Por Laís Abreu
Nos últimos dias, o mundo vivenciou o desaparecimento do submarino Titan, que carregava quatro passageiros e um piloto em uma viagem turística em direção ao fundo do mar para observar os escombros do Titanic. No entanto, o que nos choca aqui no Pluris é que, uma semana antes, 78 imigrantes oriundos de Afeganistão e Paquistão morreram em um acidente com um pesqueiro no Mediterrâneo. Eles tentavam fugir do Talibã e do Daesh em busca de uma nova vida na Europa. Segundo investigações, foram vítimas de negligência do estado grego, que demorou para agir no resgate.
É claro que a inusitada história do submarino fez com que o público clicasse com voracidade nas matérias: as condições eram péssimas, a viagem custou uma fortuna (US$ 250 mil ou R$ 1,2 mi por cabeça) e seus passageiros eram bilionários. Na mídia, houve até contagem regressiva em relação a quantidade de oxigênio, que se reduzia conforme os dias iam passando. Para as buscas, foram mobilizados aviões, barcos, satélites e submarinos. Após o tempo esgotado, a Guarda Costeira americana informou que foram encontrados fragmentos do submersível, depois de ocorrer uma implosão.
É importante observar, contudo, que dias antes os mesmos meios de comunicação que correram para essa divulgação não cumpriram o seu papel de alerta e de pressão sobre o governo, quando centenas de imigrantes desesperados enviavam mensagens SMS como pedido de socorro. Embora fosse possível salvá-los do afogamento, as autoridades deixaram-nos propositalmente findar no mar.
O que nos assusta é a profundidade e relevância dada a momentos como esses, em que a comunicação tende a visibilizar atitudes insanas em detrimento de outras notícias. Desde 2016, essas cenas de refugiados se tornaram cada vez mais comuns na costa do Mediterrâneo. Porém, isso não ganha tanta atenção na imprensa dos EUA e na imprensa brasileira.
Na era dos caça-cliques, os portais de notícia preferiram dar mais informações sobre quem eram os milionários que estavam a bordo do submarino, detalhes sobre como era feita a viagem, além de uma cobertura diária dos esforços de resgate. No caso do barco dos migrantes, não foram feitos perfis dos sobreviventes ou sequer foram divulgadas as nacionalidades daquelas pessoas.
Os questionamentos são inúmeros: como a morte de imigrantes no fundo do mar se tornou tão corriqueira para o jornalismo? Por que tudo isso merece menos atenção? A vida dos refugiados vale menos que a vida dos turistas bilionários? Essa disparidade de atenção diz muito sobre nossa imprensa e nosso público que a consome.
Não estamos aqui para dizer que não se deveria falar sobre o submarino, mas sim que a atenção aos refugiados deveria ser, no mínimo, a mesma. Como respostas, sabemos que existem diversos fatores que influenciam nessa dinâmica: o racismo, o orientalismo e o próprio discurso anti-imigração que se tornou padrão nos países do primeiro mundo. E, infelizmente, a imprensa brasileira se espelha na imprensa desses mesmos países para fazer sua cobertura.
É preciso acabar com essa política de dois pesos, duas medidas. É preciso socorrer a todos, noticiar, promover empatia e respeito. Para os imigrantes, apenas condições forçadas. Para os bilionários, escolhas de luxo. No fim, só cabe a nós questionarmos: Quantos refugiados lançados ao mar num navio poderiam ser salvos, com bilhões também lançados ao mesmo mar dentro de um submersível?
A desigualdade grita. A vida é injusta. O jornalismo também tem sido. E a conclusão que temos é que morrer no mar é sempre aterrorizante e frio.
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ResponderExcluirParabéns! Texto incrível 👏🏻👏🏻
ResponderExcluirÓtimo texto!! 👏👏👏
ResponderExcluirExcelentes pontos colocados sobre a real discrepância entre a importância dessas vidas na sociedade. Triste mas real! Ótimo texto 👏👏👏
ResponderExcluirExcelente seu texto!
ResponderExcluirÓtimo texto! Excelentes ponderações!
ResponderExcluirParabéns pelo texto !
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