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terça-feira, 27 de julho de 2021

Você tem deja-vu?


 A volta das fake news que elegeram Jair Bolsonaro

 Por Talita Brandão 


Foto reprodução: Bolsonaro durante a posse.


A eleição presidencial de 2018 foi marcada pela disseminação de fake news nas redes sociais, principalmente Whatsapp e Facebook. Além de falsas, essas notícias foram fundamentadas em espetáculos e seu intuito foi afetar e trazer medo a temas já fragilizados em nossa sociedade. 

Apoiadas no conservadorismo, essas desinformações aumentaram a popularidade de Bolsonaro e influenciaram os resultados nas urnas. Dentre as fake-news em alta em 2018 se encontrava o “Kit Gay”, a fraude no voto eletrônico, a legalização da pedofilia e conspirações sobre um Brasil Comunista.  

Em entrevista para a El Pais em 2018, Tai Nalon, diretora da agência de checagem Aos Fatos, explicou: “Vimos a desinformação contra os adversários de Bolsonaro aumentar, em geral em torno de duas temáticas: colocar em dúvida, com teorias conspiratórias, a segurança do voto eletrônico no Brasil, e uma constante relação dos outros candidatos com pautas das minorias, como a agenda LGBT e o direito ao aborto”.

Viu algo parecido nos últimos dias?

 Desde 2015 a Lupa, primeira plataforma de checagem brasileira, apura a veracidade de notícias com grande engajamento nas mídias sociais. Com a aproximação das eleições de 2022, a agência desmentiu diversas fake news já verificadas anteriormente que voltaram à tona nos últimos meses.

No dia 14 de julho deste ano, a agência checou pela segunda vez o vídeo da ex-candidata a deputada federal Naomi Yamaguchi pelo PSL sobre irregularidades nas eleições presidenciais de 2014. Em sua investigação, a própria Lupa diz a respeito do vídeo ter sua primeira viralização em 2018.

“O vídeo viralizou pela primeira vez em 2018, às vésperas das eleições presidenciais, e o conteúdo foi desmentido na época. Na última quarta (7), Bolsonaro mais uma vez falou que apresentaria provas de que houve fraudes nas eleições de 2014 e 2018. Depois das declarações do presidente, o vídeo de Naomi Yamaguchi voltou a circular. Até hoje, não há qualquer comprovação das supostas fraudes alegadas por Bolsonaro nas eleições de 2014 e 2018.”

Outro vídeo que voltou a circular em 2021 foi do livro “Aparelho Sexual e Cia''. Na filmagem é afirmado que o livro fazia parte de uma cartilha entregue nas escolas públicas, porém a obra nunca foi distribuída pelo Ministério da Educação. No dia 9 de julho a Lupa  desmentiu o fato. E assim como no caso das fraudes nas urnas explicou a volta dessa fake-news.

Reprodução foto: Bolsonaro durante a campanha de 2018 para a globo


“Em 2018, o livro foi o centro de pelo menos duas polêmicas provocadas pelo então candidato à presidência Jair Messias Bolsonaro. Em 28 de agosto daquele ano, Bolsonaro mostrou um exemplar durante entrevista ao Jornal Nacional e afirmou, sem provas, que a obra era parte de um “kit gay” e que tinha sido comprado pelo MEC para ser distribuído nas escolas públicas. Bolsonaro foi desmentido na época pelo próprio MEC e pela Companhia das Letras, editora pela qual o livro foi publicado no Brasil. Ainda em 2018, em outubro, o @tsejus determinou que fossem suspensos os links de sites e de redes sociais com a expressão “kit gay” usados pela campanha de Bolsonaro, à época candidato pelo PSL.”

Essas desinformações não são publicadas aleatoriamente. Como acompanhado pelo inquérito das fake news, elas são financiadas por grandes grupos econômicos e suas consequências já se mostraram graves pela eleição de Jair Bolsonaro em 2018. 

O que são as fake news

As notícias falsas impactam a opinião pública e influenciam os eleitores a partir de uma percepção distorcida da realidade. Usá-las como estratégia política é um instrumento contra a democracia brasileira.

A pesquisadora Liliana Bounegru, desenvolve análises sobre as fake news, ela é professora em Métodos Digitais no Departamento de Humanidades Digitais, King's College London e também cofundadora do Public Data Lab. Para ela as fake news não são apenas as notícias falsas em si, mas também toda a infraestrutura atual que facilita a circulação delas. Assim, mesmo os boatos existindo desde sempre, as fake news é um fenômeno atual e dependente do online.

Ao contrário de 2018, hoje as plataformas sociais apresentam dispositivos contra a disseminação das fake news. Porém há o temor de que tais ferramentas não sejam suficientes para evitar a disseminação dessas mensagens - pois, ainda que desmentidas depois, a partir do momento em que são difundidas elas já impactam diversos usuários.


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