Estereótipos reforçados pela grande mídia e a diferença de tratamento entre pessoas brancas e pretas nos veículos de comunicação nos obriga uma reflexão acerca do racismo estrutural
Por Ariane Stefanie
O Big Brother Brasil (BBB) 2023 já chegou ao fim, mas o programa, pelo seu impacto e desdobramentos, continua sendo relevante e volta mais uma vez como ponto de partida para uma observação do Pluris.
Recentemente, em um quadro do programa Mais Você, comandado por Ana Maria Braga, o “Café com o Eliminado”, em que ex-participantes compartilham sua trajetória no reality show, diferentes legendas que aparecem na parte inferior da tela foram dados a Cezar Black e Bruna Griphao. Enquanto “Black discutiu feio com as desérticas” foi usado para se referir aos desentendimentos do participante com um grupo da casa, Griphao, que teve sua trajetória no BBB marcada por comportamentos agressivos, gritos e palavrões com quase todos do programa, a foi atribuído o “Jeito de falar se tornou sua marca registrada” .
A web se revoltou com o caso e muitos internautas acusaram a Rede Globo de racismo, que reforçou o estereótipo de pessoas pretas sempre vistas como agressivas, enquanto reduziu todo o comportamento problemático de Bruna ao seu “jeito de falar”. O ocorrido, entretanto, não é uma anormalidade. Não só para a Globo, mas para grande parte da mídia hegemônica brasileira, a simples escolha de palavras ao se dar uma notícia, evidencia como os estereótipos racistas são reforçados por esses veículos.
Em 2022, um jovem nazista ataca uma escola no Espírito Santo. Para compor a matéria, sem saber de nenhuma informação sobre o perfil do assassino, o jornal Estadão escolhe uma foto onde as mãos de uma pessoa negra segura uma arma. O jornal Metrópole chama de traficante na manchete e estampa a foto de Felipe Nunes, homem negro, que foi preso com 39 porções de crack, mesmo não sendo o único autor do crime. Já o G1, para se referir a um homem branco, preso com 720 kg de cocaína, “filho de vereador” e “campeão de karatê” é utilizado ao mencioná-lo.
É evidente que a escolha de palavras e termos é pensada de formas diferentes quando falamos de pessoas de raças distintas. E esse estereótipo, reforçado pela mídia, diz muito sobre o racismo estrutural do Brasil, e é apenas um traço de uma sociedade que vive, até hoje, como dito pelo Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, uma “herança maldita da escravidão”.
Em seu livro “Racismo Estrutural”, Silvio explica que vemos o racismo como uma anomalia, no sentido de que, quem o pratica, o faz por patologia físicas e/ou sociais, por ódio ou até mesmo por falta de caráter. Enxergar o problema apenas dessa maneira não explica o racismo em sua totalidade, que precisa ser visto, ainda de acordo com o filósofo, não somente como uma questão individual e sim, como modo de estrutura social.
O racismo, entendido então como um elemento que “integra a organização econômica, social e política da nossa sociedade”, fez com que os preconceitos raciais fossem perpetuados não só na mídia, mas em todas as esferas da sociedade, o que explica a repressão e violência policial, a defasagem de pessoas pretas nas universidades e em cargos de poder, por exemplo, e, essa discrepância de tratamento dado pelos veículos tradicionais de comunicação.
Sílvio diz que “desmantelar as narrativas discriminatórias que sempre colocam minorias em locais de subalternidades” é um dos caminhos para a resolução do problema. É necessário alertar sobre casos como o do BBB, mas, para que a mudança seja efetiva, é preciso pensar em mudanças estruturais. A comunicação alternativa é importante nesse contexto por levantar debates que fogem do discurso hegemônico e dar vozes para aqueles que não são contemplados na grande mídia. Porém, a regulamentação da comunicação, se mostra como o caminho mais efetivo para o fim da perpetuação do racismo no jornalismo e na mídia brasileira.
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