quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
O vício em games e a gamificação: entretenimento e dependência
terça-feira, 7 de novembro de 2023
O apagamento das dores sociais: quando o espetáculo ofusca as necessidades reais
Por Maria Eduarda Salgado
quarta-feira, 4 de outubro de 2023
Narciso acha feio o que não é espelho
A miséria do jornalismo brasileiro em dois atos
segunda-feira, 2 de outubro de 2023
A vida privada como produto
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
O que revela a cobertura do caso Larissa Manoela
Aumento da audiência de casos que envolvem personalidades do mundo do espetáculo pode indicar um ciclo vicioso cujo resultado é a democracia ferida de morte
Por Vitor Faria Silveira
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
Por uma pedagogia das mídias
Por Laís Abreu
Caso Larissa Manoela e seus desdobramentos deixam, mais uma vez, clara a necessidade e a urgência de uma educação para a mídia nas escolas
“Gente, o que é isso? Onde é que essa história vai parar? Quando vai parar? E ainda por cima é Dia dos Pais! Se toca, Fantástico! A data é comemorativa, pra celebrar o amor entre pais e filhos, não cabe reportagem sobre uma relação em fase destrutiva como essa da Larissa Manoela”, criticou Sônia.
“Por que não levar ao ar a história linda de Tatá Werneck com os pais, que tanto emocionou no decorrer da semana, quando a atriz completou 40 anos? Sim, a história de Larissa é polêmica, mas não perderia a atualidade se fosse exibida no próximo domingo, mesmo porque, infelizmente, não se sabe quando vai terminar e nem parece que terá um final feliz”.
Por fim a apresentadora completou: “Colocar conflito acima do amor foi um critério muito duvidoso na escolha da matéria! Triste isso”
quarta-feira, 2 de agosto de 2023
Humor, liberdade de expressão e o apagamento histórico no Brasil: Léo Lins e a banalização do preconceito
Por Maria Eduarda Salgado
No centro do debate sobre os limites do humor e a liberdade de expressão no Brasil, o humorista Léo Lins foi alvo de críticas após ser obrigado por uma juíza a deletar do seu canal um show em que fazia piadas de teor controverso e ofensivo. No entanto, mais do que a atenção voltada para o comediante, é o comportamento de uma plateia conivente que ressalta o problema mais profundo.
O show em questão continha piadas abusivas sobre temas sensíveis como escravidão, perseguição religiosa, minorias, pessoas idosas e com deficiências. A plateia, em sua maioria branca, riu diante de conteúdos que não deveriam ser encarados com humor, revelando, no mínimo, ignorância e insensibilidade diante das graves questões sociais que o país enfrenta. Em uma das falas que mais geraram revolta, Lins tira sarro de “pretos que reclamam por não conseguirem emprego, mas que acham ruim os tempos de escravidão onde eles já nasciam empregados.”
É preocupante que, em pleno século XXI, temas como o desemprego entre a população negra ainda sejam tratados como piada. Em vez de abrir espaço para debates necessários, o conteúdo do show de Léo Lins apenas reforça o apagamento histórico que ocorre no Brasil, permitindo que feridas profundas não sejam devidamente discutidas e superadas.
Ao olharmos para outras nações, como a Alemanha, que enfrentou os seus traumas históricos e fantasmas, e busca ativamente combater, por exemplo, os efeitos do Holocausto, percebemos a diferença gritante. Enquanto lá existe uma lembrança crítica sobre o passado, no Brasil, o genocídio indígena e a escravidão negra ainda são minimizados e tratados como se não fossem causas de injustiças históricas.
A ausência de políticas públicas efetivas e a impunidade dos envolvidos em ditaduras militares também são retratos de um país que falha em reconhecer e enfrentar o seu passado. O apagamento histórico se estende à história preta e nativa do Brasil, onde a população negra e indígena ainda luta por reconhecimento, respeito e indenizações que se fazem necessárias para combater as desigualdades construídas ao longo da história. Mas aqui, na terra do genocídio indígena, a demarcação de terra ainda é visto por muitos como privilégio. Ainda em 2023, as escolas ensinam sobre a catequização dos indígenas como uma interação positiva entre culturas distintas.
Enquanto a Argentina e o Chile, ao longo dos anos fizeram julgamentos históricos e condenaram diversos militares envolvidos nas ditaduras de seus países, e o Uruguai chegou a fazer um ex ditador morrer de velhice na cadeia, a lei que anistia os militares brasileiros fez com que ninguém fosse condenado por nada, que esses processos não só servem para amenizar para o lado de quem deveria pagar, mas também têm como objetivo reescrever a história e, se possível, apagá la. Se na Alemanha negar o Holocausto é um crime que leva a cadeia, por aqui nada acontece com quem homenageia abertamente torturadores. Por vezes, quem o faz é até alçado à presidência.
Discutir indenizações, de fato faz sentido quando se vive em um país onde a sua fortuna foi construída sobre mãos escravizadas durante 2/3 de sua história, seja o trabalho escravo ou o condicionamento de subemprego da população preta de hoje em dia, ambos têm a ver com a geração de riquezas. Portanto, é justo o debate econômico quando até tirar sarro da pobreza preta faz o humorista rico.
Não se trata, portanto, de censurar o humor ou a liberdade de expressão, mas sim de questionar o tipo de humor que perpetua o preconceito e reforça estereótipos, ignorando a realidade de tantas pessoas que ainda sofrem com as consequências de um passado marcado por violência e opressão.
O debate sobre os problemas históricos do Brasil deve ser constante, incômodo e insistente. Quando evitamos enfrentar essas questões, permitimos que elas se perpetuem e, pior ainda, que sejam tratadas com graça. Léo Lins é apenas um exemplo do sintoma de um problema maior que necessita de reflexão e ação da sociedade como um todo.
Portanto, cabe a todos nós, cidadãos e mídia, a responsabilidade de discutir e confrontar os problemas do nosso passado e presente. A liberdade de expressão é importante, mas deve caminhar lado a lado com a responsabilidade social e o respeito pelas vítimas da nossa história.
Neste sentido, é fundamental que a sociedade brasileira se questione sobre como pode contribuir para mudar esse cenário, ampliar a conscientização e construir um país mais justo e igualitário para todos os seus cidadãos.
quarta-feira, 28 de junho de 2023
Um Deus do ódio
O uso perverso da fé cristã como ferramenta de preconceito, intolerância e incentivo à violência contra minorias
Por Paulo Henrique Lima,
“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor." - 1 João 4:7-8 (Bíblia Sagrada)
Assim como nesta passagem, é ensinado na religião cristã a presença de um forte Deus onipresente, onisciente, onipotente, bondoso e misericordioso. Entretanto, a religião se mostra rendida aos dogmas adquiridos como princípios e práticas irrefutáveis dentro da fé. Estes dogmas desempenham um papel importante na definição da identidade e coesão de uma religião ou igreja, fornecendo limites para a crença e a prática. Eles são frequentemente formulados e proclamados por autoridades religiosas com verdades inquestionáveis, destinadas a serem mantidas pelos fiéis.
Recentemente, o pastor André Valadão, líder da Lagoinha Orlando Church, fez publicações de cunho preconceituoso nas redes sociais. No dia 4 de junho, o pastor publicou um post que dizia “Deus odeia o orgulho”, a palavra orgulho em cores da bandeira LGBTQIA+. Não é por coincidência que o pastor escolheu o mês considerado do Orgulho LGBTQIA+ para fazer a publicação de duplo sentido com a palavra “orgulho”. Em um dos trechos deste culto, o pastor diz que junho seria um mês da humilhação, devido ao pecado, e pecado gera humilhação e vergonha. O mesmo diz que os fiéis, presentes no culto, não seriam dominados pelo pecado pois estariam debaixo da graça. Na pregação, é citado o versículo 1 João 1:9 “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.”
Mas o que seria o pecado para eles? O que realmente agrada ou desagrada a esse Deus que odeia? Como esse discurso baseado na ira de um Deus sob a vida do que alguns julgam como abominação reflete na política do ódio polarizado na sociedade? Esses discursos vão além de uma interpretação. Essas crenças e princípios estabelecidos com base nos textos sagrados e tradicionais são rigidamente mantidos e não há espaços para questionamentos ou interpretações contextualizadas, de que surgem os preconceitos radicais. Embora a religião possa desempenhar um papel positivo na vida das pessoas, fornecendo orientação moral e espiritual, é importante reconhecer que os dogmas, quando mal interpretados ou aplicados de maneira extremista, podem ter consequências negativas.
Como exemplo do pastor André Valadão compartilhando frequentemente postagens homofóbicas, além de incentivar as tags “nopride” e “orgulhonao”, contribuindo para a marginalização de certos grupos sociais. São considerados como “pecadores” ou “inferiores” àqueles que não vivem da maneira estabelecida pela comunidade religiosa. Esses preconceitos baseados nas crenças e tradições contribuem ainda mais para a negação dos direitos e dignidade desses grupos na sociedade. As pregações se tornam ferramentas para a promoção de políticas de ódio. Líderes, que ainda têm a sua parcela significativa de influência na opinião pública, são capazes de moldar as políticas com base em preceitos religiosos inflexíveis para restringir a liberdade individual, promover a exclusão e fomentar divisões sociais.
Em tempos de incertezas, conflitos e desafios, a sociedade frequentemente procura respostas e orientações para encontrar um sentido maior em suas vidas. Nesse contexto, é comum que essas instituições religiosas assumam um papel de destaque, oferecendo direção espiritual e esperança para os seguidores. No entanto, essa influência se torna perigosa quando se reflete sobre a fragilidade inerente à sociedade que leva muitos a se apoiarem exclusivamente na palavra que se encontra dentro das igrejas.
As questões sociais, econômicas e políticas têm impactos significativos no bem-estar das pessoas, gerando ansiedade, medo e desesperança. Nesse cenário, é compreensível que muitos indivíduos busquem refúgio nos templos e igrejas, esperando encontrar respostas e conforto emocional. Aí encontra-se o perigo do poder de alguns líderes. Enquanto alguns são verdadeiros guias espirituais, comprometidos com os princípios do amor, compaixão e justiça, outros podem abusar de seu poder, manipulando a fé das pessoas em benefício de suas próprias crenças.
A adoração cega a esses líderes pode resultar em consequências negativas, como a disseminação do ódio e intolerância, em vez de promover a verdadeira paz e harmonia. Afinal, como Deus seria amor se ele odiasse? O amor é capaz de odiar? A dependência excessiva da esperança oferecida pelas igrejas pode limitar a capacidade das pessoas de enfrentarem os desafios da vida de forma independente ou construtiva.
Ao transferir toda a responsabilidade para pastores ou outros guias espirituais, corre-se o risco de negligenciar a importância da ação individual e coletiva na construção de uma sociedade mais justa e empática. Questionar a influência dos líderes dessas instituições não significa negar a importância da fé e da esperança encontradas nas igrejas. No entanto, é fundamental adotar uma abordagem crítica, buscando um equilíbrio saudável entre a confiança em verdadeiros chefes cristãos e o desenvolvimento de uma autonomia pessoal. A sociedade precisa reconhecer sua própria força e capacidade de agir para promover mudanças positivas.
Líderes como André Valadão reconhecem o seu poder de influência sob os demais fiéis e se aproveitam do espaço público para promover mais ódio a essas classes sociais. Propagando a palavra de um Deus odioso, uma mensagem que foca em presumidos desvios, pecados e que julga os demais cidadãos que não se sustentam em uma crença baseada na ideia de “nós, cristãos, estamos debaixo da graça, santificados, contra eles, pecadores e abominados pelo nosso Deus” - uma mensagem assim não apenas propaga o ódio, não é apenas contra a vida: ela mata!
Vale lembrar que André Valadão já foi acusado outras vezes de propagar informações falsas contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E o mesmo se retratou na internet mentindo, mais uma vez, dizendo que o TSE o havia intimado a negar que Lula seja a favor do aborto e da descriminalização das drogas. Na época, a corte negou a existência da decisão. Entretanto, o pastor usou da narrativa de “perseguido”, com imagens gravadas em um fundo escuro, roupa preta, para transparecer a ideia de que estava sendo silenciado ou forçado a se retratar. O vídeo em questão acumula mais de 15 milhões de reproduções.
É fundamental compreender que os dogmas religiosos podem e devem ser interpretados de maneira contextualizada, levando em consideração a evolução social, os avanços científicos e a compreensão cada vez mais ampla dos direitos humanos. Uma interpretação aberta, inclusiva e compassiva dos preceitos religiosos pode permitir que eles sejam fonte de inspiração e bem-estar espiritual, ao mesmo tempo em que respeitam a diversidade e promovem a coexistência pacífica.
É importante destacar que nem todos os fiéis praticantes adotam uma visão dogmática inflexível. Muitos seguidores de diferentes religiões têm uma compreensão mais inclusiva e progressista de suas crenças, buscando conciliar sua fé com o respeito pelos direitos e a valorização da diversidade humana. Para evitar que a doutrina religiosa se transforme em preconceitos e políticas de ódio, é necessário promover o diálogo inter-religioso, a educação para a tolerância e o respeito mútuo. É fundamental encorajar a reflexão crítica, a abertura ao conhecimento e o reconhecimento dos valores fundamentais dos direitos humanos.
terça-feira, 30 de maio de 2023
“Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”
A morte de Rita Lee, 75, e a repercussão lamentável do jornalismo brasileiro.
Por Laís Abreu
“Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão ‘Ovelha negra’, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you Lord, finally sedated'” (Trecho de Rita Lee: uma autobiografia, de 2016).
“Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa” foi a frase escolhida pela própria Rita Lee para ornar sua lápide. A cantora e compositora, rainha brasileira do rock, morreu aos 75 anos na noite do dia 8 de maio, após lutar contra um câncer no pulmão. O epitáfio também foi retirado do livro Rita Lee: uma autobiografia.
Embora a artista tenha previsto sua própria morte, ela não devia esperar tamanha maldade do Jornal Folha de São Paulo, ao noticiar sua partida. Infelizmente, repleto de insensibilidade, publicaram: “Rita Lee, rebelde desde a infância, se deixou guiar por drogas e discos voadores”. Uma matéria lamentável, que reflete o quanto o jornal se deixa levar pelo desespero, com chamadas desrespeitosas, cheias de sensacionalismo barato.
Rita foi muito mais que sua vida pessoal. Rita foi artista e mesmo que muitos não concordem com o jeito que ela levava a vida, o respeito nesse momento era primordial, a ela, à família, aos fãs e amigos. Rita ajudou a incorporar a revolução do rock à explosão criativa do tropicalismo, formou a banda brasileira de rock mais cultuada no mundo, os Mutantes, e criou canções na carreira solo com enorme apelo popular sem perder a liberdade e a irreverência.
Rita foi modernidade, referência de criatividade e independência feminina durante os quase 60 anos de carreira. O título de “rainha do rock brasileiro” veio quase naturalmente, mas ela achava “cafona” - preferia “padroeira da liberdade”.
A Folha de S.Paulo, em uma lamentável postura, diante de tantos destaques que poderiam dar, escolheu o pior de todos eles. Faltou ética, faltou sensibilidade, faltou profissionalismo, faltou humanidade, faltou jornalismo. E ainda dizem que esse é o maior jornal do país. Como futura jornalista, tenho medo de conhecer até qual é o menor, se é essa a referência que temos.
quarta-feira, 24 de maio de 2023
Linha Direta: a volta dos que não foram
De volta à grade de programação, o Linha Direta da TV Globo joga luz sobre a responsabilidade da cobertura midiática em casos sensíveis que envolvem violência pública
Por Vitória Martins
O Linha Direta foi ao ar pela primeira vez no dia 29 de maio de 1990, apresentado pelo jornalista e político Hélio Costa. Porém o programa deixou de ser exibido no mesmo ano, retornando, em 1999, sob comando de Marcelo Rezende e, na sequência, Domingos Meirelles, em 2000, ficando no ar até dezembro de 2007. O programa retorna agora, em 2023, sob a batuta de Pedro Bial, o primeiro apresentador do Big Brother Brasil.
O programa se dedicava a produção de matérias jornalísticas de cunho sensacionalista (mas travestida de investigação), se unindo em uma narrativa com reportagem, entrevista e simulações dos casos policiais ou jurídicos mais famosos no Brasil. Entre críticas, por seu tom de criminalização, o show true crime foi muitas vezes aclamado após contribuir para solução de casos e prisão de foragidos depois de denúncias anônimas ao programa.
Na temporada 2023, a promessa é de que serão exibidos episódios todas as semanas, porém cada episódio tem propósito em relembrar os principais casos contando melhor os fatos através de entrevistas com especialistas, vítimas e sobreviventes dos casos e simulações, bem próximo à linha que seguiam no princípio.
O primeiro episódio do programa chamou atenção do público ao relembrar o caso Eloá, no qual uma adolescente de 15 anos foi sequestrada e assassinada por seu ex-namorado. A abordagem do programa foi surpreendente: Pedro Bial expõe como a interferência dos veículos de mídia atrapalhou nas ações policiais do crime e reforça que ela foi uma das milhares de vítimas de feminicídio.
O ponto positivo desse reexibição é poder trazer reflexões atuais aos telespectadores como a violência contra as mulheres, gerando impacto sobre a sociedade sob um novo olhar, tentando reconstruir a narrativa e incentivar as denúncias contra violência doméstica.
Entretanto, nem tudo são flores: o show true crime retoma os erros tanto da mídia quanto da polícia em relação ao caso, ponderando se o fim trágico poderia ter sido diferente se houvesse seriedade e responsabilidade entre ambos.
Desde o primeiro acontecimento até a morte da jovem os veículos de comunicação estavam por perto feito abutres. Isto foi inegavelmente o pior erro de todo o caso. Durante todas as horas do sequestro, eram reportados em rede nacional os passos da polícia, quais foram as negociações ao assassino, as imagens fortes de Eloá na janela pegando a comida com arma apontada para cabeça. Ao todo, foram mais de 100h de transmissão ao vivo pela TV e mais uma infinidade de programas e quadros e coberturas sobre o caso.
O Antônio Nobre Salgado, o promotor do caso, entrevistado pelo Linha Direta, vai direto ao ponto: uma conversa ao vivo de Lindemberg, o ex-namorado e assassino da adolescente, com a apresentadora Sônia Abrão, notória fofoqueira das tardes na TV brasileira,. foi decisiva para que o assassino tomasse pé do impacto que seu ato tinha na opinião pública. A paritir daí, a negociação que vinha sendo mantida pelas autoridades policiais sofre uma regressão, até o acontecimento culminante do assassinato, transmitido ao vivo.
O promotor, todavia, também não isenta a própria abordagem policial, que deveria, segundo Antônio Nobre, ter limitado o acesso de jornalistas e mídia na cena dos acontecimentos.
O fato de Linha Direta ter retornado com uma abordagem crítica à cobertura da mídia em casos do tipo são uma boa notícia. Se será fiel a essa escolha e não sucumbirá ao sensacionalismo desde sempre presente em programas diários dos concorrentes, só o tempo dirá.