Por Camila Machado
O Big Brother Brasil 21 causou raiva e revolta em muitos telespectadores do reality show da Rede Globo. A rapper eliminada Karol Conká, cujas falas contra nordestinos e visões preconceituosas e desconexas sobre modos de ser das pessoas pretas geraram uma forte rejeição. Conká mostrou no pouco tempo em que esteve no programa que os ‘canceladores’ também podem ser ‘cancelados’. O termo cancelar – usado nas mídias sociais para repudiar uma atitude negativa de algum famoso – tomou uma grande proporção diante das atitudes problemáticas da rapper, a “internet” se emprenhou em tirá-la do programa e assim foi feito. Karol saiu com 99,17% de rejeição. Muitas são as perspectivas de análise desse caso, mas chamo a atenção para a questão racial que envolveu a participação e repercussão da Karol no reality.
Vários internautas, anônimos e intelectuais, foram às redes sociais manifestar sua preocupação quanto aos efeitos que as atitudes desses influenciadores estão tendo sobre a compreensão da questão racial pelo público. Vários intelectuais pensavam que a atuação de Karol Conká causaria um grande dano aos esforços do movimento negro nos últimos anos. E certamente causou, embora tal edição do programa tenha sido a que mais teve participantes negros e uma das que mais discutidas na casa é sobre questões raciais e envolvendo minorias.
Mas, não podemos nos esquecer das vezes em que a identidade racial de algumas pessoas da casa foi questionada, como o economista Gilberto que sofreu piadas quando disse que se considerava negro. Acusações e julgamentos sempre acompanharam a história do reality e isso não está sendo diferente agora. A participante Lumena virou meme por “fazer militância errada" e foi acusada de ser hipócrita e incoerente diversas vezes como quando questionou a sexualidade de um participante que se assumiu bissexual, embora falasse o tempo todo sobre direitos LGBTQIA+. O problema não se encontra nas críticas feitas aos participantes, mas sim na generalização das atitudes, vistas como erradas, dos participantes como se fossem representativas do movimento negro (que é formado por muitos grupos e inúmeras entidades). É preciso ter em mente que eles estão ali representando a si mesmos e não um movimento, embora muitas vezes a linha tênue que separa esses dois campos se rompa. A problematização se encontra no fato de que as pessoas pretas, principalmente as que são figuras públicas, tendem a ter seus erros coletivizados, como se sempre estivessem agindo como ativistas, como parte de um movimento.
A forma como a questão racial é apresentada ao público também é algo a ser discutido. Tudo no reality responde a um critério de consumo fácil e efêmero. Nada precisa perdurar. As opiniões sobre desconstrução das imagens raciais são sempre diretas, superficiais e às vezes até brutais. Tudo isso acaba por banalizar temas de extrema importância e que deveriam ser tratados de forma séria e não como "polêmica". As ofensas contra nordestinos, pretos e mulheres ditas no programa são sempre apresentadas de forma suscetível a se perder com o tempo, esvaziando pautas importantes e discussões necessárias.
A pergunta que fica é se a representatividade negra e as outras múltiplas pautas “levantadas” no programa estavam melhor vistas antes do BBB21 ou ficaram piores no imaginário nacional? Mas, uma coisa se mostrou evidente como aponta Serge Katembera, doutorando em Sociologia pela UFPB: “Seja na política ou no BBB, a falta de pudor precisa sempre estar acompanhada de um certo glamour”.
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