Maria Clara Ribeiro
Dando continuidade à série especial sobre a questão Palestina-Israel e os recentes e violentos conflitos, nesta semana o Pluris procura dar uma dimensão sobre a tragédia humanitária em que se transformou a batalha e quais são as possíveis consequências, para a região e também para o restante do planeta, desses momentos tragicamente decisivos.
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O conflito acontece em duas perspectivas: cidades judaicas-árabes, principalmente em Israel e Tel Aviv, e a Faixa de Gaza, território palestino com dois milhões de habitantes sob controle israelense. As cidades começaram a ser alvo de ataques desde segunda-feira (10). Com alegações não surpreendentes, líderes de ambos os envolvidos alegam que as investidas são medidas de contra-ataque, mas este jogo acelera ainda mais a violência do conflito.
Após o processo de Paz de Oslo, em 1990, quando houve um breve momento de esperança de cessação e acordo, é necessário adquirir um novo olhar para este conflito: ambos os líderes travam suas batalhas a partir de interesses dominantes através de políticas internas, objetivando a manutenção de sua posição, enquanto a questão fundamental deveria ser o planejamento para obtenção da paz.
Foto: Agência Wafa
Potência dos ataques
Militares israelenses alegam que os ataques em Gaza são resposta ao atentado contra Jerusalém, quando mais de mil foguetes foram lançados contra a cidade (10/05). Em contrapartida, militantes palestinos justificam-se pela destruição israelense a moradias civis, quando um ataque aéreo demoliu um prédio de treze andares em Gaza e deixou 20 mortos (11/05). Como nova resposta, 200 foguetes foram lançados contra Tel Aviv e Beershba.
No início dos conflitos, houve explosão decorrente de um projétil em um complexo residencial, resultando em cinco feridos. Em seguida, a aviação israelense bombardeou parte do grupo Hamas, usando 80 aviões de guerra F-35. O ataque contou com a alegação de espionagem e descoberta da residência de inimigos do Estado israelense - logo depois, a morte do comandante militar do grupo rival foi confirmada pelo serviço de inteligência do governo.
Na última quinta-feira (13), as Forças de Defesa israelense anunciaram novo ataque solo. Apesar de afirmarem que não houve operação em Gaza, fontes militares confirmam que o governo bombardeou a região mais de 600 vezes desde o início dos conflitos. Em contra-ataque, movimentos palestinos laçaram mais de 1.600 foguetes em território israelense.
No mesmo dia, Benny Gantz, Ministro de Defesa de Israel, ordenou mobilização das forças de segurança nacional para regiões urbanas com grande concentração de palestinos, alegando o combate à violência interna. Além disso, Gantz demonstrou interesse em convocar militares da reserva da Guarda de Fronteira, operando na Cisjordânia. A Associated Press, agência global independente, informa que mais de nove mil oficiais já foram convocados.
Apesar do aparente recuo de ataques, a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, ainda recebe ataques mobilizados por militantes de extrema-direita. O local é tido como o mais sagrado do Judaísmo e o 3º mais sagrado do Islamismo. O alvo dos conflitos são, principalmente, as forças de segurança e cidadãos israelenses.
O exército de Israel retomou os ataques à Gaza na madrugada desta segunda-feira (17), quando um intenso bombardeio provocou a destruição de dezenas de edifícios residenciais e corte de energia elétrica em questão de minutos. As autoridades locais ainda não divulgaram o novo balanço de vítimas.
Violência em números
O número de palestinos mortos nos conflitos em Gaza já totaliza 197, segundo o ministério da Saúde da Faixa de Gaza, região liderada pelo movimento Hamas. Dentre estes, 58 são crianças ou menores de idade. Do lado israelense, são 10 mortos, incluindo uma criança. Além disso, os bombardeios já deixaram mais de 1.200 feridos de ambas as partes, sendo 294 em Israel.
Mas por que os números israelenses são tão discrepantes? Apesar de também receber intensos ataques, Israel conta com seu Domo de Ferro, poderoso escudo antimíssil. Como exemplo, sabe-se que dos cerca de 1.050 mísseis e morteiros disparados nos primeiros dias, 850 foram interceptados pelo sistema, destruindo os mesmos no ar e impedindo que caiam em áreas civis. Mas, até o momento, calcula-se que cerca de 4 mil projéteis tenham sido lançados, por ambas as partes, desde o início das hostilidades.
Foto: AFP
Internacionalização do conflito
A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Liga Árabe condenaram a escalada de violência e, em comunicado da Comissão de Direitos Humanos, afirmou que "as forças de segurança de Israel devem permitir e garantir o direito dos palestinos à liberdade de expressão, associação e reunião". Da mesma forma, o chefe da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, alegou que "a violação de Jerusalém por Israel e a tolerância do governo com os extremistas judeus que são hostis aos palestinos e árabes é o que está inflamando a situação dessa maneira perigosa".
Após intensificação dos conflitos, o Conselho de Segurança da ONU realizará a terceira reunião sobre a questão em menos de sete dias. Nos encontros anteriores, representantes dos Estados Membros não aceitaram o envio de declaração oficial pedindo o cessar dos ataques, considerando uma ação contraproducente, isto é, quando há grandes riscos de se produzir ações opostas ao esperado.
Os governos cubano, venezuelano, russo e iraniano repudiaram os ataques promovidos por Tel Aviv por meio das suas chancelarias. Além disso, especialistas pediram aos EUA que possam estimular “a igualdade total e o direito de voto para todos os que residem no território sob controle israelense” e que “não devem apoiar dois sistemas separados e desiguais”. Como consequência, parte da população dos Estados Unidos se juntou à Holanda, Inglaterra, Kuwait e África do Sul, onde milhares de pessoas realizaram protestos exigindo o fim da violência contra a Palestina.
Como consequência, nesta semana, fontes diplomáticas de Washington enviaram um emissário às regiões para negociar o desaceleramento do conflito. Entretanto, o presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, apresentou uma postura omissa aos ataques israelenses e surpreendeu apoiadores ao fazer menções curtas e faltosas. Em contrapartida, representantes de Moscou solicitaram encontro do Quarteto para o Oriente Médio, grupo composto pela Rússia, EUA, União Europeia e ONU.
Perspectiva sobre a Covid-19
Nas últimas semanas, o sistema de saúde de Gaza já travava batalha contra o aumento descontrolado de casos de coronavírus, sendo necessário o esvaziamento dos quartos, suspensão de atendimentos básicos e cancelamento de cirurgias para o redirecionamento dos profissionais de saúde, médicos, enfermeiros e técnicos, para auxiliar os inúmeros pacientes com dificuldade respiratória. Em meio a este caos, os bombardeios começaram e atingiram a concentrada área residencial dos palestinos. Assim, os profissionais se esforçam para salvar os infectados pela Covid-19 e vítimas atingidas por explosões, desabamentos e estilhaços, sendo necessários a reatividade de procedimentos cirúrgicos, principalmente para amputações.
Foto: Agência Wafa
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