Por Lais Abreu
Grandes jornais brasileiros adotam novas políticas de coberturas de massacres
Segundo a programação do Observatório Pluris, minha pauta desta semana seria outra - mas é preciso falar sobre a onda de massacres em escolas brasileiras e o quanto a mídia pode influenciar nisso.
Na manhã de quarta-feira (05), um homem de 25 anos invadiu uma creche em Blumenau e deixou quatro crianças mortas. O homem foi preso, mas o que nos traz a essa pauta hoje é que o ataque ocorreu menos de dez dias após uma escola em São Paulo ser alvo de um aluno que matou a professora com golpes de faca e deixou outras três feridas, além de um estudante.
Um lugar que era para ser um local de segurança e acolhimento tem sido sinônimo de pânico e medo no país. Desde 2011, mais de 10 escolas foram atacadas por criminosos no Brasil. Tudo isso nos leva a questionar sobre a influência da mídia nestes momentos. Como jornalistas deveríamos noticiar uma notícia tão dolorosa? Entre a dor dos pais, parentes, professores e o sensacionalismo brasileiro, nos perguntamos qual a melhor forma de fazer jornalismo diante da morte de crianças.
De fato, com toda a tristeza da perda e do terrorismo, estudos vêm sendo feitos sobre a forma que a mídia retrata ataques como o de Blumenau. É entendido, cada vez mais, que a imprensa neste momento deve não só informar, mas como também amenizar o “efeito contágio”. Logo após o ocorrido e a grande cobertura midiática em cima desses acontecimentos, o Estado de S Paulo emitiu uma nota sobre sua decisão de não divulgar imagem e nome do terrorista. O ato foi seguido pelo jornalismo do Grupo Globo.
Para nós, jornalistas, um grande exemplo a ser seguido. Embora saibamos que alguns veículos ainda irão propagar o sensacionalismo em busca de audiência, é necessário lutarmos cada vez mais pelo apaziguamento, lutar pela dor das mães, dos pais e pela paz das crianças. Dar detalhes sobre a agressão, descrever passo a passo, mostrar nome e imagem dos autores, é dar a fama que o assassino tanto quer, criando um processo de “santificação”, tornando-o um grande espelho para aqueles que pretendem fazer o mesmo.
Além disso, as coberturas extensas sobre os massacres, o questionamento sobre o que levou o autor a cometer o crime, a exposição da vida do mesmo, podem influenciar diretamente jovens e adolescentes também. Por isso, é importante que a mídia reconheça seu papel e siga em busca de empatia e melhorias. Diminuir o tempo de cobertura, evitar chamadas ao vivo com pessoas envolvidas, se atentar às manchetes sensacionalistas que divulgam o número de mortos. Para as mídias onlines também é preciso mudanças, é importante também restringir os comentários, para que não propague opiniões que possam afetar o próximo.
Embora a curiosidade da população seja grande, embora venha um consolo em forma de egoísmo com o “Deus me livre disso”, embora a sociedade brasileira ainda esteja acostumada com essa ferida, é preciso mudar. Caco Barcellos disse uma vez, sobre o jornalismo: “Essa é uma profissão que combina com os poetas, por exemplo, com pessoas que gostam de outras pessoas. É fundamental ser apaixonado por gente, senão não dá certo”. Que nós jornalistas sejamos capazes de amar ao próximo, de pensar na inocência de cada criança, na sensibilidade que devemos ter por cada pai, mãe e responsáveis, ainda que nossa vontade seja gritar ao mundo e fazer justiça por essas mesmas pessoas, que saibamos agir da melhor forma por elas.
Sem propagar o ódio, sem enaltecer o erro, sem dar visibilidade àquilo que machuca. Que saibamos ser apaixonados por gente, assim iremos noticiar com o respeito, acolher com sensibilidade e viver o luto dessas pessoas.
Excelente e pertinente texto! Necessária decisão de não dar “palco” a esses terroristas e a imprensa fazendo seu papel.
ResponderExcluirMuito importante não dá "fama" ao assassino.
ResponderExcluirÓtimo texto!
SÁBIAS PALAVRAS... EXCELENTE TEXTO!
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