terça-feira, 30 de maio de 2023

A mídia e os farialimers

 A mídia tradicional se preocupa com o desenvolvimento do país? Como veículos de imprensa atuam como panfletos do mercado financeiro? Por que jornais de grande relevância como Estadão e Folha de São Paulo se posicionam a favor de medidas que beneficiam a Faria Lima e se opõem a medidas de crescimento do país?

Por Vitor Faria Silveira


Há quarenta anos o neoliberalismo surgia no mundo capitalista como uma norma forma de organização das relações de trabalho, que se caracterizou pelo desmonte do welfare state, o estado de bem-estar social, e com ele um processo agudo de precarização, por meio da desregulamentação, do trabalho. A produção por estoque estava em crise no capitalismo industrial, passando a dar lugar à produção por demanda, o que levou à prevalência do capitalismo financeiro sobre o capitalismo produtivo..


O sonho do capital sempre foi se desvencilhar da produção de mercadoria e acumular por si próprio, se libertando da dependência da indústria e tornando-se auto-acumulativo. Fazendo uma analogia à Biologia, isso é semelhante à forma como um câncer se origina, expande e entra em processo de metástase. Mas aqui o assunto é econômico para chegar à imprensa tradicional.


O neoliberalismo foi o “modo de produção” que permitiu ao capitalismo tornar-se financeiro, buscando capturar o Estado e seus serviços para a propriedade do capital, fazendo-o acumular descontroladamente. Aquela ideologia de que “Estado mínimo é um estado eficiente” mostrava-se uma falácia e o capital percebeu isso.



O capital não queria mais passar a ideia de que diminuir o tamanho do estado tornava a máquina pública eficiente. O capital não queria mais o estado mínimo, o capital queria que o estado fosse máximo. Entretanto, o capital não queria que o estado fosse máximo para todos, mas somente para si. O capital queria abocanhar o estado para si para que pudesse acumular sem passar pela produção. Além disso, o capital deu uma “compensação” a isso tudo. Ele forneceu o crédito, que permitia as pessoas consumirem apesar de não possuírem recursos suficientes. Assim urgiu o mercado financeiro, dominado por bancos.

O mercado financeiro é majoritariamente composto por bancos, que buscam captar clientes para aumentar seus lucros. No mercado, as indústrias que produziam mercadoria para gerar lucro foram jogadas na bolsa de valores para gerarem dividendos sem o processo de produção. Esse mercado distribui lucros oriundos da valorização das ações dessas empresas aos detentores das mesmas.

A partir disso, toda ideia e ação que governos que buscam industrializar e desenvolver seus países com políticas públicas e medidas sociais de redução de desigualdades sociais e melhora da qualidade de vida de seus povos tomam, os mercados financeiros do mundo se assustam e se retraem. O mercado é o detentor da dívida pública que esses países contraíram para promover o desenvolvimento social, industrial e habitacional de si mesmos. O receio era de que os investimentos feitos pelos governos sociais-democratas os impedissem s de honrarem suas dívidas com os mercados. Como o capital abandonou a indústria e se acumula no mercado financeiro, ele precisa de mecanismos para acumular.

No Brasil, o capital conseguiu tornar o Banco Central brasileiro autônomo do Governo Federal. Esse fato fez o mercado colocar no Banco Central seus representantes como diretores do mesmo para que seus propósitos fossem executados mesmo com a entrada de um governo social-democrata. Atualmente, o Banco Central, que não é comandado por indicados do atual governo, eleva e mantém a taxa básica de juros, a chamada Selic, em 13,75%, a mais alta taxa de juros do mundo. Esse elevado percentual prejudica a geração de empregos, a elaboração de políticas públicas, os investimentos em industrialização do país e só beneficia aqueles que vivem do rentismo, que ocorre através do pagamento de dividendos gerados pela valorização das ações das empresas na bolsa ou do dinheiro depositado em contas nos bancos.

A imprensa tradicional sempre seguiu os ideais liberais e neoliberais da burguesia, que deixou de ser burguesia a partir de quando não se preocupou mais com o burgo. A mídia hegemônica sempre se beneficiou do liberalismo e do neoliberalismo. Devido a isso, ela age como veículo de propaganda de ideias liberais.


O jornal Estado de SPaulo, o Estadão, sempre foi um veículo de imprensa conservador e liberal economicamente. O jornal, pertencente a um dos maiores conglomerados de mídia do Brasil, é conhecido por pregar a favor do neoliberalismo e de políticas defendidas pela direita dita republicana - embora, não raro, defenda posições de governos autoritários. Em contrapartida, a Folha de S.Paulo possuía ideias progressistas, de defesa do crescimento do país por meio de investimentos do Estado - não obstante foi um dos apoiadores da ditadura militar no Brasil, implantado com o golpe de estado tramado pelas elites burguesas nacionais.

Após a eleição do presidente Lula, em 2022, a Folha, se juntando ao Estadão, passa a pregar contra as propostas do então governo eleito para a gestão do país. Prova disso é a alta ofensiva contra o presidente que critica a alta da Selic e passa a defender ostensivamente a manutenção da taxa em 13,75%, com o uso da mesma justificativa do diretor do BC, Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro, presidente da República até 2022, que diz que a taxa de juros se mantém devido a alta da inflação por demanda.


A justificativa mostra-se uma falácia de proporções gigantescas, já que o consumo das famílias está em níveis absurdamente baixos, a quantidade de dinheiro circulante na praça também é pífio, enquanto os lucros registrados pelos bancos e o aumento do patrimônio e fortunas dos maiores bilionários/milionários do Brasil é gigantesco.


Jornais como o Estadão e a Folha não obtêm lucros do consumo de conteúdo produzido por eles mais, eles arrecadam dividendos através de entidades financeiras que fazem parte do conglomerado de empresas às quais ambos os jornais pertencem. Prova disso é a queda de qualidade dos conteúdos produzidos pelos seus jornalistas, que elaboram materiais de baixa qualidade se tratando de pautas econômicas, opiniões acerca de questões político-econômicas e justificativas que defendem posições neoliberais.


Pode-se perceber que tais veículos, somado a emissoras tradicionais neoliberais, não prezam pelo crescimento do país, pela redução da distância entre as classes sociais e pela promoção de um país melhor para se viver. A mídia tradicional neoliberal preza, claramente pelos privilégios e rentismo promovido pela financeirização, já que veículos como o Estadão, a Folha, Grupo Globo, CNN e outros grupos, são entidades que estão imersas na financeirização. Portanto medidas governamentais que visam o progresso soam ameaçadoras aos interesses da financeirização.


Na financeirização, jornalistas com visão progressista e desenvolvimentista são colocados de lado, enquanto profissionais da mídia com posicionamento financeirizado possuem maior espaço de visibilidade e atuação nos veículos de grande porte como são a mídia tradicional no Brasil.


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quarta-feira, 24 de maio de 2023

Linha Direta: a volta dos que não foram

De volta à grade de programação, o Linha Direta da TV Globo joga luz sobre a responsabilidade da cobertura midiática em casos sensíveis que envolvem violência pública 

Por Vitória Martins

O Linha Direta foi ao ar pela primeira vez no dia 29 de maio de 1990, apresentado pelo jornalista e político Hélio Costa. Porém o programa deixou de ser exibido no mesmo ano, retornando, em 1999, sob comando de Marcelo Rezende e, na sequência, Domingos Meirelles, em 2000, ficando no ar até dezembro de 2007. O programa retorna agora, em 2023, sob a batuta de Pedro Bial, o primeiro apresentador do Big Brother Brasil.

O programa se dedicava a produção de matérias jornalísticas de cunho sensacionalista (mas travestida de investigação), se unindo em uma narrativa com reportagem, entrevista e simulações dos casos policiais ou jurídicos  mais famosos no Brasil. Entre críticas, por seu tom de criminalização, o show true crime foi muitas vezes aclamado após contribuir para solução de casos e prisão de foragidos depois de denúncias anônimas ao programa.

Na temporada 2023, a promessa é de que serão exibidos episódios todas as semanas, porém cada episódio tem propósito em relembrar os principais casos contando melhor os fatos através de entrevistas com especialistas, vítimas e sobreviventes dos casos e simulações, bem próximo à linha que seguiam no princípio.

O primeiro episódio do programa chamou atenção do público ao relembrar o caso Eloá, no qual uma adolescente de 15 anos foi sequestrada e assassinada por seu ex-namorado. A abordagem do programa foi surpreendente: Pedro Bial expõe como a interferência dos veículos de mídia atrapalhou nas ações policiais do crime e reforça que ela foi uma das milhares de vítimas de feminicídio.

O ponto positivo desse reexibição é poder trazer reflexões atuais aos telespectadores como a violência contra as mulheres, gerando impacto sobre a sociedade sob um novo olhar, tentando reconstruir a narrativa e incentivar as denúncias contra violência doméstica.

Entretanto, nem tudo são flores: o show true crime retoma os erros tanto da mídia quanto da polícia em relação ao caso, ponderando se o fim trágico poderia ter sido diferente se houvesse seriedade e responsabilidade entre ambos.

Desde o primeiro acontecimento até a morte da jovem os veículos de comunicação estavam por perto feito abutres. Isto foi inegavelmente o pior erro de todo o caso. Durante todas as horas do sequestro, eram reportados em rede nacional os passos da polícia, quais foram as negociações ao assassino, as imagens fortes de Eloá na janela pegando a comida com arma apontada para cabeça. Ao todo, foram mais de 100h de transmissão ao vivo pela TV e mais uma infinidade de programas e quadros e coberturas sobre o caso.

O Antônio Nobre Salgado, o promotor do caso, entrevistado pelo Linha Direta, vai direto ao ponto: uma conversa ao vivo de Lindemberg, o ex-namorado e assassino da adolescente, com a apresentadora Sônia Abrão, notória fofoqueira das tardes na TV brasileira,. foi decisiva para que o assassino tomasse pé do impacto que seu ato tinha na opinião pública. A paritir daí, a negociação que vinha sendo mantida pelas autoridades policiais sofre uma regressão, até o acontecimento culminante do assassinato, transmitido ao vivo.

O promotor, todavia, também não isenta a própria abordagem policial, que deveria, segundo Antônio Nobre, ter limitado o acesso de jornalistas e mídia na cena dos acontecimentos.

O fato de Linha Direta ter retornado com uma abordagem crítica à cobertura da mídia em casos do tipo são uma boa notícia. Se será fiel a essa escolha e não sucumbirá ao sensacionalismo desde sempre presente em programas diários dos concorrentes, só o tempo dirá.


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Entre fatos e afetos

 Por Paulo Lima

A exigência de objetividade no exercício do jornalismo não significa abrir mão da empatia

A presença da subjetividade em textos jornalísticos é um tema controverso. Tradicionalmente, o jornalismo tem como objetivo principal captar informações e reportá-las de forma imparcial (ou equidistante) e baseada em e exclusivamente em fatos. Essa abordagem visa a garantir a confiabilidade e reforçar a autoridade pública de que o jornalista se limitou (ou ao menos se esforçou ao máximo)  a tratar dos fatos, e não de opinião sobre eles. 

A objetividade, por isso mesmo, se torna um valor inegociável para o exercício do jornalismo, a fim de que, na tarefa de informar, os jornalistas evitem manipular a opinião pública com interesses, na maioria das vezes invisíveis nos relatos. No entanto, essa busca pela objetividade se mecaniza a tal ponto que ela é confundida com falta de compaixão, de empatia mínima, o que pode impactar a forma como certos eventos são considerados. Ainda que essa abordagem tenha suas vantagens ao evitar o sensacionalismo e fornecer informações encorajadas e fundamentadas.

É necessário reconhecer, todavia, uma obviedade, há muito revelada nos cursos de Jornalismo, mas que não deixa de atormentar estudantes, professores e, em boa medida, profissionais:  a objetividade é um ato difícil de alcançar. Os jornalistas são seres sociais, com interesses e paixões próprias, e suas experiências, valores e perspectivas pessoais influenciam seu trabalho, mesmo que de forma imperceptível a eles. Além disso, a seleção de quais histórias serão cobertas e como elas serão abordadas também envolve certo grau de subjetividade.

Quando se trata de eventos trágicos, como a morte da cantora Marília Mendonça, a cobertura jornalística geralmente se concentra em fornecer informações básicas, como a confirmação do falecimento, detalhes sobre as circunstâncias da morte e reações de fãs e colegas. Nesses casos, a subjetividade é geralmente ofuscada, pois o objetivo principal seria transmitir os fatos de maneira clara e objetiva. É importante notar que, em casos de figuras públicas, a morte pode levar a discussões mais amplas sobre seu legado, impacto cultural e contribuições para a sociedade. Nesses momentos, é natural que os jornalistas expressem suas opiniões e interpretem pessoalmente em artigos de opinião ou análises mais aprofundadas. Nesses casos, a subjetividade é esperada e pode ser valorizada pelos leitores que buscam uma reflexão mais ampla sobre o significado daquela pessoa e seu trabalho - e no pacto de leitura, o consumidor não espera um tratamento “objetivo” dos fatos e reconhece a validade da opinião, que pode ou não ser aceita como relevante.

No caso da morte da cantora Marília Mendonça, a falta de subjetividade em textos jornalísticos pode se manifestar na forma como a notícia é apresentada. O foco principal seria fornecer informações precisas sobre a morte da cantora, como local, causa e possíveis repercussões, mas muitas vezes isso ocorre sem a exploração da dimensão emocional e cultural do evento.


A ausência de subjetividade pode resultar em uma cobertura jornalística que não capta completamente o impacto emocional que a morte de uma figura pública como Marília Mendonça pode ter na sociedade e na comunidade de fãs. Ao não explorar a história pessoal da cantora, suas contribuições para a música e a conexão que ela tinha com seus fãs, o texto jornalístico pode parecer frio e distante. Marília já fazia críticas ao método de trabalho insensível da imprensa.

Quando ocorreu sua morte, alguns veículos violaram a artista de diversas formas, como se levasse em consideração apenas as remunerações que aquilo poderia gerar. O ato de engajar, de cobrir e noticiar a fatalidade trouxe à tona uma onda de notícias falsas a seu respeito. Houve ausência de sensibilidade em todos os processos. Ao serem vazadas, recentemente, arquivos do IML, a família foi desrespeitada. A produção dessa objetividade compulsória cria a notícia como um fator mercadoria, isentando o respeito e sensibilidade no trabalho. Tendo em vista que isso propicia o compartilhamento em massa de conteúdos inverídicos, consequentemente, ocorre a falta de reflexão por parte do leitor.


Para encontrar uma análise mais subjetiva da morte de Marília Mendonça e sua importância, é comum acompanhar outros tipos de mídia, como reportagens especiais, documentários ou artigos de opinião. Esses formatos oferecem espaço para explorar as emoções, o legado e o impacto cultural da cantora, bem como as reações de seus fãs. Apesar de contar com o apoio de outras formas de mídia para explorar a profundidade do caso, os textos jornalísticos por vezes necessitam dessa cobertura subjetiva.

A morte de uma celebridade, como Marília Mendonça, é um evento impactante para muitas pessoas e, naturalmente, desperta emoções e sentimentos na sociedade. Nessas situações, a falta da subjetividade nos textos jornalísticos pode ser percebida como uma desconexão com a realidade das pessoas que estão emocionalmente envolvidas. Ao abordar a morte de uma personalidade, é importante que os jornalistas considerem a sensibilidade do assunto e busquem um equilíbrio entre a neutralidade e a empatia. Embora seja necessário relatar os fatos relevantes e fornecer informações precisas sobre as circunstâncias da morte, é igualmente importante reconhecer o impacto emocional que a perda pode ter na vida de fãs, amigos e familiares.

Uma abordagem jornalística mais afetiva e empática poderia incluir entrevistas com fãs, colegas de trabalho ou pessoas próximas à cantora, que podem compartilhar suas experiências pessoais e os sentimentos despertados pela perda. Isso ajuda a humanizar a notícia e a criar uma conexão mais profunda com o público. Além disso, é válido ressaltar que a falta de subjetividade em textos jornalísticos não é exclusiva em casos de morte de celebridades, mas pode se estender a outros assuntos. A objetividade é importante para evitar a transmissão de informações falsas e garantir a imparcialidade, mas os jornalistas também devem ser conscientes da necessidade de compreender o contexto social, cultural e emocional que envolve as notícias que estão relatando.

De fato, a falta da subjetividade no jornalismo pode distanciar o público do conteúdo, especialmente em casos sensíveis como a morte de uma figura pública. Os profissionais devem considerar a importância de uma abordagem sensível e humanitária, que possa reconhecer e compreender as emoções e experiências das pessoas envolvidas, sem comprometer a busca pela veracidade dos fatos.


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quinta-feira, 18 de maio de 2023

Terra e Paixão: a Rede Globo e o agronegócio

 Por Lais Abreu, 


A novela Terra e Paixão estreou na Rede Globo, nesta segunda, dia 8/5 e trouxe com ela vários debates necessários. A produção de Walcyr Carrasco, conta com um forte elenco: Barbara Reis, Cauã Reymond, Johnny Massaro nos papéis principais e uma dupla de vilões com Tony Ramos e Glória Pires. 

Os primeiros minutos da trama levaram os espectadores à loucura com o enredo, a mocinha chamada Aline e interpretada por Bárbara Reis, é uma mulher jovem, forte, batalhadora e corajosa, que vê seu marido morrer após um conflito por terras. Sim, o cenário é agro. A luta de uma mulher viúva e com um filho pequeno contra uma família repleta de ambição. Tudo isso irá prender o telespectador por alguns meses, mas o que cabe a nós aqui do Pluris, é a forma que a emissora inclui o agronegócio em suas produções. 

Embora a novela retrate e critique a concentração de terras nas mãos dos grandes proprietários, ela também vende a imagem moderna e positiva do sistema. Como previsível, a personagem principal aprenderá a plantar e a lidar com as máquinas e com o mercado de agronegócio. Segundo a Rede Globo: “Uma jornada de esperança e luta, com personagens e histórias profundas, tão enraizados quanto as belas e grandiosas plantações do Mato Grosso do Sul.”.

Outro ponto importante para o primeiro capítulo, foi o excesso de vezes que o elenco disse “terra vermelha”, característica que fez a personagem Aline se encantar e decidir ficar de vez na terra do ex-marido. Mais uma forma de parecer orgânico, mas que no fundo é apenas a mídia do “Agro é pop, Agro é Tech, Agro é Tudo” tentando impor a romantização desse cenário. 

Com a abertura totalmente favorável ao agronegócio, mostrando os atores e imagens de máquinas, terras, e plantações, ao som de “Sinônimos” na voz de Ana Castela e Chitãozinho & Xororó, a novela promete grandes repercussões. Cabe a nós, como sociedade, interpretar o que está por vir da melhor forma, afinal embora seja uma ficção, é de responsabilidade da empresa jornalística manter uma postura ética e verdadeira, diante dos problemas ambientais que essa indústria traz ao país. Aguardemos os próximos capítulos.


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Caso Bruna Griphao e Cezar Black: Racismo no Mais Você

 Estereótipos reforçados pela grande mídia e a diferença de tratamento entre pessoas brancas e pretas nos veículos de comunicação nos obriga uma reflexão acerca do racismo estrutural

Por Ariane Stefanie

O Big Brother Brasil (BBB) 2023 já chegou ao fim, mas o programa, pelo seu impacto e desdobramentos, continua sendo relevante e volta mais uma vez como ponto de partida para uma observação do Pluris

Recentemente, em um quadro do programa Mais Você, comandado por Ana Maria Braga, o “Café com o Eliminado”, em que ex-participantes compartilham sua trajetória no reality show, diferentes legendas que aparecem na parte inferior da tela foram dados a Cezar Black e Bruna Griphao. Enquanto “Black discutiu feio com as desérticas” foi usado para se referir aos desentendimentos do participante com um grupo da casa, Griphao, que teve sua trajetória no BBB marcada por comportamentos agressivos, gritos e palavrões com quase todos do programa, a foi atribuído o “Jeito de falar se tornou sua marca registrada” . 

A web se revoltou com o caso e muitos internautas acusaram a Rede Globo de racismo, que reforçou o estereótipo de pessoas pretas sempre vistas como agressivas, enquanto reduziu todo o comportamento problemático de Bruna ao seu “jeito de falar”. O ocorrido, entretanto, não é uma anormalidade. Não só para a Globo, mas para grande parte da mídia hegemônica brasileira, a simples escolha de palavras ao se dar uma notícia, evidencia como os estereótipos racistas são reforçados por esses veículos.

Em 2022, um jovem nazista ataca uma escola no Espírito Santo. Para compor a matéria, sem saber de nenhuma informação sobre o perfil do assassino, o jornal Estadão escolhe uma foto onde as mãos de uma pessoa negra segura uma arma. O jornal Metrópole chama de traficante na manchete e estampa a foto de Felipe Nunes, homem negro, que foi preso com 39 porções de crack, mesmo não sendo o único autor do crime. Já o G1, para se referir a um homem branco, preso com 720 kg de cocaína, “filho de vereador” e “campeão de karatê” é utilizado ao mencioná-lo.

É evidente que a escolha de palavras e termos é pensada de formas diferentes quando falamos de pessoas de raças distintas. E esse estereótipo, reforçado pela mídia, diz muito sobre o racismo estrutural do Brasil, e é apenas um traço de uma sociedade que vive, até hoje, como dito pelo Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, uma “herança maldita da escravidão”.

Em seu livro “Racismo Estrutural”, Silvio explica que vemos o racismo como uma anomalia, no sentido de que, quem o pratica, o faz por patologia físicas e/ou sociais, por ódio ou até mesmo por falta de caráter. Enxergar o problema apenas dessa maneira não explica o racismo em sua totalidade, que precisa ser visto, ainda de acordo com o filósofo, não somente como uma questão individual e sim, como modo de estrutura social. 

O racismo, entendido então como um elemento que “integra a organização econômica, social e política da nossa sociedade”, fez com que os preconceitos raciais fossem perpetuados não só na mídia, mas em todas as esferas da sociedade, o que explica a repressão e violência policial, a defasagem de pessoas pretas nas universidades e em cargos de poder, por exemplo, e, essa discrepância de tratamento dado pelos veículos tradicionais de comunicação.

Sílvio diz que “desmantelar as narrativas discriminatórias que sempre colocam minorias em locais de subalternidades” é um dos caminhos para a resolução do problema. É necessário alertar sobre casos como o do BBB, mas, para que a mudança seja efetiva, é preciso pensar em mudanças estruturais. A comunicação alternativa é importante nesse contexto por levantar debates que fogem do discurso hegemônico e dar vozes para aqueles que não são contemplados na grande mídia. Porém, a regulamentação da comunicação, se mostra como o caminho mais efetivo para o fim da perpetuação do racismo no jornalismo e na mídia brasileira.


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