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sexta-feira, 2 de abril de 2021

A saúde como mercadoria

  Por Ana Laura Corrêa            


Com a piora da pandemia de coronavírus, reapareceram, especialmente nas redes sociais, os defensores do uso de cloroquina, azitromicina, ivermectina ‒ remédios que já demonstraram ser ineficazes no tratamento contra covid.

Brasil DeFato

Apenas este fato ‒ aliado à existência de vacinas, que são comprovadamente eficazes contra casos graves e mortes por coronavírus ‒ deveria ser o suficiente para acabar de vez com qualquer possibilidade de se falar dessa tríade ineficaz contra a doença.

No entanto, por alguma razão ainda desconhecida, o assunto voltou.

Um problema de denominação

Fonte: Poder 360

A própria mídia, mesmo diante das comprovações científicas de que os medicamentos são inúteis para casos de coronavírus, continua a denominar a tríade de “tratamento precoce” ‒ às vezes até utiliza aspas, com o intuito de tentar indicar certa discordância em relação à expressão. Não seria o caso, no entanto, de deixar de utilizar os termos, para evitar a confusão? Por que continuar chamando algo por aquilo que, efetivamente, não é?


Livre mercado

Em um grupo de WhatsApp de Divinópolis, cuja descrição é “Pessoas unidas para salvar vidas destinado à saúde e pandemias”, intitulado “Combate ao COVID19 MG/DIV”, as conversas sobre o tema voltaram a ser recorrentes, com defensores da medicação ineficaz e também pessoas contrárias.


Entre os defensores, algumas falas chamaram atenção. Destacamos duas.
  1. “Quem não acredita não use! Apenas não impeçam quem quer usar! Simples assim... O médico tem que ter liberdade de prescrever o que achar melhor, explicando ao paciente os riscos e opções e o paciente tem que ter a liberdade de se tratar como julgar melhor, sempre de acordo com a prescrição de um médico.
  2. Mesmo com os resultados científicos, uma suposta liberdade individual se sobrepõe a tudo isso. O discurso utilizado pelos defensores lembra o liberalismo (neste caso, aplicado à saúde), em que prevalece a iniciativa individual, em que as empresas (neste caso, os médicos?) são livres para agir, sem regulamentação por parte do Estado (que seria a ciência?). Nesse sentido, os defensores dos medicamentos ineficazes são como clientes/consumidores: querem um produto, uma solução imediata, e não podem ser impedidos, afinal, “estão pagando”.

O problema é que o assunto, neste caso, não é economia (mesmo se fosse...), mas a saúde de muitas pessoas, que podem estar sendo enganadas com essa balela e expostas aos riscos que a medicação traz.

Saúde pública não é uma questão individual, de “liberdades”. Há estudos, comprovações, pesquisadores… A suposta “liberdade” de um médico não pode se sobrepor à ciência.

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