Neste texto, o Pluris te convida a brincar de adivinhação. O que será que todos os eventos narrados têm em comum?
Por Maria Clara Ribeiro
Encontro com a CIA
Sem divulgação prévia, o chefe da Agência Central de Inteligência estadunidense (CIA) esteve em Brasília para reunião com o governo no dia 01 de julho deste ano. A visita do primeiro emissário do governo de Joe Biden, William Burns, foi mantida em sigilo até que o mesmo chegasse em terras brasileiras, quando anunciaram que seriam tratados temas de segurança regional, como o reforço de ofensiva anti-China.
Enquanto membros do governo comemoravam a agenda como sinal de cooperação, apesar de se demonstrar o contrário, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) cobrava informações sobre vinda do diretor da CIA ao Brasil.
A persistência da pauta em segredo já havia sido criticada oficialmente pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, em ofício direto ao Itamaraty, mas ganhou olhares através da exigência de Braga: “Intervenções desestabilizadoras no Brasil são de amplo conhecimento”. No requerimento, o deputado cita também o golpe militar, 1964, a espionagem contra Dilma Rousseff, 2013, e a Operação Lava Jato. Entretanto, apesar das cobranças e circulação do acontecimento, nenhuma medida foi tomada.
Falas sobre fraude
Após 25 anos de inserção de urnas eletrônicas nas eleições brasileiras, tidos como “consolidados”, o uso dessa tecnologia entrou em debate. A discussão e desconfiança foi liderada por Bolsonaro, acusando frequentemente que o modelo não seria confiável e alegando fraudes nas últimas eleições, em 2018 (sim, a que se elegeu).
Desta vez, com maior movimentação, convocou seus seguidores para uma apresentação de seus posicionamentos acerca do tema no dia 29 de julho. Diferente do que costuma fazer, apresentou argumentos falaciosos, já desmentidos previamente por especialistas de ambas posições políticas, como: “voto é inauditável”; eleito em primeiro turno; Aécio eleito em 2014; e falta de segurança no relatório oficial da Polícia Federal.
Mas, em meio a suas falas, afirmou não ter provas sobre fraude nas eleições, apenas indícios. Tem-se nítido que a ideia do atual presidente era (é), em caso de acusação de fraude no sistema eletrônico das urnas, os votos em papel pudessem retornar para que os votos pudessem ser apurados manualmente.
Nova visita: Conselho de Segurança Nacional dos EUA
Após um mês do “encontro surpresa”, no início de agosto (05), o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e sua comitiva desembarcaram em território brasileiro. A visita se justifica em discussões acerca das mudanças climáticas e as medidas combativas nacionais. Esta reunião foi inédita: a primeira vez que um representante direto da Casa Branca, do governo de Joe Biden, se encontrou com Jair Bolsonaro.
Além das reuniões com os governadores, houve conversa particular com Jair Bolsonaro e os ministros das Relações Exteriores e da Defesa. Seria uma postura de abertura com Bolsonaro? Não. A explicação é simples, haja vista que o atual presidente estadunidense não manteve nenhum discurso ou relação direta com o gestor brasileiro – situação que se prolonga desde os resultados da última eleição dos EUA.
Voto impresso
Em derrota ao desejo de Bolsonaro, a Câmara rejeitou e arquivou a PEC do voto impresso: para passar, o texto precisava de 308 votos, mas foram 229 favoráveis e 218 contrários. A votação encerra tramitação da proposta e mantém o formato atual de apuração – através das urnas eletrônicas. A PEC 135/2019 foi redigida pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e tem como relator o deputado Filipe Barros (PSL-PR), ambos integrantes da base governista atual.
Mas, ainda mais interessante, o Governo Bolsonaro liberou R$1 bilhão de emendas às vésperas da análise da PEC, liberando emendas individuais pelo mecanismo do 'cheque em branco'. Além disso, sem surpreender ninguém, após derrota do voto impresso, o presidente voltou a criticar Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e afirmar que eleição de 2022 não será confiável, rompendo compromisso feito com o presidente da Câmara - de que iria aceitar qualquer resultado legal, como em caso de a proposta ser rejeitada.
Encontro nos EUA; relatório da PF
Nos últimos dias, a mídia brasileira noticiou dois acontecimentos, esses sim, claramente articulados.
O deputado Federal Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente, pediu licença de seu cargo para (mais) uma visita aos EUA, onde se encontrou com Steve Bannon, personagem até pouco tempo obscuro, mas que ganhou notoriedade ao se revelar como o cérebro por trás da ascensão da extrema direita e nov fascismo em diversos países do mundo.
Bannon era o dono da empresa de análise profunda de dados Cambridge Analytica, que esteve por trás das eleições de Donald Trump e do movimento Brexit, de saída do Reino Unido da Comunidade Europeia. O poder e o alcance de manipulação de redes sociais pela Cambridge Analytica pode ser visto no documentário Privacidade hackeada, do NetFlix. E os planos de Bannon para o mundo podem ser visitados na impressionante pesquisa do etnólogo estadunidense Benjamin Teitelbaum, publicada no Brasil com o título de Guerra pela eternidade, pela Editora Unicamp.
Depois da visita, Steve Bannon declarou que iria atuar nas eleições brasileiras de 2022, chamada por ele de “a mais importante do mundo”, pois que teria em disputa o “maior comunista do mundo”, o ex-presidente Lula.
Dias depois, a mídia teve acesso a um relatório da Polícia Federal, enviado ao ao Tribunal Superior Eleitoral, segundo o qual canais bolsonaristas nas redes sociais atuam com o objetivo de “diminuir a fronteira entre o que é verdade e o que é mentira” e usam como estratégia ataques aos veículos tradicionais de informação (jornais, rádio, TV etc). Esse método também foi aplicado na campanha contra as urnas eletrônicas.
Segundo a PF, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro replicam uma estratégia de comunicação utilizada nas eleições de 2016 nos EUA, atribuída a Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, e também na eleição presidencial vencida por Bolsonaro em 2018.
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