sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Quem é Paulo Freire, segundo a mídia brasileira

Ana Laura Corrêa




Em 2021, o mundo se prepara para as comemorações do centenário de nascimento do pedagogo brasileiro Paulo Freire, um dos mais destacados brasileiros no mundo. De acordo com levantamento do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Paulo Freire é um dos filósofos do século XX mais lidos em todo o mundo. Ele é também autor da terceira obra de ciências sociais e humanas mais citada do mundo ‒ Pedagogia do Oprimido ‒, segundo a London School of Economics.


No Brasil, acadêmicos costumam reconhecer seu nome e sua estatura ‒ mas, nos últimos anos, Paulo Freire tem circulado nos grupos de apoiadores do movimento de extrema direita que venceu as eleições em 2018 ‒, sempre associado ao verbete “comunista” (como um xingamento, bem entendido).


Com tanta evidência e polêmica, era de se supor que a mídia brasileira voltasse o mínimo de atenção sobre sua trajetória, sua obra e suas ações.


Mas será que o educador tem esse espaço de destaque na mídia brasileira?


Pesquisamos, então, algumas notícias publicadas sobre Freire, para verificar o que os textos dizem sobre o autor e sua obra.



Três informações


Na matéria “Bolsonaro chama Paulo Freire de 'energúmeno' e diz que TV Escola 'deseduca'”, publicada pelo G1, há três informações sobre Freire: 1) a de que ele foi declarado o patrono da educação brasileira em 2012; 2) de que o educador desenvolveu uma estratégia de ensino baseada nas experiências de vida das pessoas, em especial na alfabetização de adultos; 3) e de que uma das obras do autor, "Pedagogia do Oprimido", é o único livro brasileiro a aparecer na lista dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa consideradas pelo projeto Open Syllabus.

Na sequência, o texto ainda afirma que a “metodologia de Paulo Freire vem sendo criticada por integrantes do governo Jair Bolsonaro, que atribuem ao método o baixo desempenho escolar do país em avaliações da qualidade da educação”. No entanto, não há muitos detalhes sobre o método para além da informação presente no parágrafo anterior, de que é “uma estratégia de ensino baseada nas experiências de vida das pessoas”. Vale ressaltar ainda, o que a reportagem não traz, que a metodologia é utilizada pontualmente em poucas escolas no país.


Textos repetidos

Outras duas matérias publicadas pelo G1 em 2019 ‒ Capes retira homenagem a Paulo Freire do nome de plataforma dedicada à formação de professores e Professores mostram livro de Paulo Freire ao tirar foto com ministro da Educação ‒, embora tenham sido divulgadas em meses diferentes (uma em maio e outra novembro), trazem um mesmo intertítulo sobre Paulo Freire, com três parágrafos iguais.

O primeiro parágrafo traz informações sobre o contexto onde foi desenvolvido inicialmente o método Paulo Freire. Já o segundo apresenta um breve resumo de nove linhas sobre essa metodologia; e o terceiro tem informações básicas sobre o autor.


O pensamento de Paulo Freire

Apesar da relevância intelectual e prática da obra de Paulo Freire, o educador recebe somente alguns poucos parágrafos na mídia brasileira.

 Por que não interessa à imprensa divulgar quem é o autor e qual o conteúdo de sua obra?

Cabe questionar, também, em tempos de ódio ao educador e sua obra, qual conhecimento as pessoas têm sobre Paulo Freire ‒ se é que têm ‒ e de onde vem esse conhecimento, afinal, a grande mídia não parece se interessar muito pelo assunto.

Os textos que encontramos sobre “Quem é Paulo Freire” estão presentes especialmente em veículos de mídia segmentados, voltados à educação, como Guia do Estudante e Brasil Escola.

Vale questionar ainda qual importância teria, nas notícias, um pesquisador brasileiro ‒ mas não progressista e nem das ciências humanas, e sim das exatas, biológicas ou naturais ‒ que tivesse a mesma relevância que Paulo Freire em todo o mundo. Acreditamos que a cobertura midiática seria outra.

Seja como for, é espantoso como tantos veículos de comunicação, que reivindicam sua importância e destaque em relação aos divulgadores de “fake news”, não se interessam pelo fenômeno. Mais uma vez, nós, do PLURIS, salientamos que falta à mídia levantar da cadeira e olhar para fora da janela para verificar se cai água do céu, em um momento quando uns dizem estar chovendo e outros que vivemos a pior seca.


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