Por Ana Laura Corrêa Campus da Uemg em Divinópolis (Foto: Divulgação/Uemg)
Quem acompanhou os debates das últimas eleições em Divinópolis viu que um dos temas tratados com frequência foi a “fuga de cérebros” de estudantes que se formam em universidades na cidade mas não encontram espaço no mercado de trabalho por aqui.
Muita gente nem mesmo deve saber que existem no município, além das particulares, três universidades públicas ‒ Cefet, Uemg e UFSJ ‒, com mais de 20 cursos superiores gratuitos e de qualidade. Isso acontece porque essas instituições poderiam estar muito mais presentes nas agendas dos meios de comunicação, tendo em vista todos os projetos, pesquisas e eventos desenvolvidos que poderiam ser expostos à sociedade.
Na Uemg, por exemplo, há mais de 50 projetos diretamente ligados à comunidade divinopolitana sendo desenvolvidos neste ano. Quais são? Quem pode participar - isto é: a comunidade é apenas “paciente” ou também agente desses projetos? Esses trabalhos geralmente devem ser apresentados em congressos acadêmicos. Por que não exigir a divulgação também à sociedade, como uma prestação de contas?
Como exemplo, observemos a cobertura jornalística sobre o coronavírus: se resume principalmente aos boletins divulgados pela prefeitura todos os dias. Isso enquanto temos aqui cursos de medicina, farmácia e química, que poderiam trazer importantes pautas que são deixadas de lado pelos meios de comunicação ‒ sem falar em vários outros cursos que têm desenvolvido projetos relacionados à pandemia.
Não é de hoje que a comunidade científica e universitária têm clareza sobre a necessidade de uma divulgação científica para a sobrevivência da própria ciência. E, nos últimos anos, com o avanço de um pensamento hostil à verdade científica, fazer circular as contribuições das ciências para a sociedade pode significar a sobrevivência da civilização.
Claro que essa exposição deve ser feita em uma linguagem traduzida para o grande público, afinal, termos técnicos que às vezes são tão utilizados no cotidiano da universidade, como “curso de extensão", podem ser incompreendidos até mesmo pelos próprios estudantes. É preciso mostrar o que é ciência e também que a cidade tem vários jovens e adultos cientistas, de diferentes áreas do conhecimento, trazendo a ciência para mais perto do cotidiano das pessoas.
Precisamos, é claro, levar em consideração o sucateamento ao qual essas instituições são submetidas: com poucos professores e funcionários, com baixa remuneração e muita demanda ‒ é difícil encontrar tempo para falar com a mídia, é difícil encontrar as palavras certas para se fazer entender sem perder a essência do que foi feito. E as empresas de comunicação, também enfrentando problemas para sua manutenção, muitas vezes não vão atrás.
Enquanto isso, as universidades particulares da cidade, mesmo que tenham menos vocação para a pesquisa do que as públicas, divulgam com frequência projetos, atendimentos ao público ‒ e até pagam às empresas de jornalismo para que a publicação de matérias ocorra.
Apesar de todas essas dificuldades existentes nas instituições públicas, sair do muro (ou do pedestal?) da academia é um exercício necessário para, quem sabe, aumentar o seu reconhecimento e valorização pelos moradores da cidade. Talvez assim, aqui no nosso quintal, comece a tarefa de luta contra o obscurantismo e as notícias falsas ‒ incluindo aquela de que estudante de universidade pública “não estuda, só fuma maconha”. Há muito o que se mostrar do que é tão bem feito, com tão pouco recurso.
Então se, sim, as instituições públicas, que comumente são as que produzem ciência no Brasil, têm sua parcela de culpa na distância entre elas e a sociedade, é preciso questionar: quando as organizações midiáticas assumirão sua responsabilidade social e deixarão de pensar apenas em ganhos financeiros - que se mostram, no fim das contas, muito relativos? Quando os profissionais de comunicação assumirão sua parcela na necessidade de qualificar a informação circulante na sociedade?
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
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