Por Ariane Stefanie,
Na era da informação, quando a tecnologia se faz cada vez mais presente nas interações sociais, com a velocidade da rede e com a hiperconectividade, o imediatismo é cada vez mais requisitado. Com isso, o jornalismo precisa se adaptar às novas formas do fazer jornalístico e se reinventar,de modo que a mensagem consiga alcançar um público de maneira eficaz, isto é, que fure “bolhas”, gere engajamento orgânico e seja, o conteúdo mesmo, um acontecimento. Porém, a facilidade obtida por meio das tecnologias também carrega um desafio: como fazer isso sem cair no sensacionalismo, desinformação e sem utilizar as infiéis estratégias de clickbait?
O fenômeno Choquei é algo interessante de se observar para a compreensão do fenômeno. Com 4,5 milhões de seguidores no Twitter e 19,2 milhões no Instagram, o portal, que se autodenomina como “sua principal fonte de notícias, com tudo sobre os acontecimentos mais recentes do Brasil e do mundo”, possui um alcance gigantesco nas plataformas digitais. Com linguagem de fácil entendimento, “GRAVE” e “URGENTE”, com emojis de sirene antes de quase todas as publicações, pouco texto e mais recursos visuais, a Choquei consegue chamar a atenção dos usuários e obter o que muitos portais jornalísticos não conseguem: Engajamento. Então, qual o problema?
A polêmica que permeia Choquei está justamente no que foi dito inicialmente, que, embora recursos de aderência do consumidor utilizados desde sempre, quando banalizados ou têm seu uso indiscriminado, são prejudiciais ao jornalismo: sensacionalismo, desinformação e estratégias infiéis de clickbait, conteúdos produzidos apenas para gerar “cliques” consequente monetização.
Em um dos vários exemplos que podem ser citados, a página fez um tweet em que dizia que "dezenas de milhares de corpos" estavam nas ruas de Kiev, capital ucraniana, no início da Guerra entre Rússia e Ucrânia. Cerca de 12 horas depois, o post foi desmentido pela Lupa, mas já acumulava mais de oito mil retweets e cerca de 37 mil curtidas, apenas no Twitter.
O conteúdo apresentado pela página, na maioria das vezes, segue esse mesmo padrão. As informações dadas pela Choquei não possuem fontes, nem mesmo é feito um trabalho de apuração ou então, no pior dos casos, são tiradas de contexto ou exageradas, para gerar movimentação nas redes. Ou seja, o objetivo do portal, nunca foi o de informar, e sim, de engajar, visto que não há, em seus conteúdos, um trabalho jornalístico, nem mesmo um compromisso com a verdade dos fatos.
A publicação foi feita há cerca de um ano. O que significa que a equipe da Choquei poderia, de alguma forma, ter compreendido o quão prejudicial é o tipo de conteúdo que promove, certo? Bom, isso não parece ser uma realidade tão próxima. Ainda nesse mês de março, a página veiculou um vídeo do TikTok, em que tratava sobre as diferenças de detergentes pelas cores. No vídeo compartilhado, a pessoa fala que o detergente verde, usado para tirar cheiros fortes de louças, pisos, vidros e estofados, seria para lavar o rosto.
(Reprodução/Redes Sociais)
A publicação, que conta com mais de sete milhões de visualizações, continua na plataforma, mesmo após diversos comentários os acusando de distribuir fake news e não possuir responsabilidade com seu público. Apesar de a Choquei trazer uma reflexão importante sobre os formatos adotados pelos veículos “tradicionais” para a veiculação de informações e os desafios de se engajar nas redes digitais com conteúdo jornalístico, a página é um desserviço e não possui responsabilidade com seus milhões de usuários que a acompanham. Para finalizar, digo: Não use detergente no rosto e principalmente, não faça da Choquei a “sua principal fonte de informações”. Nenhuma das duas decisões te trarão benefícios no final.
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