Por Laís Abreu
Caso Larissa Manoela e seus desdobramentos deixam, mais uma vez, clara a necessidade e a urgência de uma educação para a mídia nas escolas
No domingo 13 de agosto, foi ao ar no programa Fantástico da Rede Globo a entrevista de Larissa Manoela, a atriz que acusa os pais, Silvana e Gilberto, de controlarem de forma abusiva suas finanças e carreira, decidiu falar publicamente pela primeira vez.
Na era das redes sociais, a internet potencializou a entrevista, os pequenos cortes que foram soltos antes de começar o programa fizeram um alvoroço no Twitter e Instagram, não obstante, parece inegável o quanto uma entrevista exclusiva em uma mídia “tradicional”, como a TV aberta, ainda são fundamentais para o jornalismo e para o debate público.
O programa, naquele domingo, conquistou o maior índice de audiência, desde 8 de janeiro, quando houve uma edição estendida que mostrava o atentado à democracia naquele dia. O Fantástico também bateu 22,5 pontos de pico, cada ponto de Ibope equivale a 76.953 domicílios na região paulista, portanto, obteve um público estimado em mais 1,5 milhão de casas.
Várias são as análises feitas diante desse jornalismo, a primeira delas é que as redes sociais conferem às pessoas famosas uma sensação de intimidade com seus seguidores, e isso fez com que grande parte dos 49 milhões de usuários que seguiam a famosa, se interessassem pela entrevista em TV aberta. O suspense, a espera durante todo o programa, foi o que fez a diferença neste dia.
Essas são questões importantes, não há dúvida - talvez merecedoras de um texto exclusivo. Mas o que nos traz aqui no Pluris hoje é a análise feita pela apresentadora da RedeTV!, Sônia Abrão, que, na esteira da repercussão pública da entrevista, deu depoimentos algo ambíguos - para não perdermos a elegância -, reivindicando uma sacralidade do dia dos pais, se consideramos sua notória conduta anti-ética.
“Gente, o que é isso? Onde é que essa história vai parar? Quando vai parar? E ainda por cima é Dia dos Pais! Se toca, Fantástico! A data é comemorativa, pra celebrar o amor entre pais e filhos, não cabe reportagem sobre uma relação em fase destrutiva como essa da Larissa Manoela”, criticou Sônia.
“Por que não levar ao ar a história linda de Tatá Werneck com os pais, que tanto emocionou no decorrer da semana, quando a atriz completou 40 anos? Sim, a história de Larissa é polêmica, mas não perderia a atualidade se fosse exibida no próximo domingo, mesmo porque, infelizmente, não se sabe quando vai terminar e nem parece que terá um final feliz”.
Por fim a apresentadora completou: “Colocar conflito acima do amor foi um critério muito duvidoso na escolha da matéria! Triste isso”
Em primeira análise, vale abordar que o programa dividiu a grande audiência da jovem em dois episódios, mas que o público não sabia ainda, como sugeriu Sonia em sua crítica. Mas o fato é que tudo isso nos traz reflexões sobre os juízes do jornalismo: quem de fato pode julgar as reportagens e entrevistas?
Sônia, conhecida fofoqueira das tardes na TV brasileira, foi, em 2008 e apenas para ficarmos em um momentos trágicos que a costumeira atitude da Abrão provoca, uma das personagens decisivas no caso de Eloá. Na ocasião, Abraão teve uma conversa ao vivo com Lindemberg, o ex-namorado e assassino da adolescente. A partir daí, a negociação que estava sendo feita pelas autoridades policiais acabou sofrendo uma regressão e culminou ao assassinato, transmitido ao vivo.
Para nós, jornalistas, é triste ter que expor um caso tão doloroso como o de Sônia e Eloá, para dizer: quem é a apresentadora para julgar e corrigir o Fantástico? Será que, de fato, ela pode dizer sobre ética jornalística? Como a sociedade brasileira lida com essas críticas? Não cabe a nós concordarmos ou discordamos de Sônia, o que trazemos aqui é sobre o alcance que ela tem e o poder de influenciar a opinião da sociedade.
Diante de falas como essas de Sônia, nós, do Pluris, enxergamos cada vez mais a necessidade de uma pedagogia para a mídia, um programa de educação midiática, de leitura crítica da mídia nas escolas. É notório o quanto compreender as práticas do jornalismo desde cedo se faz necessário. Os jovens, que estão diariamente nas redes sociais e que, no dia da entrevista de Larissa Manoela para o Fantástico, foram “transferidos” para a TV aberta precisam saber de um desenvolvimento mais sistematizado sobre o discurso midiático - afinal, se a educação é a preparação para a vida, como não ler de forma crítica a mídia, se ela é a principal fabricante da realidade?
Com a internet, estamos cada dia mais atropelados pelas notícias e acontecimentos, em questão de segundos uma publicação viraliza, uma reportagem se torna velha demais ou desinteressante. Na era em que cada vez mais se leem apenas as manchetes, é preciso que seja introduzido nas escolas uma forma de estudar, ler criticamente, saber interpretar enfim desenvolver competência para filtrar e apurar uma informação - o que, ao menos teoricamente, é feito no jornalismo, seja ele digital, impresso, televisivo ou radiofônico.
Seja como for, apenas a sociedade devidamente equipada com capacidade crítica poderá exigir que um jornalismo que respeite a inteligência do público e não o manipule em nome de audiência fácil. Somente com jovens com competência para desmontar as armadilhas de maus jornalistas e fofoqueiras em geral.
Belíssima colocação!!!
ResponderExcluirMuito bom o texto 👏👏
ResponderExcluirExcelente texto , parabéns por colocar palavras certas em todas as situações 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirRealmente, Sônia não tem direito nenhum de criticar o fantástico 👏👏
ResponderExcluirMuito bom o texto!!!
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