Por Laís Abreu
O sertanejo, como gênero musical, tem suas raízes na chamada música caipira, de longa tradição no Brasil . Apenas a partir da década de 1970, com a intensificação do êxodo rural e o fenômeno da industrialização do campo, o sertanejo, tal como conhecemos, emerge, mas ainda assim com temáticas sobre o modo de vida do homem do campo, a nostalgia, a romantização de um campo idílico. A partir daí, todavia, a rápida transformação do cenário do agronegócio em um mundo globalizado, transformou o gênero, então chamado de “sertanejo universitário”, que passou a tematizar formas o homem abandonado, traído e cada vez mais bêbado.
Não é novidade para ninguém que o que turbinou o sertanejo universitário foi o investimento milionário do agronegócio. A indústria busca criar uma imagem do homem de bem e do campo, construindo um estereótipo forte de que o “agro é pop, o agro é tech e o agro é tudo”. E se aproveitou disso, para lançar o que chamamos de “agroboy”. O termo se refere aos fazendeiros, que andam de caminhonete, se vestem como cowboy e são os verdadeiros riquinhos da zona rural. Normalmente, um “agroboy” é bem sucedido, malhado e ainda ostenta uma vestimenta super característica.
Se há 20 anos fosse perguntado às pessoas na rua o que é o agronegócio, uma boa parte delas não saberia responder. Hoje, a resposta consensual é “a indústria que alimenta o país”. Paralelamente, houve um incremento da indústria cultural, que abandonava a tendência das décadas de 80 e 90, o axé soteropolitano, para investir massivamente no sertanejo universitário. As letras dessa nova vertente musical, surgem como forma de aguçar ainda mais toda essa imagem positiva do agronegócio. A rápida ascensão de estrelas do gênero, com sua verdadeira fixação com a ostentação, foi mais um elemento para a fama - e a certeza de que o agro de fato é a indústria riqueza do país.
Assim, vai se construindo a imagem do “agroboy” e do “agronejo” que veio para operar como máquina nessa propaganda da indústria agropecuária, escondendo todo o desastre humanitário e ambiental do setor. O investimento vai muito além de shows - aliás, como recentemente descoberto, pagos com cachês milionários originários dos recursos parcos de cidades paupérrimas dos rincões brasileiros. E tudo feito sem a devida transparência pública -, mas também na própria divulgação dos cantores sertanejos em rádios, novelas e feiras de pecuária, não esquecendo dos programas de agro e das campanhas realizadas a favor dele.
Não é meramente um sucesso orgânico, vindo apenas pelo gosto das pessoas, ele é produzido através dos recursos midiáticos do país. No entanto, é preciso que a sociedade em geral se atente que atrás dessa famosa “modinha”, infelizmente, temos uma série de problemas que essa indústria do agronegócio esconde.
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