais e replicam a todo momento tudo que é publicado, por isso, para os candidatos à presidência no país, um debate em rede nacional, vai muito além de informar o povo, mas fazer seu próprio marketing pessoal.
Na era política que vivemos, quem assistiu ao debate presidencial da Rede Globo no último dia 29 conseguiu observar a desvão ético, focado em troca de farpas, pegadinhas, alvoroço, perguntas e respostas com intuito de lacrar nas redes sociais, sem ter foco no que realmente importava: o presente e futuro do Brasil. Os internautas chegaram a questionar qual o critério dos escolhidos para participar, considerando que o candidato do PTB, Padre Kelmon, desequilibrou a mesa, inclusive o apresentador William Bonner. Aqui valem a ressalva e o esclarecimento: a lei eleitoral brasileira indica que participam dos debates os candidatos cujos partidos têm superado a cláusula de barreira eleitoral no Congresso Nacional.
Seja como for, os debates deste pleito mostram que não apenas a lei eleitoral precisa ser atualizada - os próprios debates estão desgastados, seu formato já não atrai e muito menos cumpre o papel de esclarecimento público a que se destinam. O que os candidatos querem é vender frases de efeito que a equipe de marketing fará circular naquele mesmo segundo. Um exemplo disso foi a concorrente Soraya Thronicke (UB) ao chamar o opositor de ‘’padre de festa junina’’ que virou meme.
O que se observa é uma criação de material que vai circular e favorecer os candidatos, mas que nada ajudam na democracia, considerando que pouco esclarecem os objetivos dos participantes. O circo é armado e tudo que nele é dito serve apenas como vitrine para as outras formas midiáticas existentes.
Uma solução para esse show de horror e desqualificação do jornalismo político na TV seria diminuir os embates e guerras entre os pretendentes à presidência e colocar mais a participação do povo. Além disso, uma opção fundamental é informar ao telespectador, ao vivo, sobre o que é dito pelos participantes, haja vista que muitos propagam dados errados e muita fake news, como fez Ciro Gomes (PDT) ao afirmar: "60% das nossas escolas já são em nível médio em tempo integral." Sendo que o dado correto corresponde apenas a 45% segundo o Censo da Educação Básica de 2021.
Que o Marketing eleitoral seja colocado à parte, essa nova ordem da comunicação política, conectada a outros diversos fatores, traz a cobertura jornalística um desafio a rever os padrões e assim diminuir o palco dado para propagação de discursos insustentáveis. Dessa forma, o jornalismo político brasileiro conseguirá atingir maior credibilidade.