Maria Clara Ribeiro
Dando continuidade à Série de textos que tentam elucidar a escalada de violência na Palestina, nesta semana o Pluris tenta elucidar as razões por que houve um aprofundamento da crise até o ponto de estarmos vivenciando uma verdadeira calamidade humanitária.
*
A não-resolução de antigos conflitos entre judeus e árabes, envolvendo regiões de Jerusalém e Faixa de Gaza, continuam exterminando vidas de ambos os grupos envolvidos, israelenses e palestinos. Especialistas caracterizam o conflito como “uma ferida aberta no coração do Oriente Médio”, pois, há mais de 100 anos, os grupos lutam para dominar as terras entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo.
Vale ressaltar que esses locais apresentam enorme importância para cristãos, judeus e mulçumanos, mas também avançam como símbolos nacionais de poder. Apesar de uma série de amplas derrotas aos palestinos, Israel ainda não pode de declarar dominante ou “vitorioso” enquanto durar o conflito, haja visto que nenhuma das partes e sua população estarão seguras. Além disso, o conflito se desenha com cada vez mais ataques a núcleos urbanos nos últimos 15 anos e o novo estopim de ataques consiste na interrelação de cinco fatos.
Foto: CNN
Dia de Jerusalém
O primeiro fator que impulsionou a nova escalada de ataques violentos foi o Dia de Jerusalém. Nessa data, marcada pela realização da Marcha da Bandeira, israelenses celebram a captura da parte oriental de Jerusalém por Israel, em 1967. É preciso destacar que o destino da Jerusalém Oriental está no centro do conflito israelense-palestino, pois ambas as partes reivindicam seu direito sobre a cidade. Além disso, o governo israelense considera a cidade inteira como sua capital, mesmo não reconhecida pela maioria da comunidade internacional, enquanto os palestinos a reivindicam como sua futura capital – como futuro Estado independente.
Possível despejo de famílias palestinas
O segundo episódio se dá pelas ameaças de despejo a famílias residentes em Sheikh Jarrah, um bairro palestino. A região se localiza na parte exterior dos muros da Cidade Velha, com vastas terras e propriedades reivindicadas por judeus israelenses. Apesar de parecer uma luta por terras, a disputa tem o objetivo de tornar Jerusalém mais judaica, ou seja, representa um esforço governamental para estabelecer uma comunidade mais hegemônica. Como estratégia, o governo alega violação ao direito internacional por meio da ocupação ilegal. A Suprema Corte de Israel realizaria uma audiência sobre o caso na última segunda-feira (10), mas a sessão foi adiada devido aos crescentes ataques.
Ramadã
O Ramadã é o nono mês do calendário islâmico e é considerado um período sagrado para os mulçumanos, muito dedicado ao jejum e cerimônias para buscar a renovação da fé. Entretanto, nas últimas semanas, houve restrições à entrada de palestinos à Cidade Velha – durante a celebração – e protestos de judeus nacionalistas, pedindo até “morte aos árabes”. A situação se agravou após a vigilância ameaçadora israelense nos centros religiosos, incluindo o uso injustificável de spray de pimenta e granadas de choque no interior da Mesquita de Al-Aqsa – um dos mais sagrados locais mulçumanos, atrás apenas de Meca e Medina.
Antes do início dos ataques, o Hamas -movimento islamita palestino - emitiu um ultimato para que Israel retirasse suas forças do complexo das Mesquitas e cessasse os ataques aos religiosos. Após persistência dos ataques, o grupo disparou foguetes contra Jerusalém. Seguindo esta tacada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, publicou em seu perfil que “As organizações terroristas em Gaza cruzaram a linha vermelha. Israel responderá com grande força” e, assim, iniciou-se o conflito armado direto.
A Faixa de Gaza permanece bloqueada por Israel, impedindo o acesso da população a mercadorias, água e medicamentos em geral. Segundo a sessão das Nações Unidas que atende os refugiados palestinos, as reservas de combustível podem esgotar-se a qualquer momento.
Indecisão política em Israel
A instabilidade política israelense é um fator importante na escalada do conflito. O governo permanece transitório e indefinido após a quarta eleição em dois anos. Em suma, o premiê Benjamin Netanyahu não conseguiu compor uma coalizão para assegurar a maioria no Parlamento, agora negociada por Yair Lapid, líder do Yesh Atid (partido centrista do país). Para isso, Lapid necessita apoio de Naftali Bennet, ultranacionalista do partido Yamina, que conta com sete deputados. Ambos arquitetam um Gabinete Nacional com alternância no posto de primeiro-ministro.
Disputa na Palestina
O estopim final ocorreu após a iniciação do conflito. A Palestina se preparava para realizar as primeiras eleições em 15 anos, no dia 22 de maio, quando Mahmoud Abbas, presidente da autoridade palestina, anunciou a interrupção do calendário até que toda a população dispusesse de condições para acompanhar o processo eleitoral. Entretanto, a decisão foi repudiada e tida como golpe e, consequentemente, elevou as tensões entre as duas facções políticas que dividem geograficamente os palestinos – Fatah (Cisjordânia) e Hamas (Faixa de Gaza). Abbas contatou o representante de Política Exterior da União Europeia, Josep Borrell, e com o rei da Jorndânia, Abdullah, pedindo solidariedade.
Foto: Brasil de Fato
Nenhum comentário:
Postar um comentário