Ana Laura Corrêa
Gleidson Azevedo assumiu a Prefeitura de Divinópolis em 1º de janeiro. Assim como o irmão, o deputado estadual Cleitinho Azevedo, Gleidson vem se tornando conhecido pelos vídeos publicados em suas redes sociais. Até o dia 16 de janeiro, por exemplo, 19 publicações já haviam sido feitas pelo prefeito em sua página no Instagram.
A quantidade de postagens nas redes sociais corre o risco de transformar a cobertura jornalística das ações da Prefeitura, feita pelos veículos de comunicação da cidade, em uma simples cobertura das publicações do Instagram, com matérias do tipo “Em vídeo, Gleidson diz que…”.
Assim, o que se tem é uma cobertura sobre os vídeos do prefeito, e não sobre os fatos em si. Tal como fez o Estado de Minas - em notícia republicada do Portal Gerais, de Divinópolis - que, em vez de destacar a problemática em torno dos elevadores e veículos exclusivos para o prefeito, fez uma descrição detalhada do vídeo publicado pelo chefe do Executivo, veja na matéria "Prefeito de Divinópolis revela elevador privativo e 'mordomias'; veja vídeo".
Vídeo do prefeito virou matéria no Estado de Minas (Foto: Reprodução) |
Ou, ainda, o Sistema MPA que, como veículo jornalístico, reproduziu uma crítica do prefeito direcionada à própria mídia, feita, é claro, em um vídeo, na matéria "Prefeito Gleidson questiona mídia e aproveita para fazer balanço da primeira semana". As regras dos textos jornalísticos dizem que os temas mais importantes devem vir no primeiro parágrafo das matérias. No caso da notícia do Sistema MPA, o texto já se inicia com “O prefeito Gleidson Azevedo divulgou um vídeo…”. Será esse o fato mais importante? Será o conteúdo do vídeo um conteúdo importante ao ponto de merecer uma matéria?
Também o Jornal Agora destacou na matéria "Prefeito de Divinópolis remove radar na avenida JK" o vídeo em que o prefeito retira “com as próprias mãos” um radar na avenida JK. A matéria feita não traz o posicionamento da Secretaria de Trânsito, principal fonte sobre o assunto - afinal, por que aquele radar foi colocado ali? - mas se detém à descrição do vídeo.
Todos os três textos trazem pelo menos trechos dos vídeos publicados por Gleidson Azevedo que motivam as matérias.
Mas somos jornalistas ou assessores do prefeito? Parece haver uma confusão quanto à função do jornalismo.
Repórteres e jornalistas muitas vezes se orgulham em dizer que são o “quarto poder”, que são “fiscalizadores da política”. No entanto, matérias desse tipo parecem apenas uma assessoria de comunicação das ações do prefeito, que, vale ressaltar, tem funcionários e assessores remunerados (aliás: esses assessores, como servidores públicos, são assessores do governo ou da Prefeitura, da máquina político-administrativa, com a finalidade de cuidar da coisa pública? Mas esse é um tema para outro texto...) à sua disposição, enquanto jornalistas dos veículos de comunicação da cidade geralmente enfrentam trabalhos precários.
Com certeza há temas mais importantes para o jornalismo do que divulgar populismos, polêmicas propositais ou que tais - ou, então, que se traga pelo menos uma perspectiva crítica em matérias desse tipo. Que deixemos o restante para as páginas pessoais dele nas redes sociais.
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