Por que a pandemia ainda não acabou...
Por Brígida Magalhães
Festas, eventos, viagens e, principalmente, ele não. O avanço da vacinação contra a Covid-19 camufla os reais avanços do vírus pelo Brasil e traz uma aparente sensação de normalidade. Após um ano e cinco meses de exaustão, com um cenário de extrema pobreza avançando no país e quase 600 mil óbitos por coronavírus, conforme dados do Ministério da Saúde, até o último sábado, 14, precisamos refletir: esse é o novo normal?
Na altura do campeonato parece óbvio dizer que a pandemia ainda não acabou e esperar que todos entendam. Mas é preciso repetir porque, pelo visto, uma das sequelas desse vírus é o esquecimento precoce: a pandemia ainda não acabou. Sim, a vacinação avança no país e conforme levantamento conjunto das Secretarias de Saúde, até o momento, 54,06% da população brasileira já recebeu a primeira dose. Em Minas Gerais, 52,24% também já receberam a primeira dose. Mas é importante ficar atento já que, apesar do avanço, apenas 22,81% dos mineiros estão totalmente imunizados. E, enquanto isso, essas e outras pessoas que não tiveram tempo de receber nem a primeira, continuam morrendo, além de muitas outras que não tiveram tempo de ver a primeira pessoa do país se imunizar.
Os dados estão lá. As perdas comprovam o nosso cenário. Em tese, sabemos que a situação não se resolveu. Mas porque, então, as pessoas estão relaxando? Com o avanço das variantes, incluindo a Delta, especialistas defendem revisão de flexibilizações. Em reportagem para a CNN Brasil, a epidemiologista Ethel Maciel explica que, por exemplo, Israel já está com 80% da população vacinada, mas segue com aumento expressivo de casos e internação. É preciso aprender com os outros países.
Aglomerações, sem uso de máscaras e, principalmente, ele não. O que move essa onda de irresponsabilidade geral?
Em 2003, o filósofo e historiador camaronês Achille Mbembe cunhou o termo necropolítica, afirmando que “a expressão máxima da soberania reside, em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer”. É nesse conceito que encaixamos a política de morte do desgoverno do Bolsonaro, caracterizado por medidas e discursos negacionistas.
No entanto, seguir justificando que a incompetência na condução da Covid-19 é única e responsabilidade do governo Bolsonaro ou é sintoma ou é má fé. “Sintoma porque, para uma parte da população, pode ser demasiado assustador aceitar a realidade de que o presidente escolheu disseminar o vírus”; e “má fé é compreender o que está acontecendo e, mesmo assim, seguir negando porque convém aos seus interesses, sejam eles quais forem”, argumenta Eliane Brum em sua coluna para a El País.
Mais doloroso do que ver e viver com a carga dos conservadores cristãos bolsonaristas, é ver gente como a gente, que declara estar do mesmo lado das trincheiras, agindo como age. Alternativo, vegetariano e democrático. Jovens se aglomeram irresponsavelmente. Mas o curioso é que esses mesmos jovens compartilham das ideias do lugar, são “alternativos”, conscientes, militam nas redes sociais e, inclusive, promovem e apoiam manifestações contra o governo atual. É um paradoxo. Não importa o seu posicionamento político. A verdade é que o negacionismo existe para todos os públicos. São esses jovens, que acordaram ontem e se disseram contra o governo atual, que querem tomar o poder? Porque a pandemia ainda não acabou e eles seguem do lado dos negacionistas.
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