Ana Laura Corrêa
A realização das provas do Enem nos dias 17 e 24 de janeiro, em meio à alta dos casos de coronavírus no Brasil, fez com que entidades, movimentos, políticos, pais, alunos e professores pedissem o adiamento do exame. O que não aconteceu.
Já falamos aqui no Observatório Pluris sobre a Agência Brasil, único veículo de comunicação pública no país, mas que tem sido submetido às pressões do atual governo.
Assim, fomos verificar a cobertura do site sobre o Enem, observando as notícias publicadas em janeiro relacionadas ao exame:
TV Brasil e Agência Brasil transmitirão aulões da Maratona Enem
Justiça Federal de São Paulo nega novo adiamento do Enem 2020
Professores dão dicas para lidar com a ansiedade às vésperas do Enem
Inep antecipa em meia hora o acesso aos locais de provas do Enem
Enem terá regras para evitar contágio pelo novo coronavírus
Defensoria Pública da União pede adiamento do Enem 2020
Candidatos do Enem lidam com internet precária e estudos pelo celular
Inep divulga cartão de confirmação com local de prova do Enem 2020
Plataformas online gratuitas podem ajudar na preparação para o Enem
A leitura que se faz, a partir dos títulos, é de que não parece que o exame será realizado em meio a uma pandemia - a não ser por uma notícia que menciona apenas o pedido da Defensoria Pública da União (e as outras solicitações? Principalmente as dos alunos!) para que as provas sejam adiadas e outra matéria que, em resposta, cita que o Enem não será adiado.
Uma das matérias publicadas pela Agência Brasil sobre o Enem (Foto: Reprodução) |
Fora isso, todo o movimento pela mudança da data da prova não recebeu destaque nas matérias. Basta uma rápida busca no Google para verificar, em outros veículos, diversas reportagens sobre os vários pedidos de adiamento:
Correio Braziliense: UNE e Ubes vão pedir o adiamento do Enem na Justiça
Metrópoles: MPF pede à Justiça adiamento da aplicação do Enem no Amazonas
Estado de Minas: Duda Salabert e PDT vão à Justiça pelo adiamento do Enem
Yahoo!: Estudantes pedem novo adiamento do Enem; MEC nega
Istoé Dinheiro: Estudantes pedem novo adiamento do Enem em meio ao avanço da pandemia no Brasil
UOL: Estudantes pedem adiamento do Enem por risco de contágio da Covid-19
G1: Enem 2020: secretários estaduais de Saúde pedem ao ministro da Educação que a prova seja adiada
Sem dar qualquer destaque, nos títulos, aos pedidos de estudantes - principais envolvidos no exame -, as notícias da Agência Brasil, em sua maioria:
- divulgam apenas os “trâmites” normais do exame (divulgação dos cartões de confirmação);
- destacam as medidas de segurança para a realização das provas (“Inep antecipa em meia hora o acesso aos locais de provas do Enem” e “Enem terá regras para evitar contágio pelo novo coronavírus”);
- orientam estudantes (“TV Brasil e Agência Brasil transmitirão aulões da Maratona Enem”, “Professores dão dicas para lidar com a ansiedade às vésperas do Enem” e “Plataformas online gratuitas podem ajudar na preparação para o Enem”).
Essas três últimas matérias, aliás, publicadas na semana anterior ao exame (que, sabe-se, exige uma preparação bastante antecipada) parecem tentar tirar o foco da situação, voltando o destaque aos auxílios disponibilizados aos estudantes. Assim, mais uma vez, a Agência Brasil deixa de lado seu caráter público.
Para não ficar só nos títulos…
Verificamos também os textos completos das matérias. Além das duas que se relacionam com o adiamento pelo título, outras duas citam ao longo do texto os pedidos de adiamento (“Inep antecipa em meia hora o acesso aos locais de provas do Enem” e “Enem terá regras para evitar contágio pelo novo coronavírus”), mas que aparecem como informações secundárias. E, na pirâmide invertida do jornalismo, o que é mais importante vem primeiro, logo, a discussão ficou em segundo plano.
Silêncios que dizem
Se a Agência Brasil mal falou sobre os pedidos de adiamento do exame, não precisamos nem dizer que não houve qualquer publicação sobre a morte do diretor responsável pelo Enem, general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, por covid.
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