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terça-feira, 19 de julho de 2022

Jornalismo, Política e o desaparecimento de Bruno e Dom Phillips

 Por Lais Abreu 


No dia 5 de junho de 2022, o Brasil foi surpreendido com a notícia do desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira. Ambos faziam uma expedição na região do Vale do Javari, no estado do Amazonas, e desapareceram no trajeto entre a comunidade São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM). No dia 3 de junho, os dois haviam se deslocado para visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontrava próxima ao Lago do Jaburu, local onde o jornalista fez algumas entrevistas. No domingo (5), eles saíram rumo à cidade de Atalaia do Norte, onde deveriam ter chegado por volta das 9h e não chegaram. Por volta das 14h do mesmo dia, indígenas saíram em buscas dos dois, mas não obtiveram sucesso.  

A mídia brasileira abordou o assunto apenas na segunda-feira, após a mídia internacional e usuários das redes sociais começarem a se comover. Dias seguidos de notícias sobre as buscas se sucederam; no entanto, apesar de tantas informações, os brasileiros seguiram sem resposta: onde estava Bruno e Dom Phillips? 

A omissão do poder público com o caso demonstra a forma que os telejornais em horário nobre retrataram o assunto. De um lado temos a Rede Globo, por meio do Jornal Nacional e matérias diárias, acompanhando as buscas, fazendo a checagem do assunto, criando reportagens, explicando cada detalhe, caminho percorrido, depoimentos dos familiares, motivos e causas dos desaparecidos, cobrando por uma resposta e transmitindo o descaso do presidente ao ser questionado sobre o fato. E de outro lado temos o jornal da emissora Record, que brevemente falou sobre o desaparecimento e cobertura, sem muito se envolver com os desdobramentos do caso. 

Depois de quase dez dias de cobrança, o acontecimento caminhou para um trágico desfecho. Somente na quarta-feira (15) os suspeitos confessaram o crime. O que é possível observar com a comparação entre as reportagens é uma mídia sem voz, ocultando a notícia e os fatos diante de uma opinião política que a empresa Record transmite. Sendo assim, o telespectador se torna vulnerável perante uma emissora que, em vez de manter a ética no jornalismo, prefere manter a opinião política e transmitir apenas o básico sobre temas que envolvem o atual presidente do país. 

 Dessa forma, constata-se que tanto a Rede Globo quanto a Record terão seus telespectadores fiéis como consequência da opinião política que transmitem. Para os jornalistas que buscam mais profissionalismo, o que deve ser feito é se isentar da opinião e focar em relatar, com precisão, os fatos, com a complexidade que o acontecimento merece.


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