segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O NOVO POPULISMO E SEUS RISCOS (I)

 Por Gilson Raslan Filho 

Há um consenso sobre a importância central do Deputado mineiro André Janones 
nas eleições gerais deste ano, mas quais são os riscos do novo populismo que defende?


Textos de observatórios – especialmente os de mídia e de acontecimentos cotidianos, como este, que exigem alguma urgência no tratamento, em razão da temporalidade ultra acelerada da cultura midiática contemporânea – têm a virtude de apontar intuições e pistas para fenômenos complexos, que eclodem aqui e ali no tecido cotidiano. Essa virtude porém denuncia uma limitação importante: a rapidez na formulação de análises de acontecimentos complexos, no calor de sua eclosão, quase sempre torna os textos de observatórios parciais, quase superficiais.

Esse é o risco que se corre ao acompanhar acontecimentos das eleições gerais brasileiras deste ano. E mais ainda quando se entra em um terreno arenoso das lideranças políticas que têm nas redes sociais seu principal campo de atuação. Esse é o caso do deputado mineiro André Janones, sobre cuja atuação este texto e aproxima - e a temática se desdobrará em outros textos nas próximas semanas, dada a riqueza de temas que merecem atenção.

Janones é um verdadeiro fenômeno eleitoral. Mineiro de Ituiutaba, onde se formou em direito, ele se orgulha de suas raízes populares e gosta de lembrar que pagou sua faculdade sendo trocador de ônibus e que é filho de empregada doméstica. O deputado federal e candidato à reeleição retirou em agosto sua candidatura à presidência da República para apoiar o ex-presidente Lula.

Sua carreira política é tão meteórica quanto tortuosa: foi militante da corrente petista Democracia Socialista do Partido dos Trabalhadores até 2012, quando dá uma guinada à direita e se filia ao conservador Partido Social Cristão – que atualmente abriga o deputado estadual por MG e candidato ao Senado com apoio do presidente Jair Bolsonaro Cleitinho Azevedo, como Janones, ambientado nas redes sociais e com quem chegou a atuar proximamente. Em 2018, foi eleito no não menos conservador e ideologicamente disforme Avante, na esteira da estridente atuação em defesa dos caminhoneiros em greve naquele ano, um movimento que, apesar da pauta difusa, foi tomado por agenda proto-fascistas e deu forma ao refluxo ora conservador, ora autoritário que floresceu no Brasil nos últimos quatro anos.

Atualmente, o deputado André Janones tem um papel considerado decisivo nas eleições gerais, atuando em suas redes sociais como um “Carluxo do bem” da campanha do petista. Nas redes, Janones vem adotando uma estratégia belicosa, no mesmo molde das estratégias dos militantes de extrema-direita que mantêm um patamar de popularidade do presidente da República que lhe garante legitimidade no cargo. A estratégia, até o momento, tem dado certo e como o próprio deputado volta e meia lembra, o barulho e as provocações têm pautado e desnorteado a campanha de Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, suas manifestações de campanha e as muitas entrevistas que tem dado proferem um discurso facilmente identificado com pautas do campo ideológico das esquerdas.

O caminho trilhado por Janones poderia muito bem ser taxada de errático e, no limite, oportunista. Ele próprio, todavia, denomina sua trajetória como uma manifestação do que chama de populismo, isto é, ele próprio se pauta pelas temáticas urgentes, as demandas das camadas populares – e, por essa razão, para se adaptar ao momento histórico “do povo”, ele provoca idas e vindas em sua postura.

Como se vê, há muito a se refletir sobre o fenômeno do “novo populismo” encarnado por André Janones, em razão da relevância político-eleitoral que alcançou e seu extraordinário manejo das redes sociais. Os próximos textos tentarão se aproximar um pouco do fenômeno.


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