segunda-feira, 3 de julho de 2023

Lula e a esfinge

 Por Vitor Faria Silveira

Apesar da repercussão global do poderoso discurso de Lula para uma multidão na França, o silêncio da mídia corporativa brasileira é ensurdecedor e revela o tamanho desse personagem para a história

Na penúltima semana de junho, o presidente Luís Inácio Lula da Silva esteve em viagem pela Europa para se encontrar com líderes do bloco europeu . Durante sua passagem pela França, o presidente brasileiro esteve presente na cúpula europeia para o financiamento global e discursou em um festival de música que objetiva lembrar a luta pelo combate ao aquecimento global e ao combate à pobreza. O presidente compareceu ao evento após convite feito pela banda britânica Coldplay, que realizou uma turnê pelo Brasil em 2023.

Lula discursa em Festival em Paris/ Foto: Partido dos Trabalhadores

No evento, Lula fez um discurso para quase 100 mil pessoas que compareceram ao evento, na Cham de Mars, aos pés da torre Eiffel. Em sua fala, o presidente brasileiro mencionou o combate ao desmatamento na Amazônia, destacou o combate à pobreza extrema nos continentes africano e América Latina, além de criticar Estados Unidos e Europa por causa das mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global. Lula afirmou que o problema teve origem na revolução industrial e também disse que os países desenvolvidos deveriam financiar o combate ao problema ambiental e a pobreza extrema para reparar os prejuízos ambientais causados pela revolução.

Por fim, o presidente também citou que o mundo não pode combater as mudanças climáticas sem combater a desigualdade social. Lula afirmou que não foram os povos africanos e latino-americanos que provocaram o aquecimento global, mas são eles os principais afetados pelo desequilíbrio do clima. No final de seu discurso, Lula convidou todos os presentes no festival para comparecerem na COP-30, a conferência global que será realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Belém, em 2025 e disse que é hora de haver um protagonismo mundial para assumir essas responsabilidades, criticando os fracassos ocorridos pelos acordos firmados em reuniões passadas para conter o avanço do aquecimento global.

A imprensa brasileira, especialmente a corporativa, ligada aos tradicionais e oligopolizados grupos de mídia no Brasil - mas também  a mídia identificada como “independente” e “de esquerda” - pouco repercutiram o alcance histórico do discurso de Lula. 

O portal Poder 360 citou a falta de informações de Lula sobre o motim provocado pelo Grupo Wagner contra o presidente russo Vladimir Putin. O UOL também abordou o não comentário de Lula sobre o motim. O independente jornal Brasil de Fato seguiu pelo mesmo caminho.  O portal G1 repercutiu o cancelamento da reunião do presidente brasileiro com o príncipe da Arábia Saudita. A Jovem Pan publicou que Lula e a Primeira-Dama Janja da Silva receberam 231 presentes desde o início do mandato do governo do petista. A CNN chegou a publicar que jornal francês chamou presidente brasileiro de “decepcionante” e mostrou que é “falso amigo” do ocidente.

A imprensa brasileira não percebeu que o discurso de Lula estabelece ligação entre o combate à pobreza com o combate às mudanças climáticas. O chefe do poder executivo brasileiro destaca que não se pode aceitar promover um clima global agradável à humanidade e permitir que o contingente de pessoas em situação de pobreza extrema continue aumentando.  

A fala durante o festival coloca Lula no espaço deixado por Fidel Castro como líder do chamado “Terceiro Mundo”. Espaço esse que era a de um líder da esquerda e centro-esquerda mundial. O posicionamento mostra que Lula deseja promover o desenvolvimento sustentável dos países pobres e emergentes e que o Brasil pode ajudar os mesmos a chegarem nessa meta. O discurso comprova ainda um maior cacife e legitimidade ao brasileiro devido a sua vitória democrática nas eleições de 2022. 

No final do século XX, a academia brasileira esperava que esse espaço fosse ocupado por Fernando Henrique Cardoso. Todavia o que houve foi exatamente o contrário. FHC baixou a cabeça para o neoliberalismo que estava se instaurando no Brasil ao promover uma onda de privatizações que diminuiu a capacidade do estado de dar assistência aos necessitados e aumentar o capital da elite econômica brasileira.

A displicência da imprensa brasileira quanto a esse marco histórico comprova a futilidade da imprensa em se concentrar em temas que não são do interesse público. Tal fato mostra que o jornalismo brasileiro não alcança a tarefa ética de organizar os acontecimentos em conformidade a sua relevância social. Seja por razões ideológicas ou com incapacidade técnica, a displicência da mídia brasileira neste momento não deixará de ser cobrada pela história.


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domingo, 2 de julho de 2023

Dois pesos, duas medidas: a cobertura midiática diante do submarino de bilionários e do navio de imigrantes

 Por Laís Abreu 


Por que a imprensa liga mais para a viagem de luxo de ricos do que para os refugiados no mediterrâneo? 


Nos últimos dias, o mundo vivenciou o desaparecimento do submarino Titan, que carregava quatro passageiros e um piloto em uma viagem turística  em direção ao fundo do mar para observar os escombros do Titanic. No entanto, o que nos choca aqui no Pluris é que, uma semana antes, 78 imigrantes oriundos de Afeganistão e Paquistão morreram em um acidente com um pesqueiro no Mediterrâneo. Eles tentavam fugir do Talibã e do Daesh em busca de uma nova vida na Europa. Segundo investigações, foram vítimas de negligência do estado grego, que demorou para agir no resgate. 

É claro que a inusitada história do submarino fez com que o público clicasse com voracidade nas matérias: as condições eram péssimas, a viagem custou uma fortuna (US$ 250 mil ou R$ 1,2 mi por cabeça) e seus passageiros eram bilionários. Na mídia, houve até contagem regressiva em relação a quantidade de oxigênio, que se reduzia conforme os dias iam passando. Para as buscas, foram mobilizados aviões, barcos, satélites e submarinos. Após o tempo esgotado, a Guarda Costeira americana informou que foram encontrados fragmentos do submersível, depois de ocorrer uma implosão. 

É importante observar, contudo, que dias antes os mesmos meios de comunicação que correram para essa divulgação não cumpriram o seu papel de alerta e de pressão sobre o governo, quando centenas de imigrantes desesperados enviavam mensagens SMS como pedido de socorro. Embora fosse possível salvá-los do afogamento, as autoridades deixaram-nos propositalmente findar no mar.

O que nos assusta é a profundidade e relevância dada a momentos como esses, em que a comunicação tende a visibilizar atitudes insanas em detrimento de outras notícias. Desde 2016, essas cenas de refugiados se tornaram cada vez mais comuns na costa do Mediterrâneo. Porém, isso não ganha tanta atenção na imprensa dos EUA e na imprensa brasileira.

Na era dos caça-cliques, os portais de notícia preferiram dar mais informações sobre quem eram os milionários que estavam a bordo do submarino, detalhes sobre como era feita a viagem, além de uma cobertura diária dos esforços de resgate. No caso do barco dos migrantes, não foram feitos perfis dos sobreviventes ou sequer foram divulgadas as nacionalidades daquelas pessoas. 

Os questionamentos são inúmeros: como a morte de imigrantes no fundo do mar se tornou tão corriqueira para o jornalismo? Por que tudo isso merece menos atenção? A vida dos refugiados vale menos que a vida dos turistas bilionários? Essa disparidade de atenção diz muito sobre nossa imprensa e nosso público que a consome.

Não estamos aqui para dizer que não se deveria falar sobre o submarino, mas sim que a atenção aos refugiados deveria ser, no mínimo, a mesma. Como respostas, sabemos que existem diversos fatores que influenciam nessa dinâmica: o racismo, o orientalismo e o próprio discurso anti-imigração que se tornou padrão nos países do primeiro mundo. E, infelizmente, a imprensa brasileira se espelha na imprensa desses mesmos países para fazer sua cobertura. 

É preciso acabar com essa política de dois pesos, duas medidas. É preciso socorrer a todos, noticiar, promover empatia e respeito. Para os imigrantes, apenas condições forçadas. Para os bilionários, escolhas de luxo. No fim, só cabe a nós questionarmos: Quantos refugiados lançados ao mar num navio poderiam ser salvos, com bilhões também lançados ao mesmo mar dentro de um submersível?  

A desigualdade grita. A vida é injusta. O jornalismo também tem sido. E a conclusão que temos é que morrer no mar é sempre aterrorizante e frio. 


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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Financeirização da imprensa brasileira: quando e por que esse fenômeno aconteceu no Brasil

 A relação umbilical entre capitalismo financeiro internacional e mídia corporativa, inclusive a brasileira, é um processo que acontece há mais de 40 anos, mas somente nos últimos 20 anos se intensificou

Por Vitor Faria Silveira

A imprensa brasileira passou por muitas mazelas durante o regime militar, que perdurou entre 1964 e 1985. Após o estabelecimento do AI-5 em 1968, a ditadura militar restringiu ainda mais o que a imprensa brasileira poderia produzir. o Jornalista Vladimir Herzog, preso e morto por agentes da ditadura militar em 1975,  é um caso bastante emblemático do que o período militar foi capaz de fazer com os profissionais de mídia daquela época. 

Após 21 anos de regime militar e com os movimentos sociais ocupando as ruas do país para reivindicar a volta da democracia, a ditadura se encerrou com as Diretas Já, reestabelecendo o processo democrático eleitoral no país. O problema é que o legado da truculência autoritária do período não foi apenas político. Ao final da ditadura, o Brasil tinha sua economia completamente estraçalhada.

O Brasil começou o processo de desindustrialização do país no início dos anos 1980, com a introdução do neoliberalismo na política econômica brasileira. O mercado financeiro foi introduzido no país para redefinir o novo modo de produção que se tornaria o predominantemente adotado pela elite nacional. O modelo fordista de produção estava ficando para trás para dar lugar ao processo de produção por demanda. Nessa transição, os grandes conglomerados de mídia migraram para esse modelo.

A elite industrial, que produzia seu lucro a partir da produção de mercadoria de suas fábricas, colocou suas empresas no mercado financeiro e passaram a expropriar o lucro a partir da especulação da bolsa de valores. Com os conglomerados de mídia o processo não foi diferente. Esses grupos, que hoje detêm empresas de produção de produtos financeiros em suas composições e que são ações negociadas e vendidas no mercado financeiro, também detêm a expropriação da mais valia através da especulação da bolsa de valores ou da compra de títulos da dívida pública.

O mercado financeiro, do qual alguns conglomerados de mídia fazem parte, principalmente Grupos Globo e Folha e seus braços financistas, possui uma agenda que costuma estar alinhada com a de políticos de direita e não raro de extrema direita. Esses grupos endossam uma ideia liberal para poderem obterem lucro com através de serviços que deveriam ser promovidos pelo Estado através da arrecadação de impostos.

Além do pensamento liberal, o mercado financeiro detém grande parte do financiamento da dívida pública com o Tesouro Nacional. É através da compra de títulos da dívida que advém boa parte da renda dos aplicadores do mercado financeiro. Aplicar capital em títulos da dívida pública é um investimento de segurança em renda fixa que muitos investidores apostam para obter seus lucros. A imprensa tradicional é um meio de grande utilidade para economistas do mercado financeiro e jornalistas econômicos que atuam em favor do mercado financeiro.

A mídia tradicional ou corporativa (leia-se Grupos Estadão, Folha, Globo e entre outros) é parte do mercado financeiro e dá voz aos porta-vozes do mercado. Por isso e por serem grupos compostos, em parte, por empresas que produzem produtos financeiros, que vemos cada vez mais economistas, analistas e outros profissionais do mercado financeiro tem participação cada vez maior nas colunas e editorias dos maiores jornais do país e nos telejornais diários das emissoras (Globo).

O jornalismo, que deveria ser a escola do cidadão e escola de cidadania para os indivíduos da sociedade, com a financeirização da economia e da mídia tradicional, tornou-se uma atividade de defesa do capitalismo financeiro e improdutivo. Faz-se necessário, através de um entendimento maior, através do estudo, da politização e de uma democracia mais participativa, que o país possa promover uma reindustrialização para puxar a educação a uma melhor qualidade para produzir melhores profissionais, cidadãos e sociedade politizada.

Mas, ainda mais urgente, é instrumentalizar a sociedade para essa reeducação - e isso é papel da mídia e muito especialmente do jornalismo. Em outras palavras: se desejamos vislumbrar algum traço de democracia no futuro, precisamos, atores de mídia, incluindo jornalistas, excluídos dos grandes grupos corporativos, nos movimentarmos para fazermos cumprir o desígnio da comunicação como direito e do jornalismo como um pilar para a democracia.

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quarta-feira, 28 de junho de 2023

Um Deus do ódio

 O uso perverso da fé cristã como ferramenta de preconceito, intolerância e incentivo à violência contra minorias

Por Paulo Henrique Lima,

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor." - 1 João 4:7-8 (Bíblia Sagrada) 

Assim como nesta passagem, é ensinado na religião cristã a presença de um forte Deus onipresente, onisciente, onipotente, bondoso e misericordioso. Entretanto, a religião se mostra rendida aos dogmas adquiridos como princípios e práticas irrefutáveis dentro da fé. Estes dogmas desempenham um papel importante na definição da identidade e coesão de uma religião ou igreja, fornecendo limites para a crença e a prática. Eles são frequentemente formulados e proclamados por autoridades religiosas com verdades inquestionáveis, destinadas a serem mantidas pelos fiéis.

Recentemente, o pastor André Valadão, líder da Lagoinha Orlando Church, fez publicações de cunho preconceituoso nas redes sociais. No dia 4 de junho, o pastor publicou um post que dizia “Deus odeia o orgulho”, a palavra orgulho em cores da bandeira LGBTQIA+. Não é por coincidência que o pastor escolheu o mês considerado do Orgulho LGBTQIA+ para fazer a publicação de duplo sentido com a palavra “orgulho”. Em um dos trechos deste culto, o pastor diz que junho seria um mês da humilhação, devido ao pecado, e pecado gera humilhação e vergonha. O mesmo diz que os fiéis, presentes no culto, não seriam dominados pelo pecado pois estariam debaixo da graça. Na pregação, é citado o versículo 1 João 1:9Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.

Mas o que seria o pecado para eles? O que realmente agrada ou desagrada a esse Deus que odeia? Como esse discurso baseado na ira de um Deus sob a vida do que alguns julgam como abominação reflete na política do ódio polarizado na sociedade? Esses discursos vão além de uma interpretação. Essas crenças e princípios estabelecidos com base nos textos sagrados e tradicionais são rigidamente mantidos e não há espaços para questionamentos ou interpretações contextualizadas, de que surgem os preconceitos radicais. Embora a religião possa desempenhar um papel positivo na vida das pessoas, fornecendo orientação moral e espiritual, é importante reconhecer que os dogmas, quando mal interpretados ou aplicados de maneira extremista, podem ter consequências negativas.

Como exemplo do pastor André Valadão compartilhando frequentemente postagens homofóbicas, além de incentivar as tags “nopride” e “orgulhonao”, contribuindo para a marginalização de certos grupos sociais. São considerados como “pecadores” ou “inferiores” àqueles que não vivem da maneira estabelecida pela comunidade religiosa. Esses preconceitos baseados nas crenças e tradições contribuem ainda mais para a negação dos direitos e dignidade desses grupos na sociedade. As pregações se tornam ferramentas para a promoção de políticas de ódio. Líderes, que ainda têm a sua parcela significativa de influência na opinião pública, são capazes de moldar as políticas com base em preceitos religiosos inflexíveis para restringir a liberdade individual, promover a exclusão e fomentar divisões sociais.


Em tempos de incertezas, conflitos e desafios, a sociedade frequentemente procura respostas e orientações para encontrar um sentido maior em suas vidas. Nesse contexto, é comum que essas instituições religiosas assumam um papel de destaque, oferecendo direção espiritual e esperança para os seguidores. No entanto, essa influência se torna perigosa quando se reflete sobre a fragilidade inerente à sociedade que leva muitos a se apoiarem exclusivamente na palavra que se encontra dentro das igrejas. 

As questões sociais, econômicas e políticas têm impactos significativos no bem-estar das pessoas, gerando ansiedade, medo e desesperança. Nesse cenário, é compreensível que muitos indivíduos busquem refúgio nos templos e igrejas, esperando encontrar respostas e conforto emocional. Aí encontra-se o perigo do poder de alguns líderes. Enquanto alguns são verdadeiros guias espirituais, comprometidos com os princípios do amor, compaixão e justiça, outros podem abusar de seu poder, manipulando a fé das pessoas em benefício de suas próprias crenças.  

A adoração cega a esses líderes pode resultar em consequências negativas, como a disseminação do ódio e intolerância, em vez de promover a verdadeira paz e harmonia. Afinal, como Deus seria amor se ele odiasse? O amor é capaz de odiar? A dependência excessiva da esperança oferecida pelas igrejas pode limitar a capacidade das pessoas de enfrentarem os desafios da vida de forma independente ou construtiva.

Ao transferir toda a responsabilidade para pastores ou outros guias espirituais, corre-se o risco de negligenciar a importância da ação individual e coletiva na construção de uma sociedade mais justa e empática. Questionar a influência dos líderes dessas instituições não significa negar a importância da fé e da esperança encontradas nas igrejas. No entanto, é fundamental adotar uma abordagem crítica, buscando um equilíbrio saudável entre a confiança em verdadeiros chefes cristãos e o desenvolvimento de uma autonomia pessoal. A sociedade precisa reconhecer sua própria força e capacidade de agir para promover mudanças positivas.  

Líderes como André Valadão reconhecem o seu poder de influência sob os demais fiéis e se aproveitam do espaço público para promover mais ódio a essas classes sociais. Propagando a palavra de um Deus odioso, uma mensagem que foca em presumidos desvios, pecados e que julga os demais cidadãos que não se sustentam em uma crença baseada na ideia de “nós, cristãos, estamos debaixo da graça, santificados, contra eles, pecadores e abominados pelo nosso Deus” - uma mensagem assim não apenas propaga o ódio, não é apenas contra a vida: ela mata!

Vale lembrar que André Valadão já foi acusado outras vezes de propagar informações falsas contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E o mesmo se retratou na internet mentindo, mais uma vez, dizendo que o TSE o havia intimado a negar que Lula seja a favor do aborto e da descriminalização das drogas. Na época, a corte negou a existência da decisão. Entretanto, o pastor usou da narrativa de “perseguido”, com imagens gravadas em um fundo escuro, roupa preta, para transparecer a ideia de que estava sendo silenciado ou forçado a se retratar. O vídeo em questão acumula mais de 15 milhões de reproduções. 

É fundamental compreender que os dogmas religiosos podem e devem ser interpretados de maneira contextualizada, levando em consideração a evolução social, os avanços científicos e a compreensão cada vez mais ampla dos direitos humanos. Uma interpretação aberta, inclusiva e compassiva dos preceitos religiosos pode permitir que eles sejam fonte de inspiração e bem-estar espiritual, ao mesmo tempo em que respeitam a diversidade e promovem a coexistência pacífica. 

É importante destacar que nem todos os fiéis praticantes adotam uma visão dogmática inflexível. Muitos seguidores de diferentes religiões têm uma compreensão mais inclusiva e progressista de suas crenças, buscando conciliar sua fé com o respeito pelos direitos e a valorização da diversidade humana. Para evitar que a doutrina religiosa se transforme em preconceitos e políticas de ódio, é necessário promover o diálogo inter-religioso, a educação para a tolerância e o respeito mútuo. É fundamental encorajar a reflexão crítica, a abertura ao conhecimento e o reconhecimento dos valores fundamentais dos direitos humanos.



 


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terça-feira, 27 de junho de 2023

A economia nos governos Lula e a "sorte" que o persegue

  Uma análise fundamentada dos feitos conquistados


Por Maria Eduarda Salgado 


Ao longo dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é notória a trajetória econômica positiva que o Brasil experimentou. No entanto, alguns críticos, desafetos de Lula, insistem em afirmar que sua gestão foi apenas fruto de sorte, uma maneira de minimizar seus feitos e conquistas. Dito isso, uma análise aprofundada dos acontecimentos revela que seus resultados econômicos foram fundamentados em políticas competentes e estratégicas, não em meros acasos.


Desde o início de sua jornada política, Lula demonstrou resiliência e determinação, superando obstáculos e desafiando as expectativas. Sua origem humilde, como migrante nordestino, moldou sua personalidade e fortaleceu sua determinação em trazer mudanças para o país. Ao ser eleito presidente por três vezes, Lula não apenas ignorou as críticas de falta de competência, mas também mostrou que suas habilidades políticas iam além da sorte. Sua trajetória de sucesso é um testemunho de seu compromisso com a transformação do Brasil.


Uma das críticas frequentes é a alegação de que Lula depende da sorte quando precisa negociar com o Congresso Nacional. Contudo, é evidente que sua capacidade de articulação política e o apoio conquistado no Senado e no Supremo Tribunal Federal são fundamentais para garantir avanços em sua gestão. Recentemente, o Supremo formou maioria de votos a favor da incidência do PIS/Cofins sobre toda a atividade empresarial, uma vitória para a União. Essa decisão, que beneficiará a seguridade social e a arrecadação em R$ 115 bilhões, reflete a importância de políticas econômicas consistentes e bem fundamentadas.


Ainda, é importante salientar que a economia global tem sido favorável ao Brasil durante o governo de Lula. Contrariando as expectativas de uma atividade mundial mais fraca, o país tem obtido resultados positivos na balança comercial, com previsões de um superávit recorde acima de US$ 70 bilhões em 2023. Essa conjuntura positiva é resultado não apenas da sorte, mas também das políticas adotadas pelo governo, que trouxeram estabilidade e confiança aos mercados.


Os programas sociais implementados durante os governos de Lula, como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, a Farmácia Popular e o Mais Médicos, têm trazido benefícios reais para a população brasileira. O recente lançamento do programa Desenrola, que auxiliará famílias de baixa renda com dívidas, é mais uma prova do compromisso do governo com a inclusão social e a redução das desigualdades. Essas iniciativas são resultado de políticas planejadas e implementadas com base em sólidos fundamentos, não de meras coincidências ou sorte.


É evidente que o sucesso dos governos de Lula vai além da sorte. O ex-presidente demonstrou habilidade ao buscar o diálogo com setores que, inicialmente, não o apoiavam, como o agronegócio. Essa aproximação resultou em uma maior estabilidade política e econômica, mostrando que a competência e o compromisso podem superar divergências ideológicas.



Diante dos avanços conquistados pelo Brasil durante os governos de Lula, é hora de reconhecer que suas capacidades políticas excedem as expectativas. A economia em ascensão, os programas sociais bem-sucedidos e a estabilidade política são resultados de um trabalho árduo e de políticas públicas bem fundamentadas. A "sorte" mencionada por alguns críticos não passa de uma tentativa simplista de diminuir o impacto positivo de uma gestão comprometida com o desenvolvimento e o bem-estar da população brasileira.


Nesse sentido, é importante olhar além das narrativas superficiais e reconhecer o legado positivo deixado pelos governos de Lula. O Brasil alcançou patamares mais elevados de desenvolvimento graças às políticas econômicas consistentes, à competência e à visão estratégica de seu líder. É hora de valorizar a capacidade de transformação e o compromisso com o progresso, em vez de perpetuar visões distorcidas e desprovidas de fundamentos.


É importante ressaltar que a crítica construtiva é fundamental para aprimorar qualquer governo e buscar melhorias para a sociedade. No entanto, atribuir o sucesso de Lula apenas à sorte é minimizar os méritos de suas ações e subestimar sua competência como líder político. Seus feitos econômicos, a estabilidade alcançada e a implementação de programas sociais bem-sucedidos são resultados de uma visão estratégica e de um compromisso genuíno com o bem-estar da população.



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terça-feira, 30 de maio de 2023

“Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”

 A morte de Rita Lee, 75, e a repercussão lamentável do jornalismo brasileiro.



Por Laís Abreu

“Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão ‘Ovelha negra’, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you Lord, finally sedated'” (Trecho de Rita Lee: uma autobiografia, de 2016).

“Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa” foi a frase escolhida pela própria Rita Lee para ornar sua lápide. A cantora e compositora, rainha brasileira do rock, morreu aos 75 anos na noite do dia 8 de maio, após lutar contra um câncer no pulmão. O epitáfio também  foi retirado do livro Rita Lee: uma autobiografia.

Embora a artista tenha previsto sua própria morte, ela não devia esperar tamanha maldade do Jornal Folha de São Paulo, ao noticiar sua partida. Infelizmente, repleto de insensibilidade, publicaram: Rita Lee, rebelde desde a infância, se deixou guiar por drogas e discos voadores”. Uma matéria lamentável, que reflete o quanto o jornal se deixa levar pelo desespero, com chamadas desrespeitosas, cheias de sensacionalismo barato.

Rita foi muito mais que sua vida pessoal. Rita foi artista e mesmo que muitos não concordem com o jeito que ela levava a vida, o respeito nesse momento era primordial, a ela, à família, aos fãs e amigos. Rita ajudou a incorporar a revolução do rock à explosão criativa do tropicalismo, formou a banda brasileira de rock mais cultuada no mundo, os Mutantes, e criou canções na carreira solo com enorme apelo popular sem perder a liberdade e a irreverência.

Rita foi modernidade, referência de criatividade e independência feminina durante os quase 60 anos de carreira. O título de “rainha do rock brasileiro” veio quase naturalmente, mas ela achava “cafona” - preferia “padroeira da liberdade”.

A Folha de S.Paulo, em uma lamentável postura, diante de tantos destaques que poderiam dar, escolheu o pior de todos eles. Faltou ética, faltou sensibilidade, faltou profissionalismo, faltou humanidade, faltou jornalismo. E ainda dizem que esse é o maior jornal do país. Como futura jornalista, tenho medo de conhecer até qual é o menor, se é essa a referência que temos.

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Caso Henry Borel e Dr. Jairinho – a queda da censura feita por uma instituição republicana ao permitir a exibição do crime no programa Linha Direta

 O crime que chocou o país foi mostrado pelo programa noturno da emissora carioca após a defesa de Dr. Jairinho solicitar e conseguir na justiça a proibição da exibição do caso

Por Vitor Faria Silveira

Na última quinta-feira (18/05) a TV Globo exibiu o programa Linha Direta, apresentado por Pedro Bial, que abordou o caso Henry Borel, crime em que o ex-vereador do Rio de Janeiro, Dr. Jairinho, foi acusado de cometer, juntamente com sua mulher e mãe do garoto, Monique Medeiros. A emissora entrevistou o pai do menino morto em março de 2021 e reconstituiu o crime que chocou o país após a liberação da exibição do caso pelo STF. A defesa de Dr. Jairinho havia solicitado e conseguido, por meio de uma juíza do Rio de Janeiro, que o programa não abordasse a morte de Henry Borel. O ministro do Supremo, Gilmar Mendes, reforçou que a corte tem um entendimento consolidado a favor da liberdade de imprensa.

Após a exibição do crime, cometido há quase dois anos, o caso, que havia tido bastante repercussão na época, voltou a ser muito comentado nas redes sociais. Na manhã de sexta-feira (19/05), os termos ‘Linha Direta’, ‘Henry’ e ‘Jairinho’ estavam entre os assuntos mais comentados do Twitter. Grande parte das publicações foram de pessoas pedindo justiça pelo crime ou se emocionando e desejando forças para o pai do menino, Leniel Borel.

Aqui vale mencionar que a família de Dr. Jairinho é uma família influente na política do Rio de Janeiro e é acusada de ter ligação com a milícia que domina grande parte da cidade. O médico, que nunca exerceu a profissão, entrou para a política em janeiro de 2004, sob a influência do pai, coronel Jairo. As informações são do Jornal da Band de 08 de abril de 2021. O militar é citado na CPI das milícias em 2008 como um dos líderes da “Liga da Justiça”, maior milícia do Rio naquela época. Conhecida hoje como “Bonde do Ecko”, essa mesma milícia domina quase 60% da cidade.

A exibição desse crime em um conhecido programa criminalístico da TV Globo, que havia sido extinto há 16 anos e que retornou em 2023, mostra como a prática da censura à imprensa e a outros veículos de mídia retornou e mudou sua forma de ocorrer no país após a redemocratização do Brasil em 1985.

Durante a ditadura militar, com a instalação do AI-5, restringiu-se e agrediu-se, de forma muito dura, a liberdade de imprensa no país por  meio da restrição direta aos meios de comunicação. Naquela época, o país ainda vivia a industrialização, o que fazia o capital entender que a sociedade brasileira precisava passar por um endurecimento das leis que regiam a mesma naquela época.

Após 38 anos da redemocratização, assistimos novamente à censura ocorrendo no Brasil, agora praticada não pelo endurecimento das regras, mas pelo desregramento da sociedade, promovido pela desindustrialização ao qual o país passa.

A censura que presenciamos, atualmente, advém da defesa de acusados de estarem envolvidos com as milícias espalhadas, principalmente, pelo Estado do Rio de Janeiro. E esta é apenas mais uma prática de censura que figuras públicas acusadas de estarem ligadas às milícias realizam. Para citar outro exemplo, durante a pandemia de Covid-19, o governo Bolsonaro dificultou a divulgação de dados referentes ao número de casos e de mortes decorrentes da maior crise de saúde pública do século no mundo.

Para pôr fim ao impedimento da TV Globo de mostrar o caso Henry Borel na TV Aberta em horário nobre, uma instituição republicana “entrou em cena” para assegurar a liberdade de imprensa e mostrar ao público a realidade dos fatos. Devido à derrubada da decisão de uma juíza da justiça do Rio de Janeiro, o STF, sob a batuta do ministro Gilmar Mendes, assegurou o direito da emissora de mostrar a barbaridade que foi o crime cometido contra o menino Henry.

Essa ocorrência mostrou o papel fundamental  das instituições da República, através da instância máxima do poder judiciário, no exercício da liberdade de imprensa e de expressão, o que comprova a importância da função do Estado na garantia de direitos em nossa sociedade.

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